Refutando as dez maiores impropriedades que ouvi e li sobre os atentados da França – Parte 3
Igor Wildmann -
7) “O verdadeiro islã é tolerante e plural !”
Nem tanto, meu caro branco – burguês bonzinho e sonhador, “menos, menos”…
A maioria dos historiadores sustenta ter havido uma era de ouro no
Califado de Córdoba, na qual a tolerância islamo-ibérica superava em
muito a tolerância cristã medieval. De resto, no entanto, a “tolerância”
habitual no Califado de Badgad, por exemplo, significava deixar os
“Dhimmis” (“povos do livro”, referência a judeus e cristãos) viverem,
sob algumas restrições: um imposto especial para a prática religiosa
não-islâmica, proibição de testemunhar contra um muçulmano, proibição de
ter cavalos, obrigação de levantar-se diante da passagem de um
muçulmano, etc. Aos idólatras – seguidores de outras religiões, como
zoroastrismo, cultos animistas, etc – a opção era simples: conversão ou
morte.
Mais modernamente, tivemos o Império Turco Otomano, que não consta
ter criado problemas para minorias, além de, “apenas” o genocídio dos
armênios: escravização, deportação e assassinato em massa por
afogamento, marchas extenuantes, intoxicação por agentes químicos, em 25
campos de extermínio. Os Armênios, de etnia majoritariamente turca, eram
cristãos.
Hoje, mesmo os muçulmanos “moderados” são, via de regra, “ultra
reacionários” para os padrões ocidentais, em questões como direitos das
mulheres, direitos dos gays, liberdade de expressão, direito à mera
existência de Israel, liberdade às minorias religiosas, respeito ao
ateísmo, etc. Repito, pela terceira vez: os jihadistas – aqueles que
estão prontos a matar e morrer por Alah – são minoria, mas, dizer que a
maioria é “tolerante e pluralista” – ao menos pelos padrões ocidentais
modernos – é um romantismo bobo. Os muçulmano “super modernos e
tolerantes” são muçulmanos ocidentalizados.
Eles existem, mas são minoria.
Vale, sobre esse ponto, ler o livro da muçulmana, moderna,
paquistanesa, ocidentalizada, lésbica, perseguida, ameaçada de morte e
exilada no Canadá, Irshad Manji, cujo título em português é “Minha briga
com o islã”.
8) “Os jihadistas são jovens desesperados e oprimidos pelo
neoliberalismo / capitalismo / ocidente / imperialismo / sionismo /
ciclismo / malabarismo !”
Uma asneira típica de quem quer dar palpite sem ler nem uma orelha de
livro sobre o tema: o Jihadismo é, ele próprio, uma ideologia
imperialista, mesmo na acepção marxista do termo (Rosa Luxemburgo,
teórica marxista, dizia que o imperialismo é a expansão da cultura e
modo de vida pela violência, pela imposição).
Para o fundamentalismo islâmico, o islã não é uma religião, mas UM
MODO DE VIDA COMPLETO, QUE SÓ PODE SER REALIZADO SOB UM ESTADO ISLÂMICO
(“In” Sami Ahmed Isbelle, O Estado Islâmico e sua organização, pg 04),
leia-se, um Estado TEOCRÁTICO. Ou seja: um Estado onde não exista a lei
civil, mas apenas a aplicação literal da Sharia (lei religiosa
islâmica). Por isso os fundamentalistas são essencialmente TEOCRATAS e
não aceitam nenhum governo que não seja um governo religioso islâmico,
inclusive os governos seculares de países muçulmanos.
A “primavera árabe”, queridinha dos sub-informados bem intencionados,
não foi feita para instituir democracia, mas para destituir governos
seculares e substituí-los por teocracias fundamentalistas. Estima-se que
os jihadistas sejam entre 15% a 20% do total de muçulmanos (Pensem em
15% de um total de 1,2 bilhão de pessoas no mundo, sendo 20 milhões na
Europa, dos quais cerca de 5 a 6 milhões na França. O Estado de Israel,
para se ter idéia, conta com 1,2 milhão de muçulmanos, 20% de seus
cidadãos, isso sem considerar a população de Gaza e Cisjordânia).
O movimento jihadista conta com escolas de doutrinação (Madrassas),
sites internet afora, redes de TV, campos de treinamento sobretudo no
Sudão,Síria, Iêmen, Afeganistão, Paquistão, Irã, Síria e Líbia. O
movimento conta também com DINHEIRO. Muito dinheiro. Uma boa parte desse
dinheiro vem dos petrolólares de organizações sediadas em países
queridinhos do ocidente e dos EUA como o Catar e Arábia Saudita, outros
nem tanto como Sudão e Irã.
A pessoa que comete um atentado sabe que provavelmente irá morrer. E
ela não entra nessa sem uma boa dose de lavagem cerebral e uma boa
infraestrutura por trás. As famílias dos Shahids (mártires) do Hamas,
por exemplo, que se explodem para matar judeus/israelenses, recebem uma
considerável bolada pelo “sacrifício do mártir”, além da honra à toda a
família. Daí a prática – judicialmente questionada junto à Suprema Corte
Israelense – de demolir as casas dos jihadistas, para compensar as
referidas boladas e gerar algum temor naqueles que sacrificarão a
própria vida pela “causa”.
O objetivo do jihadismo é implementar a Sharia, transformando em
Califados todos os cerca de 50 países islâmicos do mundo, além de Israel
– que deve, segundo o Estatuto do Hamas, ser destruído por estar no
Oriente Médio, Dar Al Islam, Terra do Islã – e dos países onde o islã já
dominou, inclusive península Ibérica e sul da França. Para o jihadismo,
toda a península arábica é Wakf – terra sagrada, santa, inegociável,
indivisível, do Islã – e os locais geográficos nos quais o islã é ou já
foi maioria, são Dar Al Islam, terra do Islã e portanto devem estar
sujeitas a Estados Islâmicos, ou seja, a governos teocráticos islâmicos.
( O livro: “O vulto das Torres, de Lawrence Wright, é uma boa leitura
sobre o tema.)
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