sexta-feira, 27 de junho de 2008

OS ARAUTOS NEGROS

"Há golpes na vida tão fortes... Eu não sei! Golpes como do ódio de Deus; como se diante deles a ressaca de todo o sofrimento se empoçasse na alma... Eu não sei! São poucos; mas são... Abrem fendas escuras no rosto mais fero e no dorso mais forte. Serão talvez os potros de bárbaros átilas; ou os arautos negros que nos manda a Morte. São as quedas profundas dos Cristos da alma, de alguma fé adorável que o Destino blasfema. Esses golpes sangrentos são as crepitações de algum pão que se queima na boca do forno. E o homem... Pobre... pobre! Volta os olhos, como quando alguém bate as mãos por trás de nós; vira os olhos loucos, e tudo o que foi vivido se empoça, como charco de culpa, no olhar. Há golpes na vida, tão fortes... Eu não sei!" Cesar Vallejo (1892/1938)

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