Brasil 'abandona' ponte construída com França
Parte brasileira da obra de R$ 61 mi que liga o Amapá à Guiana Francesa não foi concluída
LUCAS REIS - FSP
Apenas 378 metros separam o Brasil da França. Mas este trajeto entre o
Amapá e a Guiana Francesa, território ultramarino do país europeu, virou
um percurso problemático que já dura 18 anos.
Idealizada em 1997 pelos então presidentes Fernando Henrique Cardoso e
Jacques Chirac, a ponte binacional que liga a América do Sul à UE (União
Europeia), sobre o rio Oiapoque, está concluída desde 2011, mas não tem
previsão de inauguração.
Única ligação terrestre entre as cidades de Oiapoque (AP) e Saint
Georges de l'Oyapock, na Guiana Francesa, o traçado não foi liberado
porque o Brasil ainda não cumpriu sua parte: concluir as obras da aduana
e a ligação da rodovia BR-156 até a obra.
A ponte estaiada mede 378 metros, custou R$ 61 milhões, divididos entre
os dois países, e está pronta desde junho de 2011, mesma época em que a
França concluiu toda a estrutura viária e aduaneira do seu lado da
fronteira.
Ainda em 2011, os franceses concluíram a rodovia de quase 200 km que ligou Saint Georges à capital Caiena.
Além das obras da fronteira brasileira, que incluem postos de Polícia
Rodoviária Federal, Polícia Federal, Ibama e Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária), orçadas em cerca de R$ 13 milhões, os dois
países ainda precisam ratificar acordo relativo ao transporte terrestre
de pessoas e mercadorias.
"Eles precisam muito mais de nós que nós deles. A Guiana Francesa não
dispõe de agricultura e pecuária, por exemplo. Será um grande corredor
comercial, com acesso à UE", diz Alcir Figueira Matos, diretor da
Agência de Desenvolvimento do Amapá.
O governo federal chegou a agendar uma data de inauguração, no final de
2013, com presença da presidente Dilma Rousseff, mas recuou.
Enquanto isso, os brasileiros que se aventuram até a Guiana Francesa --a
maioria em busca de trabalho na mineração-- utilizam barcos para vencer
o rio Oiapoque. O caminho inverso, porém, tem sido feito pela própria
ponte, pois o posto aduaneiro da Guiana já funciona.
A exigência de seguro dos veículos que chegam à Guiana Francesa e do
visto de entrada, ambos em vigor, são pontos ainda em debate. A invasão
de imigrantes ilegais via Amapá é, há alguns anos, uma das principais
preocupações do governo francês.
O governo do Amapá afirma que, com otimismo, a ponte poderá ser inaugurada até o final deste ano, mas evita estipular uma data.
Em nota, a embaixada francesa no Brasil minimizou o imbróglio, mas
reforçou que o país fez sua parte e que os recursos humanos já foram até
recrutados para o local.
"As autoridades francesas em Paris, em Caiena e em Brasília trabalham em
estreita cooperação com as instituições brasileiras competentes para
resolver as últimas pendências e permitir, em breve, a inauguração da
ponte sobre o Oiapoque", afirma a nota.
Responsável pelas obras da aduana e da ligação da rodovia até a ponte, o
Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) não
respondeu à reportagem.
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