Putin anima os ucranianos a desertarem e marchar para a Rússia
Pilar Bonet - El PaísO presidente russo, Vladimir Putin, exortou ontem os cidadãos da Ucrânia a desertarem da mobilização bélica e buscar abrigo temporário na Rússia. Para tanto, apontou a possibilidade de que seja prolongado o prazo de permanência legal em território da Federação Russa para "alguns grupos de pessoas, sobretudo as em idade militar". Segundo legislação aprovada recentemente, os ucranianos podem permanecer na Rússia durante 30 dias seguidos.
Diante de jovens universitários em São
Petersburgo, Putin qualificou o exército da Ucrânia de "legião
estrangeira da Otan", que "não defende os interesses nacionais da
Ucrânia", mas tenta "alcançar os fins geopolíticos de conter a Rússia", o
que "não coincide em absoluto com os interesses nacionais do povo da
Ucrânia".
O presidente incitou os cidadãos do país vizinho a não se deixarem utilizar como "carne de canhão" por seus dirigentes. Em 20 de janeiro a Ucrânia anunciou a quarta mobilização militar desde o início dos confrontos bélicos no leste. Segundo os planos governamentais, em um ano deverão ser chamadas às fileiras 104 mil pessoas entre 18 e 60 anos. O número de mortos no conflito do leste já passa de 5 mil, segundo dados da ONU, anteriores aos combates da semana passada.
Em resposta a Putin, o secretário-geral da aliança atlântica, Jens Stoltenberg, declarou que as únicas forças armadas não ucranianas existentes naquele país são as russas. "O problema é exatamente que na Ucrânia estão as forças armadas russas e que a Federação Russa apoia com equipamento os separatistas", afirmou o alto funcionário em Bruxelas, segundo a agência Liga.net. Os ministros das Relações Exteriores da UE se reunirão nesta quinta-feira em Bruxelas para decidir sua posição diante da escalada violenta na Ucrânia.
Apesar de os separatistas do leste da Ucrânia possuírem grandes contingentes de caminhões e carros blindados (sem sinais de identificação, como os que atuaram na anexação russa da Crimeia), e apesar dos testemunhos de defensores de direitos humanos e de jornalistas, Moscou nega ter unidades militares regulares na Ucrânia e insiste em que os cidadãos russos que ali lutam o fazem por conta própria. O maciço ataque de artilharia contra civis em Mariupol no último sábado (30 mortos e mais de cem feridos, 12 deles gravemente) elevou a tensão a um novo nível qualitativo. Os especialistas da OSCE concluíram que o ataque ocorreu de posições controladas pelos insurgentes. O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, declarou ontem o estado de exceção em Donetsk e Lugansk.
Por outro lado, na Crimeia, o canal de televisão ATR, que transmite sobretudo em língua tártara, teve que interromper sua difusão ontem ao ser objeto de uma grande batida, durante a qual policiais armados apreenderam seus equipamentos. Segundo o Comitê de Investigação da Rússia, a revista se enquadra em uma investigação pela morte de dois habitantes da Crimeia em um comício junto ao Parlamento local em 26 de fevereiro de 2014. "Querem nos acusar de ocultar informação relevante, mas temo que a verdadeira razão da batida é que querem fechar nosso canal", disse Lilia Bushueva, a subdiretora da emissora, por telefone de Simferopol.
Alguns relacionam a batida com as recentes declarações de Igor Strelkov, o coronel do Serviço de Segurança da Rússia (na reserva) que participou da operação da Crimeia e posteriormente dirigiu a guerrilha separatista em Donetsk. Strelkov reconheceu que foi "um dos comandantes" dos insurgentes que "haviam reunido os deputados [do Parlamento da Crimeia] com o objetivo de aprovar" as decisões que levaram a um plebiscito com o qual a Rússia justificou a anexação. Alguns deputados da oposição haviam revelado já em fevereiro que a votação parlamentar foi truculenta e que foram contabilizados como eleitores alguns que estavam ausentes. Strelkov, que disse ter estado na Crimeia desde 21 de fevereiro, afirmou ter visto tudo "de dentro" do Parlamento.
A guerra na Ucrânia está produzindo uma "desumanização" que lembra ao especialista Serguei Markedonov a guerra dos Bálcãs. Aqueles acontecimentos foram "monstruosos" devido à "galopante desumanização da figura do inimigo. E a Ucrânia agora dá muitos exemplos do mesmo", escreve em sua página do Facebook.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
O presidente incitou os cidadãos do país vizinho a não se deixarem utilizar como "carne de canhão" por seus dirigentes. Em 20 de janeiro a Ucrânia anunciou a quarta mobilização militar desde o início dos confrontos bélicos no leste. Segundo os planos governamentais, em um ano deverão ser chamadas às fileiras 104 mil pessoas entre 18 e 60 anos. O número de mortos no conflito do leste já passa de 5 mil, segundo dados da ONU, anteriores aos combates da semana passada.
Em resposta a Putin, o secretário-geral da aliança atlântica, Jens Stoltenberg, declarou que as únicas forças armadas não ucranianas existentes naquele país são as russas. "O problema é exatamente que na Ucrânia estão as forças armadas russas e que a Federação Russa apoia com equipamento os separatistas", afirmou o alto funcionário em Bruxelas, segundo a agência Liga.net. Os ministros das Relações Exteriores da UE se reunirão nesta quinta-feira em Bruxelas para decidir sua posição diante da escalada violenta na Ucrânia.
Apesar de os separatistas do leste da Ucrânia possuírem grandes contingentes de caminhões e carros blindados (sem sinais de identificação, como os que atuaram na anexação russa da Crimeia), e apesar dos testemunhos de defensores de direitos humanos e de jornalistas, Moscou nega ter unidades militares regulares na Ucrânia e insiste em que os cidadãos russos que ali lutam o fazem por conta própria. O maciço ataque de artilharia contra civis em Mariupol no último sábado (30 mortos e mais de cem feridos, 12 deles gravemente) elevou a tensão a um novo nível qualitativo. Os especialistas da OSCE concluíram que o ataque ocorreu de posições controladas pelos insurgentes. O primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, declarou ontem o estado de exceção em Donetsk e Lugansk.
Por outro lado, na Crimeia, o canal de televisão ATR, que transmite sobretudo em língua tártara, teve que interromper sua difusão ontem ao ser objeto de uma grande batida, durante a qual policiais armados apreenderam seus equipamentos. Segundo o Comitê de Investigação da Rússia, a revista se enquadra em uma investigação pela morte de dois habitantes da Crimeia em um comício junto ao Parlamento local em 26 de fevereiro de 2014. "Querem nos acusar de ocultar informação relevante, mas temo que a verdadeira razão da batida é que querem fechar nosso canal", disse Lilia Bushueva, a subdiretora da emissora, por telefone de Simferopol.
Alguns relacionam a batida com as recentes declarações de Igor Strelkov, o coronel do Serviço de Segurança da Rússia (na reserva) que participou da operação da Crimeia e posteriormente dirigiu a guerrilha separatista em Donetsk. Strelkov reconheceu que foi "um dos comandantes" dos insurgentes que "haviam reunido os deputados [do Parlamento da Crimeia] com o objetivo de aprovar" as decisões que levaram a um plebiscito com o qual a Rússia justificou a anexação. Alguns deputados da oposição haviam revelado já em fevereiro que a votação parlamentar foi truculenta e que foram contabilizados como eleitores alguns que estavam ausentes. Strelkov, que disse ter estado na Crimeia desde 21 de fevereiro, afirmou ter visto tudo "de dentro" do Parlamento.
A guerra na Ucrânia está produzindo uma "desumanização" que lembra ao especialista Serguei Markedonov a guerra dos Bálcãs. Aqueles acontecimentos foram "monstruosos" devido à "galopante desumanização da figura do inimigo. E a Ucrânia agora dá muitos exemplos do mesmo", escreve em sua página do Facebook.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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