Parlamentares franceses desconsideram rompimento e se reúnem com Bashar al-Assad
Yves-Michel Riols, Hélène Bekmezian e Benjamin Barthe - Le Monde
Sana/Reuters
Segundo informações obtidas pelo "Le Monde", os quatro parlamentares franceses levados por Gérard Bapt, deputado do Partido Socialista de Haute-Garonne e presidente do grupo de amizade França-Síria na Assembleia Nacional, também conversaram com o presidente da Assembleia do Povo, Mohamed Jiham Laham, e com o mufti da República, Ahmed Badreddin Hassoun. Pouquíssimas informações vazaram de sua visita, organizada na mais alta discrição e que deve terminar na quarta-feira (25), no final do dia. Bapt não atendeu a nenhum dos repetidos telefonemas do "Le Monde".
A iniciativa dos quatro parlamentares atraiu a reprovação imediata do Ministério das Relações Exteriores, que relembrou a linha diplomática francesa, proibindo qualquer contato com o governo sírio. "Isso não envolve em nada a política externa da França", insiste com irritação um diplomata. "Eles não pediram nossa opinião e não estão indo para Damasco a pedido nosso. Nossa linha permanece intocada: não conversamos com Bashar." Essa política foi instaurada em março de 2012, enquanto o regime estava em situação desesperadora, e que foi concretizada por duas medidas bruscas: o fechamento da embaixada francesa em Damasco e a demissão, dois meses depois, da representante da Síria em Paris.
Reviravolta
Mas a partir dessa data, com a ajuda de seus aliados iranianos e russos, o presidente Assad virou a situação parcialmente a seu favor. A estagnação da insurreição, sua contaminação por grupos radicais e a ascensão do grupo Estado Islâmico (EI) têm colocado à prova a determinação francesa. Os atentados do mês de janeiro em Paris aumentaram ainda mais a pressão sobre o Ministério das Relações Exteriores e a Presidência.Tanto no corpo diplomático como entre as agências de inteligência, há cada vez mais vozes pedindo por uma revisão da política francesa para a Síria, ressaltando que o regime de Assad poderia ajudar na caça aos jihadistas franceses que se juntaram ao EI. Dentro da União Europeia, que impôs inúmeras sanções a Damasco, vários países como Espanha, Áustria e República Tcheca também pedem pela reabertura de um canal de comunicação com o governo sírio. Além de Gérard Bapt, que viaja com frequência a Damasco, e Jacques Myard, membro da comissão de relações exteriores da Assembleia Nacional, a delegação inclui Jean-Pierre Vial, senador (UMP, Haute-Savoie) e presidente do grupo de amizade França-Síria do Senado, bem como François Zocchetto, senador (UDI, Mayenne), também membro desse grupo.
"Missão pessoal"
"É uma missão pessoal para ver o que está acontecendo, ouvir, escutar", declarou Myard à agência de notícias AFP, que afirma que a viagem foi financiada com recursos pessoais de seus participantes. "Paguei minha passagem, paguei meu hotel noite passada em Beirute". E o deputado ainda acrescenta, ao "Le Monde": "Parece que estamos sujeitos ao escárnio público. Adoro isso."Mohamed Jiham Laham, presidente da Assembleia do Povo que se encontrou com os quatro "rebeldes", é um membro do partido Baath, situação. Ainda que a nova constituição síria, adotada em 2012, tenha rompido o monopólio do partido no cenário político e que membros de outros partidos agora estejam na Assembleia, esta continua sendo uma mera receptora das decisões do presidente, que sempre foi recebido ali com salvas de palmas reverenciosas.
O mufti Hassoun, no cargo desde 2005, também é partidário fiel de Assad. Ele sempre propagou as teorias conspiratórias do regime, fazendo da revolução uma operação pura e simples de desestabilização, conduzida por islamitas às ordens das monarquias do Golfo. "Até onde sabemos, é um programa clássico," analisa um ex-diplomata francês em Damasco, que nos anos 2000 viu passar inúmeras delegações parlamentares. "Como não existe partido de oposição, o governo promove encontros entre seus convidados e autoridades religiosas, que evidentemente contam como o regime respeita as minorias e garante a harmonia entre as comunidades. É meio como se um deputado americano em visita à França se encontrasse com o arcebispo de Paris para se inteirar da situação política. É risível."
"Mudar as coisas"
Segundo Myard, os quatro parlamentares também visitaram um hospital, "onde viram atrocidades, meninas feridas por terroristas". Questionado sobre o risco de se absolver um regime banido pela comunidade internacional por seus crimes em massa, estabelecidos por inúmeros relatórios da ONU e de organizações de direitos humanos, o parlamentar de Yvelines, uma forte liderança da Assembleia, também conhecido por suas posições pró-Kremlin na crise ucraniana, se esquivou na resposta."Não absolvo ninguém, mas acho que as coisas não são tão absolutas como querem que acreditemos. E acho que nossa visita mudará as coisas." Entre a direita, na Assembleia Nacional, mais de um deputado quer ver nessa viagem "uma sondagem" em Damasco, visando uma retomada progressiva das relações diplomáticas. Essa teoria é desmentida por Elisabeth Guigou, presidente da comissão das relações exteriores, que afirma não ter sido consultada.
O Palácio do Eliseu segue a mesma linha. "Se tivéssemos mensagens a passar para Damasco, não seria com Bapt que contaríamos", diz um conselheiro de François Hollande. No dia 15 de fevereiro, durante o Grande Encontro Europe 1, com o "Le Monde" e o canal i-Télé, o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius, relembrou a linha defendida pela França na Síria. "Bashar al-Assad não fica devendo nada ao Daesh [acrônimo árabe para o EI] e vice-versa em termos de barbárie. [...] A ideia de que é possível encontrar a paz na Síria confiando em Bashar al-Assad e pensando que ele é o futuro de seu país é uma ideia falsa, na minha opinião".
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