terça-feira, 23 de maio de 2017

Reinaldo Azevedo pede demissão da 'Veja' após divulgação de grampo com irmã de Aécio sem indício de crime
Colunista diz que vazamento é forma de intimidar jornalistas; PGR não comenta o caso 
O Globo
O jornalista Reinaldo Azevedo anunciou nesta terça-feira que deixou a revista “Veja” após a divulgação de uma conversa telefônica em que ele discute as denúncias na Lava-Jato contra Aécio Neves com a irmã do senador, Andrea Neves. No diálogo, Reinaldo critica uma reportagem feita pela própria revista, que trata de uma conta de Aécio em Nova York, não comprovada.
Apesar de não conter indício de crime, segundo a PF, a conversa consta do conjunto de áudios disponibilizado pela Procuradoria-Geral da República no inquérito que provocou o afastamento de Aécio do cargo e a prisão da irmã, o que gerou críticas de entidades de imprensa. Reinaldo não é investigado.
Os diálogos foram divulgados inicialmente pelo site "BuzzFeed".
Em sua última nota publicada hoje à tarde no site de “Veja”, o jornalista anuncia o pedido de demissão e critica o vazamento da conversa. Com autorização da Justiça, o telefone de Andrea estava grampeado pela Polícia Federal, como parte da investigação aberta pelas delações dos executivos da JBS. Azevedo ressalta que a transcrição do diálogo “não guarda relação com o objeto da investigação” e que tornar público esse tipo de conversa é, segundo ele, uma maneira de intimidar jornalistas.
Em outra parte do diálogo, ainda de acordo com o BuzzFeed, Reinaldo e Andrea criticam a Operação Lava-Jato. Procurada, a PGR ainda não se pronunciou sobre a acusação.
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo (Abraji) Investigativo informou que "vê com preocupação a violação do sigilo de fonte protagonizada pela Procuradoria-Geral da República".
"A Abraji considera que a apuração de um crime não pode servir de pretexto para a violação da lei, nem para o atropelo de direitos fundamentais como a proteção ao sigilo da fonte, garantido pela Constituição Federal.
A associação ressalta que "a inclusão das transcrições em processo público ocorre no momento em que Reinaldo Azevedo tece críticas à atuação da PGR,sugerindo a possibilidade de se tratar de uma forma de retaliação ao seu trabalho".
Segundo a Abraji, a Lei 9.296/1996, que regula o uso de interceptações telefônicas em processos, determina que a gravação que não interessa à produção de provas em processo deve ser destruída. "O próprio Ministério Público, aliás, é que deveria cuidar para que isso aconteça".
Com escritório especializado em temas relacionados à liberdade de expressão, o advogado Alexandre Fidalgo disse acreditar que a crítica de Reinaldo Azevedo a alguns comportamentos do Ministério Público Federal (MPF) pode ter motivado "uma espécie de vingança" por parte de quem divulgou suas conversas.
- O sigilo de uma fonte do jornalista é principio básico da liberdade de expressão. O jornalista, sem fonte, não exerce sua profissão. Uma democracia não é plena se ela não garantir a este profissional sigilo absoluto de suas conversas.
Fidalgo lembra que para um jornalista, "é fundamental ter boas fontes":
- As boas fontes estão no centro da informação. Esta é uma conversa absolutamente natural no Estado Democrático de Direito - afirmou.

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