Eleição de 2018 pode ser a mais importante desde a redemocratização
Alexandre Schwartsman - FSP
Na semana passada, foram divulgados vários indicadores de atividade econômica, culminando com o índice do Banco Central (IBC-Br),
que busca antecipar o comportamento do PIB e que, pela primeira vez
desde o fim de 2013, mostrou dois trimestres consecutivos de
crescimento, 1,2% e 0,3%, sempre na comparação com o trimestre
imediatamente anterior, ajustados à sazonalidade.
Trata-se de desempenho positivo, nem tanto pelo IBC-Br em si, que nem sempre consegue capturar os movimentos do PIB, mas pelo conjunto da obra.
No período, observamos expansão da produção industrial (+0,9%), do
varejo (+1,7%) e do volume de serviços (+0,3%), números que sugerem
recuperação difundida da atividade, não mais limitada à agropecuária,
como havia ocorrido no primeiro trimestre.
Mais próximo do dia a dia das pessoas, há ainda sinais de melhora no mercado de trabalho.
Dados do IBGE indicam que, também corrigida a sazonalidade, o emprego
total aumentou no segundo trimestre, muito embora o crescimento tenha se
dado principalmente entre os trabalhadores informais. Assim, detectamos
pequena queda do desemprego (dessazonalizado), de 12,9% para 12,7%, a
primeira desde o último trimestre de 2013.
Para ser sincero, não dá para garantir que o crescimento do PIB já se
mostre positivo no segundo trimestre, mas a evidência aponta para uma
economia que finalmente saiu do fundo do poço.
Ao contrário do ocorrido no primeiro trimestre, quando o crescimento
veio do setor externo e da acumulação de estoques, componentes que
tipicamente não sustentam a economia por muito tempo, o consumo deve ter
sido o principal motor da expansão, sugerindo continuidade da retomada.
Em particular, como tenho insistido já há algum tempo, a redução
persistente da taxa real de juros (de 7% há um ano para menos de 4%
agora), resultado da queda da inflação, é a causa mais provável da
recuperação.
Notando ainda que seus efeitos costumam aparecer com defasagem ao redor
de seis meses, é bastante razoável concluir que ainda há impulso a se
materializar na segunda metade do ano, ou seja, devemos testemunhar um
desempenho um pouco melhor à frente, longe de espetacular, mas sólido o
bastante para nos levar a terreno positivo ainda em 2017 e mais vigoroso
em 2018.
Não se segue, contudo, que nossos problemas estejam superados. Muito
embora haja condições para uma retomada moderada nos próximos 18 a 24
meses, o comportamento das contas públicas permanece como fonte
constante de ansiedade e mais ainda após a revisão das metas fiscais
para o período 2017-20.
Mesmo com taxas reais de juros mais baixas, a se confirmarem os números
ali previstos, o governo a ser eleito em 2018 herdará uma dívida
superior a 80% do PIB e a necessidade de transformar o deficit primário
de 2,3% do PIB (R$ 159 bilhões) em superavit de 1% a 1,5% do PIB (de R$
70 bilhões a R$ 100 bilhões).
A eleição do ano que vem pode ser, portanto, a mais importante
pós-redemocratização do país: decidiremos se vale a pena seguir o
difícil caminho do ajuste ou se optaremos pela manutenção do status quo,
que nos trouxe à pior crise da nossa história.
A depender de nossos políticos, que continuam lutando pelos lugares na
janelinha enquanto o ônibus marcha para o abismo, temo que o status quo
largue com ampla vantagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário