O STF e a omissão de Dilma
O Estado de S.Paulo
A omissão da presidente Dilma Rousseff, que até hoje não indicou
o substituto do ministro Joaquim Barbosa, está deixando irritados os
membros do Supremo Tribunal Federal (STF). "Essa omissão tornou-se
irrazoável e abusiva, pois interfere no resultado dos julgamentos", diz
Celso de Mello, o decano da Corte. "O atraso na indicação é nefasto
porque prejudica as atividades do STF", afirma o segundo ministro mais
antigo, Marco Aurélio Mello.
Barbosa deixou o STF em
julho de 2014, quando se aposentou por tempo de serviço. Desde então, a
mais alta Corte do País vem trabalhando com dez ministros. O aumento da
carga de trabalho os levou a atrasar a entrega de pareceres e os
obrigou a pedir vista dos processos mais relevantes, atrasando os
julgamentos. "Não é possível que não tenhamos pessoas abalizadas para
assumir uma cadeira no Supremo", protesta Marco Aurélio, classificando a
demora na indicação do substituto de Joaquim Barbosa como "menosprezo
institucional".
Além da sobrecarga de trabalho dos
ministros, a omissão de Dilma está obrigando o STF a suspender algumas
sessões plenárias por falta de quórum, uma vez que o artigo 143 do
Regimento Interno determina que a análise de temas constitucionais tenha
a presença de pelo menos oito ministros. A Corte não consegue julgar
ações diretas de inconstitucionalidade, ações declaratórias de
constitucionalidade e ações de descumprimento de preceito fundamental
quando ministros são obrigados a se ausentar, declaram-se impedidos de
votar ou haja empate na votação.
É esse o caso, por
exemplo, do julgamento das ações de constitucionalidade dos pacotes
econômicos das décadas de 1980 e 1990, que discutem o ressarcimento de
perdas sofridas por poupadores, estimadas em R$ 150 bilhões. O ministro
Luís Roberto Barroso está impedido de tratar da questão por ter dado
pareceres sobre o assunto antes de ser nomeado para o cargo.
O
mesmo ocorre com os ministros Luís Fux, cuja filha integra um
escritório que advoga para instituições financeiras, e Carmen Lúcia,
cujo pai impetrou um processo contra os bancos. Por isso, o caso somente
poderá ser retomado quando a presidente da República indicar o
substituto de Joaquim Barbosa. Entre os casos pendentes de julgamento,
por problemas de quórum, estão as ações que discutem a cobrança da
Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) de
empresas seguradoras e de instituições financeiras e a cobrança de IPI
sobre insumos oriundos da Zona Franca de Manaus.
A demora
no preenchimento da cadeira deixada por Joaquim Barbosa também está
criando problemas políticos. Numa ação conjunta, a Associação dos
Magistrados Brasileiros, a Associação dos Juízes Federais e a Associação
Nacional dos Magistrados do Trabalho entraram no Supremo com uma ação
pedindo o estabelecimento do prazo de 20 dias para que o Executivo
indique ministros para qualquer dos tribunais superiores. Caso o prazo
seja descumprido, caberia aos tribunais promover a escolha de seus novos
integrantes. Escolhido por sorteio para apreciar a ação, o ministro
Teori Zavascki a rejeitou. Mas as entidades da magistratura entraram com
agravo, pedindo que ela seja submetida ao plenário. Informalmente,
alguns ministros já manifestaram a disposição de votar favoravelmente.
Além
do descontentamento que causou no STF e nas entidades da magistratura, a
demora de Dilma na indicação do sucessor de Joaquim Barbosa a deixou
vulnerável a ataques políticos. Sem esconder o objetivo de retirar da
presidente o poder de indicar mais ministros para o Supremo durante seu
segundo mandato, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha,
anunciou que colocará em votação a chamada PEC da Bengala - uma Proposta
de Emenda Constitucional que aumenta de 70 para 75 anos a idade máxima
de permanência no serviço público. Se for aprovada, ela beneficiará os
ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Teori
Zavascki e Rosa Weber, que completarão 70 anos até 2018. Eles poderiam
continuar no cargo e seus substitutos só seriam escolhidos pelo próximo
presidente da República.
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