Agnelo, desastre em Brasília
O Estado de S.Paulo
O juiz Álvaro Ciarlini, da 2.ª Vara da Fazenda Pública do
Distrito Federal (DF), bloqueou os bens, no valor total de R$ 37
milhões, do ex-governador Agnelo Queiroz, do Partido dos Trabalhadores
(PT), e de mais quatro pessoas. O bloqueio do patrimônio das pessoas
físicas e das empresas das quais são sócias decorre de duas ações de
improbidade administrativa movidas pelo Ministério Público (MP) do DF.
Há menos de dois meses da saída do réu do governo, a medida, pedida pelo
MP e autorizada pela Justiça, tenta evitar que Agnelo; Maruska Lima de
Souza, ex-presidente da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal
(Terracap); Carlos André Duda, ex-secretário de Publicidade
Institucional; Sandoval de Jesus Santos, ex-chefe da Assessoria de
Comunicação da Terracap; e Jorge Antônio Ferreira Braga, ex-diretor
financeiro desta agência, se desfaçam dos bens durante a investigação.
Pois isso poderia prejudicar um eventual ressarcimento dos cofres
públicos, caso eles sejam condenados.
O Ministério
Público investiga a prática de improbidade administrativa dos cinco réus
na contratação de serviços e no patrocínio oficial de eventos
esportivos em Brasília, entre os quais a corrida de Fórmula Indy, para
cuja realização o DF reformou o Autódromo Nelson Piquet. O ex-governador
é acusado de se ter comprometido a pagar US$ 15,9 milhões (R$ 44,8
milhões) à Rede Bandeirantes de Televisão para divulgação da competição,
que foi cancelada por falta de recursos. Além disso, o Tribunal de
Contas do Distrito Federal constatou sobrepreço de R$ 30 milhões nas
obras do autódromo, tendo o ex-governador insistido em prossegui-las,
mesmo depois de aquela Corte ter denunciado o "caráter antieconômico" do
evento. Ao conceder a liminar, o juiz Ciarlini observou que "a situação
jurídica em análise mostra-se estarrecedora neste primeiro olhar".
Isso
que estarreceu o juiz é a ponta do iceberg de uma gestão catastrófica
de recursos públicos pelo ex-governador distrital. A favor de Agnelo
pode-se argumentar que há quatro anos ele assumiu em pleno "mensalão do
DEM", que resultou na prisão e queda de seu antecessor, José Roberto
Arruda. Só que nesse caso a crise foi provocada por flagrantes de
corrupção, tendo Agnelo recebido as finanças com superávit em 2010. As
condições financeiras do DF sempre foram excelentes. No primeiro ano da
gestão passada, Brasília manteve sua posição, intocada em 55 anos, de
maior renda per capita do País, quase o dobro da de São Paulo e o triplo
da média nacional. Seu orçamento per capita também é campeão nacional -
mais do que o dobro do de São Paulo e o do Rio. Além disso, o fato de
ser capital federal facilita a vida do governador, pois o DF recebe um
Fundo Constitucional de R$ 10,7 bilhões, pago por todos os brasileiros. E
o governo distrital arrecada todos os impostos que, nos Estados, são
divididos entre autoridades municipais e estaduais, embolsando ainda,
somados, os recursos dos Fundos de Participação dos Estados e dos
Municípios.
Apesar de tudo isso, a herança recebida pelo
atual governo distrital, assumido por Roberto Rollemberg, do PSB, é uma
vergonha. Calcula-se que, no fim deste ano, o rombo deixado por Agnelo
chegue a R$ 5 bilhões. E, desde que ele foi derrotado no primeiro turno,
com apenas 20% dos votos em sua tentativa de reeleição, o serviço
público na capital simplesmente parou. O caso mais dramático é o da
saúde: foram relacionados 215 itens em falta, de medicamentos essenciais
a gaze e luvas esterilizadas. Sem receber nem ter como trabalhar,
médicos e professores entraram em greve. O transporte público passou a
funcionar de forma precária. A capital foi invadida pelo mato e pelo
lixo, cuja coleta teve de ser suspensa - tudo por falta de dinheiro do
governo. Com - pasmem - R$ 64.000,00 em caixa, Agnelo elevou salários,
distribuiu cargos comissionados e inflou contratos de forma
inconsequente, na vã tentativa de evitar a derrota na eleição.
Apesar disso, o PT não fez autocrítica nem sequer deu a desculpa de praxe de inculpar quem o antecedeu no governo.
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