sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Imigrantes ilegais que cresceram nos EUA querem que Obama suspenda deportações
Julia Preston - NYT
Mais de 500 líderes de uma rede nacional de jovens imigrantes, frustrados porque os deputados republicanos disseram que não atuariam sobre a imigração este ano, decidiram dirigir seus protestos ao presidente Barack Obama, na tentativa de pressioná-lo a agir unilateralmente para conter as deportações.
Depois que meses de lobbies, comícios e manifestações pacíficas terminaram sem um movimento na Câmara sobre um caminho para a cidadania para os imigrantes que estão nos EUA ilegalmente, os jovens que se reuniram em Phoenix neste fim de semana para um congresso anual da rede Unidos Sonhamos disseram que estão decepcionados com os republicanos e os democratas. Indicando a promessa de Obama este ano de usar seu telefone e sua caneta se o Congresso não discutisse sua agenda, eles disseram que vão pedir que ele tome medidas executivas para aumentar as proteções para os imigrantes sem documentos.
"A comunidade com que trabalhamos está nos dizendo que essas deportações estão destruindo nossas famílias, e isso tem de parar", disse Cristina Jiménez, diretora da rede, a maior organização de imigrantes que cresceram nos EUA em situação ilegal, depois de chegar quando crianças, e que chamam a si mesmos de 'dreamers' (sonhadores). "E nós sabemos que o presidente tem poder para fazer isso."
As exigências dos jovens imigrantes serão desconfortáveis para Obama em um ano de eleição em meio de mandato, quando seus baixos índices de aprovação poderão permitir que os republicanos tenham ganhos importantes. As pesquisas mostram maior simpatia entre os americanos por jovens imigrantes do que por outros sem situação jurídica, e os jovens muitas vezes foram líderes em definir estratégias entre grupos de imigração.
Os jovens disseram que vão pressionar o presidente a expandir os adiamentos de deportações que ele concedeu por meio de atos executivos em 2012. Mais de 520 mil jovens receberam adiamentos, permitindo que trabalhassem legalmente e tirassem carteiras de motorista em muitos Estados. O programa, conhecido como Ação Adiada para Chegadas na Infância, foi muito popular entre eleitores latinos e imigrantes, e Obama o citou como exemplo de seu compromisso de reformular o sistema de imigração.
Com sua mudança para se concentrar em Obama, os jovens estão reduzindo suas expectativas. No ano passado, depois que uma complexa lei de imigração foi aprovada no Senado, eles esperaram que a Câmara de Deputados o seguisse e também abrisse um caminho direto para a cidadania para a maioria dos 11,7 milhões de imigrantes ilegais no país.
Este mês, líderes republicanos na Câmara apresentaram princípios sobre imigração, incluindo legalização mas não cidadania para a maioria desses imigrantes. Mas, dias depois, o presidente da Câmara, John Boehner, disse que seu grupo não estava pronto para avançar sobre a polêmica questão este ano.
Lorella Praeli, uma líder da rede jovem, disse na reunião aqui que os republicanos adotaram uma estratégia de "morte por adiamento" para a imigração. Mas os líderes da rede não pareciam desanimados. Uma organização que apenas alguns anos atrás realizava reuniões clandestinas para evitar a detecção por autoridades de imigração, a rede fez seu congresso este ano no Hotel Sheraton no centro de Phoenix, no Arizona. Eles encheram o salão de baile principal com debates sobre estratégia, entoaram protestos e deram abraços grupais. Outros hóspedes foram surpreendidos ao encontrar jovens entoando slogans a desfilar pelo saguão.
Eles escolheram Phoenix, segundo líderes, para confrontar a governadora republicana Jan Brewer, que não permitiu que jovens com o adiamento de deportação se inscrevessem para carteiras de motorista, como outros Estados permitiram. Na tarde de sábado, o grupo marchou pelo centro de Phoenix e se reuniu em um centro de detenção do Departamento de Segurança Interna. Seus slogans eram dirigidos principalmente ao presidente. "Obama, Obama, não deporte minha 'mama'", gritavam os membros da multidão.
Em Washington, surgiu uma lacuna de percepção sobre a aplicação da lei, com os deputados republicanos afirmando que Obama foi frouxo sobre a imigração ilegal e a segurança de fronteiras, por isso não podem confiar nele para aplicar novas leis. As autoridades do governo alegam que os números mostram que Obama deportou mais de 1,9 milhão de estrangeiros, um recorde entre presidentes americanos.
Os jovens aqui disseram que não têm dúvidas sobre o impacto das políticas de deportação do governo Obama, porque suas famílias sentem que estão sitiadas pelas autoridades de imigração.
"Não podemos esperar que Washington continue brincando com nossas vidas", disse Julieta Garibay, outra líder da rede. "Nossa gente vê as deportações todos os dias. Eles dizem que talvez esse seja o último dia em que poderei ver minha mãe, porque ela pode ser deportada amanhã. Estamos cansados disso."
Os jovens disseram que vão pedir que Obama corte os programas que expandiram muito o alcance local das autoridades federais de imigração e garanta o adiamento de deportação para pais sem documentos de jovens que o receberam. O presidente insistiu que não tem autoridade legal para conceder mais adiamentos. Mas recentemente ele sugeriu que poderia rever essa posição se a legislação continuar estagnada.
Apesar da inércia em Washington, os jovens, que representaram 50 organizações de 25 Estados, disseram que suas fileiras cresceram rapidamente no ano passado enquanto as medidas para expandir as oportunidades para eles avançaram em muitos Estados. Pelo menos 18 Estados hoje permitem que estudantes nascidos no exterior sem residência legal paguem taxas de inscrição em instituições de ensino.
Os jovens disseram que não estão desistindo totalmente dos esforços de legislação e planejam movimentos em vários distritos da Flórida, Nevada, Novo México e Texas para registrar-se e mobilizar eleitores latinos contra os republicanos que resistiram à legalização.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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