Manfred Ertel - Der Spiegel
Angelos Tzortzinis/AFP
Manifestantes gregos protestam contra as medidas de austeridade impostas ao país
A economia grega continua sofrendo, mas os donos de navios do país
estão gastando como se não houvesse crise. Antes populares, as
companhias de transporte marítimo estão sendo amplamente insultadas.
Houve um tempo em que os donos de navios gregos adornavam as capas de
revistas de fofocas e dirigiam times de futebol, seguros do afeto de
milhões de fãs. Mas, hoje em dia, homens como Theodoros Veniamis, um dos
empresários mais ricos do setor no país, precisa de proteção pessoal.
Muitos não saem de casa sem ela.Na lista de gregos odiados por seus compatriotas, os donos de companhias de transporte marítimo quase chegaram ao topo; só os políticos são mais detestados. Eles são ameaçados por grupos radicais de esquerda e até atacados fisicamente. Também houve tentativas de sequestros. Em pelo menos um caso, a família do dono de uma companhia marítima pagou milhões em resgate.
Os magnatas do transporte marítimo na Grécia são considerados gananciosos e inescrupulosos. De acordo com análises internacionais, pelo menos 140 bilhões de euros do setor deixaram de ser tarifados desde 2002, uma quantia que reduziria em quase metade as obrigações financeiras do país criticamente endividado.
Só na Suíça, acredita-se que existam 60 bilhões de euros em fundos gregos, a maioria pertencente a companhias de transporte marítimo. Eles foram em parte acumulados legalmente, graças a uma rede de regulações especiais que permite isenção de impostos para os donos de navios, e em parte ilegalmente, através de sonegação de impostos. No ano passado, Viktor Restis, dono de uma companhia de transporte marítimo, foi preso sob suspeita de lavagem de dinheiro.
"Seguimos nosso próprio metabolismo"
Mas isso não é tudo. A Grécia continua sendo um país em crise. O desemprego está em 27%, a arrecadação de impostos estagnou e Atenas está pechinchando com os credores internacionais por um novo corte nas dívidas. Enquanto isso, as companhias de transporte marítimo estão expandindo suas frotas como se dinheiro não fosse problema.
No ano passado, elas encomendaram 275 novos navios no valor de quase 10 bilhões de euros, mais do que qualquer país no mundo. Uma soma similar foi investida na reforma de suas frotas. Só nas primeiras semanas deste ano, as companhias de comércio exterior gregas encomendaram 15 navios usados e 19 novos no valor de cerca de 5 bilhões. É quase como se não tivesse havido crise no setor ao longo dos últimos anos.
"Seguimos nosso próprio metabolismo", diz Veniamis. "Compramos quando os tempos estão difíceis. É nossa receita para o sucesso." Como muitas companhias gregas de transporte marítimo são empresas familiares – diferentemente das corporações de propriedade pública que formam a maior parte de sua concorrência internacional – elas podem bancar essa estratégia, diz. "O dinheiro vem de nossos próprios bolsos."
Mas quando questionado sobre quando dinheiro chega em seu bolso, ele fica quieto. Veniamis, 63, administra a Golden Union Shipping Company, que tem uma frota de 52 navios. Ele está em 51º lugar na lista do Lloyd's dos donos de transportadoras marítimas mais influentes do mundo. Como presidente do Sindicato de Transportadoras Marítimas da Grécia, ele também fala em nome de aproximadamente 800 famílias do setor que comandam 5 mil navios cargueiros, de contêineres e navios-tanque – a maior frota comercial do mundo em termos de capacidade.
Quando questionado sobre a sonegação de impostos e as investigações de pelo menos 46 empresários do setor, ele se torna evasivo. Na Alemanha também há "muitas formas de evitar pagar impostos", diz Veniamis. "Estamos concorrendo com o mundo inteiro. Mas em nenhum lugar os empresários são tão patriotas."
Ovelhas negras
E quanto à chamada "lista Lagarde", que leva o nome do ex-ministro francês das finanças, que elenca mais de 2 mil contas no exterior em um banco em Genebra? Entre os nomes nas contas, suspeita-se que mais de 100 sejam de donos de companhias de navios e suas mulheres.
"Exceções", diz Veniamis – incidentes isolados, nos quais propriedades privadas ou propriedades familiares passaram pelos balancetes das companhias. Elas são ovelhas negras, diz ele, do tipo que existe em qualquer lugar. Então ele logo mudou de assunto e descreveu como seu grupo apoia 12 mil famílias necessitadas entregando cestas mensais de produtos que contêm de tudo, "de azeite de oliva a croissants."
Veniamis também não gosta de falar sobre o fato de que quase todos os países europeus subsidiam suas companhias de transporte marítimo para mantê-las competitivas com as do Oriente distante. O imposto sobre tonelagem, que é padronizado mundialmente, é uma forma de apoio. É um tipo de imposto uniforme, que depende principalmente do tamanho e capacidade do navio, mas não da renda que ele gera.
A taxa por tonelada difere, mas de acordo com especialistas, não há nenhum outro lugar no mundo onde os donos de navios são poupados dos fardos financeiros da mesma forma que na Grécia.
Mais pressão
As companhias de transporte marítimo gregas, e aquelas que operam no país, são quase isentas de impostos ou taxas, e a renda advinda do comércio internacional não precisa ser taxada de forma alguma. Mesmo quando uma companhia de transporte marítimo vende um navio, ela não paga imposto. O partido de oposição Syriza recentemente contou um total de 58 regras especiais e demandou que elas sejam mudadas. "Nunca tivemos um sistema diferente", diz Veniamis. "Pagamos impostos como pessoas privadas assim como os outros."
Até 7% da produção econômica da Grécia depende do transporte marítimo, diz ele. A marinha mercante do país, segundo ele, emprega mais funcionários locais por navio do que a Alemanha. Mas no fim das contas, isso significa apenas 30 mil gregos e o sindicato dos marinheiros gregos reclama de uma taxa de desemprego de 70%. O sindicato também argumenta que, enquanto os donos de navios gregos pagaram privadamente 15 milhões de euros em impostos para os cofres estatais em 2012, os marinheiros pagaram mais de 55 milhões de euros.
Mas agora os donos de navios estão enfrentando pressão. O governo em Atenas conseguiu que eles aprovassem dobrar voluntariamente as taxas de tonelagem, uma medida que deve se traduzir em 140 milhões em arrecadação do setor de transporte marítimo anualmente durante os próximos três anos.
Os empresários se regozijaram com os elogios do público gerados pelo acordo. Mas as companhias de transporte marítimo acreditam que o acordo custará a elas apenas 100 milhões de euros por ano, bem menos do que espera o Ministério das Finanças. E elas estão pedindo muito mais tempo para pagar a quantia.
Tradutor: Eloise De Vylder
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