quarta-feira, 30 de julho de 2014

Conflito em Gaza dá "cobertura" a ataques antissemitas na França
Celestine Bohlen - TINYT
A comunidade judaica em Paris está assustada com a violência que tem ocorrido às margens das manifestações pró-palestinos.
Como outros judeus em Paris, o rabino Salomon Malka está chocado com os ataques antissemitas ocorridos ao longo das manifestações pró-palestinos durante as últimas duas semanas na capital francesa e em seu entorno.
No subúrbio de Sarcelles, conhecido como "Pequena Jerusalém" porque abriga 15 mil judeus, uma mercearia kosher e uma farmácia de propriedade de judeus foram incendiadas. Uma semana antes, uma sinagoga na Rue de la Roquette, perto da Bastilha, no centro de Paris, foi atacada enquanto sua congregação se encolhia lá dentro. Os manifestantes gritavam "morte aos judeus".
Do outro lado da cidade, a congregação sefardita da sinagoga Berith Chalom, do rabino Malka, na Rue Saint-Lazare, composta na maioria por judeus que fugiram de Argel na década de 1960, escapou da violência, mas não da tensão. "Eles são seres humanos e eles estão cientes do que está acontecendo", disse Malka, rabino aqui há 25 anos. "Eles não entendem por que estão sendo alvo desse ódio." 
Xinhua
Protesto em apoio a palestinos é realizado, em Lyon, na França
O rabino Malka, de 72 anos, está convencido de que o conflito no Oriente Médio é apenas um pretexto para algo mais profundo e ainda mais alarmante, algo mais peculiar à França.
"Qual é o seu sentimento em relação à França daqueles que se manifestam contra os judeus?", indaga. "Essa é a questão: será que eles se sentem franceses ou muçulmanos? O problema não é bem compreendido, e temos medo de olhar para ele de frente."
Na opinião do rabino, o ataque israelense em Gaza, com o crescente número de mortes de civis palestinos, deu uma cobertura antissionista aos ataques contra judeus, disseminados nas ruas e na internet por uma faixa marginal revoltada da população muçulmana da França.
"Por que trazer a guerra para um país que não está em guerra?", perguntou. "Esse conflito nada tem a ver com os judeus e árabes da França."
Ele observou que os ataques mais mortais na região --contra uma escola judaica em Toulouse em 2012 e contra um museu judaico neste ano em Bruxelas, ambos cometidos por muçulmanos nascidos na França-- ocorreram quando não havia troca de tiros entre israelenses e palestinos.
"Atualmente, o antissemitismo está se escondendo atrás do antissionismo, e o discurso de ódio desinibiu-se."
Esta não é a primeira vez que o rabino Malka e membros de sua congregação sentem os males do antissemitismo. Malka vem da cidade marroquina de Meknes, também chamada de "pequena Jerusalém" por causa de uma população judaica considerável que, desde então, praticamente desapareceu. Dos 250 mil judeus que viviam no Marrocos no início do século 20, apenas alguns milhares permanecem.
Muitos partiram para Israel, mas muitos outros vieram para a França, incluindo o rabino Malka, que chegou em 1970 para dar seguimento aos seus estudos rabínicos. "Nos sentimos em casa aqui", disse ele, cuja mãe, professora, ensinou-lhe hebraico e francês. "A cultura francesa estava em nossas veias."
A sinagoga na Rue Saint-Lazare foi fundada durante uma migração anterior de judeus sefarditas do norte da Grécia, que chegaram em 1930 também em busca da liberdade e da dignidade que a França oferecia então. Isso mudou durante a Segunda Guerra Mundial, quando os judeus em Paris foram deportados para campos de concentração nazistas, com o auxílio da polícia francesa.
Nas últimas décadas, a congregação original mudou-se para a sinagoga perto da Bastilha --a mesma que foi atacada no dia 13 de julho.
"É inimaginável", disse Malka, observando que a sinagoga tem uma placa na porta honrando aqueles que morreram no Holocausto. "Este é um limite que não pode ser ultrapassado."
Após os confrontos do mês passado, que tiveram a adesão de membros cada vez mais militantes da Liga de Defesa Judaica, as autoridades francesas proibiram duas manifestações em prol da Palestina, que ocorreram assim mesmo. A violência resultante provocou críticas da proibição do governo, que muitos viram como uma violação do compromisso da França com a liberdade de expressão.
O rabino Malka aplaude a posição firme do governo francês contra o antissemitismo, reiterada em uma cerimônia que marcou o 72º aniversário de uma extensa apreensão de judeus em Paris. Sua lealdade à França permanece inabalável.
"A França tem sido uma terra muito acolhedora, e isso pode ter custado um preço alto", disse ele.
Tradução: Deborah Weinberg

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