quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Eclipse em março reduzirá energia solar na Europa; redes se preparam
Manuel Planelles - El País 
Operadoras da Europa se coordenam para cobrir o declínio pontual da energia fotovoltaica. Produtores reduzem a importância do impacto que haverá.
O eclipse solar previsto para o próximo dia 20 de março, que poderá ser visto em toda a Europa entre 8h40 e 12h50 (no horário peninsular espanhol), representará um teste para a rede elétrica do continente. "Esse eclipse solar será uma prova sem precedentes para o sistema de eletricidade da Europa", afirma em um relatório a Rede Europeia de Gestores de Redes de Transporte de Eletricidade (Entso-e na sigla em inglês).
A análise realizada por essa associação, que reúne os distribuidores de eletricidade europeus, se concentra no efeito que o fenômeno poderá ter sobre a geração fotovoltaica, que no continente cobre 3% de todo o consumo energético.
A Entso-e afirma que há meses estão sendo tomadas "todas as medidas necessárias para mitigar os riscos". Entre elas, inclui-se a "coordenação entre as salas de comando de toda a Europa antes e durante o eclipse". A ideia é que, ao poder trabalhar com previsão suficiente, o declínio pontual na energia solar seja coberto por outras fontes, sejam renováveis ou convencionais, e que os países também se apoiem caso surja algum incidente nessas quatro horas.
"O eclipse não será um grande problema, mas representará um teste para a rede elétrica europeia, que é interconectada", indica Javier García Breva, especialista em políticas energéticas. "Será um teste para ver como funcionam as interconexões e como está a integração", acrescenta.
Esse fenômeno não afetará todo o continente por igual. A Turquia será o país em que o eclipse terá menor incidência, com uma obscuridade máxima prevista de 25%. O país em que o céu ficará mais escuro é a Dinamarca, onde se prevê que, no momento do ápice, chegará a 83% de obscuridade. Em Madri, ponto que a Entso-e toma como referência para a Espanha em seu relatório, chegará a 67%.
Partindo desses dados, a associação de operadoras de transporte de eletricidade conclui que, no minuto em que uma parte maior da superfície solar for encoberta pela lua, a produção de energia fotovoltaica no continente poderá cair até 37,5%, passando dos 89 gigawatts gerados em um dia ensolarado para 55 gigawatts.
A Entso-e destaca que "todos os países da região serão afetados indiretamente, devido à interconexão". Mas o impacto direto mais importante se concentra na Alemanha e na Itália, onde a energia solar se encontra mais implantada. No caso alemão, a queda da produção no minuto chave do eclipse chegaria a 42%, e na Itália, a 36,4%.
A Entso-e justifica a necessidade de ter previsto um plano de contingência no qual o eclipse representará para o sistema "ter dois amanheceres e dois entardeceres no mesmo dia". Além disso, ele ocorrerá quando "os europeus e os locais de trabalho iniciam uma jornada normal" --20 de março cai numa sexta-feira.
José Donoso, diretor-geral da União Espanhola Fotovoltaica, que representa cerca de 300 empresas do setor, compara esse assunto com o alarme gerado pelo efeito 2.000, um medo que acabou se diluindo quando ocorreu a mudança de milênio e não houve a temida falha global de computadores.
Ele aponta que, no papel, poderiam surgir dois problemas: a falta de abastecimento e alterações na rede. Sobre o primeiro conflito teórico, Donoso afirma que não se chegará ao ponto do corte, já que na Europa há superprodução de energia. Além disso, a queda da energia fotovoltaica será coberta pelas centrais de ciclo combinado ou, "inclusive, pela energia eólica".
Na mesma linha se pronuncia Estefanía Caamaño, professora da Universidade Politécnica de Madri e pesquisadora do Instituto de Energia Solar dessa instituição. "Fenômenos de variação de recursos renováveis como o sol ou o vento são muito bem conhecidos e administrados hoje em dia, mediante tecnologias de geração elétrica especialmente indicadas para isso [centrais de ciclo combinado, por exemplo]".
"O problema será resolvido com outras tecnologias", aponta Miguel Ángel Martínez-Aroca, presidente da Associação Nacional de Produtores e Investidores em Energia Fotovoltaica.
Quanto às alterações que possam ocorrer na rede devido a um apagão brusco dos geradores de energia fotovoltaica, Donoso afirma que o assunto já está "controlado pelas distribuidoras". "O eclipse será como um dia de chuva em toda a Europa", acrescentou.
Sobre o relatório da Entso-e, Caamaño critica que "os gestores dos sistemas elétricos tentem transmitir uma ideia de perigo associada ao uso de energias renováveis como a solar, quando estas já demonstraram sua maturidade".
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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