Luiz Felipe de Alencastro
O Oscar de melhor documentário concedido no último domingo a Laura Poitras por seu filme "Citizenfour" foi saudado pelos defensores das liberdades civis do mundo inteiro. De uma certa forma, os jurados de Hollywood, gente geralmente conservadora, inocenta Snowden da acusação de traidor da pátria assacada contra ele pelas autoridades americanas.
Os numerosos prêmios recebidos por Snowden nos EUA e na Europa, e
agora, o Oscar ao documentário que enaltece seu desprendimento e sua
coragem na denúncia dos abusos da espionagem governamental americana,
mostram que o governo americano perdeu esta batalha da comunicação.O Oscar de melhor documentário concedido no último domingo a Laura Poitras por seu filme "Citizenfour" foi saudado pelos defensores das liberdades civis do mundo inteiro. De uma certa forma, os jurados de Hollywood, gente geralmente conservadora, inocenta Snowden da acusação de traidor da pátria assacada contra ele pelas autoridades americanas.
Mais ainda, a recompensa a "Citizenfour" é também uma condenação à prática generalizada de escutas ilegais implementada pela presidência Obama.
Como escreveu, Conor Friedersdorf, na revista "The Atlantic", quando Laura Poitras recebeu o Oscar de melhor documentário, "a sociedade civil devolveu o murro no Deep State".
Deep State, o Estado Profundo, é nome dado pelos liberais americanos às atividades encobertas e ilegais da comunidade de informações do governo americano.
A celebração em torno do "Citizenfour" ocorre num momento em que se patenteia a persistência da espionagem americana nas redes informáticas e de metadados. Num editorial de uma rara agressividade contra o presidente dos EUA, o jornal parisiense "Le Monde" criticou a invasão dos sistemas da firma de segurança digital franco-holandesa Gemalto, pelos serviços de espionagem ingleses e americanos. Intitulado "O cinismo de Monsieur Obama", o editoral contrapôs declarações recentes do presidente dos EUA sobre o direito de privacidade dos americanos, ao furto de informações pessoais dos usuários do chip de celular fabricado pela Gemalto.
"A violação sistemática dos dados pessoais dos cidadãos europeus por uma potência estrangeira, mesmo aliada, é simplesmente inadmissível", comentou o "Le Monde". A denúncia sobre a espionagem anglo-americana na Gemalto tem sua origem no material vazado por Snowden e foi publicada pelo site "The Intercept", dirigido por Laura Poitras e Glenn Greenwald, jornalista e jurista americano residente no Rio de Janeiro.
No debate em torno do Oscar do documentário e das denúncias de Snowden, Amy Davidson, no seu artigo sobre "Citizenfour" na revista "New Yorker", fez uma pergunta fundamental. Para ela, a opinião pública americana deve refletir para saber se os documentos trazidos à luz por Snowden são apenas reveladores dos abusos do governo ou se as coisas vão realmente mudar daqui para frente. Ou seja, haverá nos EUA uma reação cidadã para dar um basta ao Deep State?
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