quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Google planeja expandir sede, e uma cidade pacata teme ser invadida
Conor Dougherty - NYT 
Jason Henry/The New York Times
Placa sinalizando a entrada da sede do Google em Mountain View, na Califórnia Placa sinalizando a entrada da sede do Google em Mountain View, na Califórnia
A Apple está se mudando para um prédio no Vale do Silício que parece uma espaçonave. O Facebook está expandindo seu campus com um novo prédio projetado por Frank Gehry. Agora é a vez do Google. Nesta semana, o gigante da busca deverá propor uma nova sede –uma série de prédios como um dossel de autoria do Heatherwick Studio, uma empresa de design de Londres conhecida por trabalhos como o Caldeirão Olímpico dos Jogos de 2012, e de Bjarke Ingels, um arquiteto dinamarquês conhecido por seus designs inovadores.
O projeto em Mountain View, que o Google não tornou público, mas discutiu com membros da Câmara Municipal, provavelmente agravará um relacionamento cada vez mais irascível entre a empresa e os líderes da comunidade, que temem que a empresa está atropelando sua pequena cidade.
Quando o Google se mudou para cá em 1999, ele tinha uma dúzia de funcionários e uma ferramenta de busca conhecida apenas pelos aficionados por informática. Agora, seus 20 mil funcionários locais a tornam a maior empregadora em uma cidade que parece estar saturada.
"Nosso problema é que temos excesso de bons empregos", disse Leonard M. Siegel, um ativista ambiental de 66 anos que foi recentemente eleito vereador. "Todo mundo gostaria de estar em nossa situação, mas é uma crise para a população daqui."
A mesma história ocorre por todo o Vale do Silício. Em Menlo Park, lar do Facebook, a eleição de novembro contava com uma medida, depois rejeitada pelos eleitores, que reduziria pela metade o crescimento dos imóveis comerciais no centro. Grupos de cidadãos na próxima Palo Alto rebatizaram seus muitos membros antidesenvolvimento da Câmara Municipal de "residencialistas".
"Ninguém deseja mudanças", disse Gilbert Wong, um vereador em Cupertino, onde fica a sede da Apple. "É meu papel como representante eleito explicar aos nossos moradores que ou você participa e nos ajuda a encontrar um equilíbrio entre empregos e moradia, ou outras pessoas tomarão essa decisão por nós."
O Google é dono ou aluga cerca de 680 mil metros quadrados de espaço comercial em Mountain View –aproximadamente o equivalente a três edifícios Empire State. Isso inclui grande parte dos imóveis em torno de sua sede no norte da cidade, perto da Rodovia 101, que corta o vale, segundo a Transwestern, uma corretora de imóveis comerciais.
Esse sucesso trouxe a Mountain View muitos dólares de impostos e uma taxa de desemprego de 3,3%, assim como forte alta dos preços dos imóveis residenciais e um congestionamento intolerável. E as empresas de tecnologia são responsáveis por grande parte disso: elas representam 27% dos empregos na região do Vale do Silício, em comparação a 7% na Califórnia e cerca de 5% no país como um todo, segundo a Moody's Analytics.
O resultado é uma discussão existencial que coloca os moradores que desejam conter o crescimento da cidade contra as pessoas que acham que Mountain View precisa crescer e se tornar uma cidade real.
Mountain View, a cerca de 65 km ao sul de San Francisco, tem perto de 80 mil habitantes; com suas ruas de comércio e ruas de residências unifamiliares, ela parece um subúrbio sonolento. Mas desde o boom das contratações, as ruas da cidades ficam repletas de pessoas indo e voltando do trabalho durante o rush matinal e do entardecer.
Katherine Suri, uma cientista da NASA aposentada, se mudou para a cidade em 1974 e mora em um terreno de 1.000 metros quadrados cuja vista original incluía uma creche e um pomar de damascos. Ela passou boa parte dos anos 80 transportando seus filhos pela cidade em uma perua Oldsmobile. Agora a vista dela é de outras casas e o trânsito é tão ruim que Suri busca marcar suas consultas médicas por volta das 11h da manhã. Quando ela caminha até a Associação Cristã de Moços toda manhã, ela às vezes precisa ziguezaguear por entre os carros parados no congestionamento.
Apesar das inconveniências, Suri aceita que a cidade mudará quer ela goste ou não. "Mountain View está ficando mais populosa com o Google e outras empresas, e é assim que as coisas são", ela disse. "Nós precisamos aprender a lidar com isso."
O Google tentou reduzir o trânsito, tanto para a cidade quanto para si mesmo. Ele transporta seus funcionários para o trabalho em ônibus particulares e, à certa altura, experimentou trazer alguns de seus funcionários de San Francisco em embarcações. Em janeiro, a empresa iniciou um translado diurno gratuito que é aberto ao público, e durante o dia seus funcionários podem ser vistos pedalando pela cidade em bicicletas multicoloridas da empresa.
Como grande parte do trânsito é associado ao Google, Mountain View passou os últimos dois anos discutindo um plano para redesenvolvimento da área de North Bayshore da cidade, que cerca os principais escritórios do Google e fica próxima das principais rodovias.
A visão do Google para o novo Googleplex, o apelido da nova sede da empresa, inclui ciclovias e vias para pedestres e é uma das várias propostas de desenvolvimento de várias empresas que deverão ser apresentadas à cidade na sexta-feira.
"Essas empresas são corporações de classe mundial que trazem atenção de todo o mundo para Mountain View, e Mountain View precisa evoluir para uma cidade de classe mundial", disse Ken S. Rosenberg, um dos sete membros da Câmara Municipal. "Um dos critérios de uma cidade de classe mundial é que seja interessante arquitetonicamente."
Mesmo se a proposta do Google for aceita, a questão mais divisora da cidade –quantos novos imóveis residenciais deve-se construir, e onde– ainda precisará ser resolvida. Os executivos do Google disseram em várias ocasiões que desejam adicionar novos imóveis residenciais em North Bayshore, mas a Câmara Municipal de saída de Mountain View encontrou muitos motivos para dizer não.
Um argumento era de que seria perigoso para as corujas que vivem no Shoreline Park adjacente. Outro era que se as pessoas se mudassem para lá, elas logo iriam querer mais escolas e outros serviços caros. Outros temiam que os novos imóveis residenciais poderiam criar um bloco de votação do Google.
Em novembro passado, em uma eleição que foi amplamente vista como um referendo para as políticas habitacionais da cidade, Mountain View elegeu três candidatos, incluindo Rosenberg, que fizeram campanha defendendo o acréscimo de imóveis residenciais próximos do campus do Google, uma ideia que contraria o plano de redesenvolvimento da Câmara Municipal anterior.
A proposta da sede do Google não inclui planos para imóveis residenciais. Mas a empresa disse à Câmara Municipal que deseja imóveis residenciais, e muitos. O vereador Siegel é um que concorda. Ele deseja apresentar uma emenda ao plano da cidade para permitir pelo menos 5.000 novas unidades residenciais.
O fato disso poder trazer ainda mais funcionários do Google é exatamente o que algumas pessoas temem. "Essa última eleição contou com talvez 12 mil eleitores", disse Jac Siegel, um vereador que deixou o cargo neste ano e não tem parentesco com Leonard Siegel. "Se você trouxer 5.000 pessoas à cidade e todas trabalharem para o Google e ele disser, 'Nós queremos que vocês votem nesse candidato', a empresa pode passar a mandar na cidade."
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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