A derrocada da Petrobrás
Suely Caldas - O Estado de S.Paulo
O rebaixamento da nota de risco da Petrobrás foi um trágico
ponto fora da curva para os planos da equipe de Joaquim Levy. A reação,
em seguida, com medidas de cortes drásticos nas despesas do governo e
aumento de impostos sobre salário, tem uma direção: provar aqui e no
exterior que o Brasil fará o que for preciso para não perder sua
classificação de grau de investimento, crucial para reconquistar a
credibilidade, reconstruir o que foi destruído nos últimos quatro anos,
facilitar o acesso a crédito externo e retomar o caminho do crescimento
com novos investimentos.
Outras ações nessa direção estão na mira de Levy, mas ele se esqueceu de
uma de poder limitado para a economia de gastos, mas com força política
de frear a voracidade por cargos públicos de partidos políticos que
ocupam ministérios, estatais e órgãos do governo: suspender contratações
de assessores comissionados - os chamados DAS -, os fisiológicos
parentes, amigos e cabos eleitorais trazidos de fora, que inflacionam a
folha de pagamento, incham o serviço público e ocupam lugar dos
funcionários de carreira. O momento é agora, em início de gestão, quando
ocorrem essas contratações.
Embora tenha assinado os decretos de cortes, continua a dúvida sobre o
real compromisso de Dilma Rousseff com as ações de Levy para corrigir os
erros que ela própria cometeu no primeiro mandato. Sua reação ao
rebaixamento da Petrobrás foi covarde: fugiu dos fatos e o atribuiu a um
simples "desconhecimento do que está acontecendo na empresa". Com o
País mergulhado no atoleiro político e econômico, ela saiu da encolha,
foi ao palanque, prometeu mais programas sociais - como se estivesse em
campanha eleitoral -, mas nenhuma palavra sobre o que fará para tirar o
País do atoleiro.
Em 60 anos de história, a Petrobrás nunca foi tão esmagada, triturada,
humilhada, tratada não como a maior e mais respeitada empresa do País,
mas como reles instrumento político nas mãos de Lula-Dilma e caixa sem
fundo de assaltos e roubalheiras de partidos políticos, funcionários
desonestos e empreiteiras corruptoras.
A Petrobrás conseguiu a classificação grau de investimento em outubro de
2005 (pela mesma Moody's, que agora a rebaixa), quase três anos antes
de o Brasil conseguir a mesma classificação, tal era a confiança de que
ela desfrutava aqui e lá fora. Agora é o País que luta para fugir do
contágio da empresa. Quando ela perdeu o monopólio do petróleo, em 1997,
os descrentes apostavam que seria engolida na concorrência com as
gigantes estrangeiras. A dedicação e competência de seus funcionários e
um plano estratégico liderado pelo então presidente Henri Philippe
Reichstul, focado em sua internacionalização, fizeram ruir a aposta dos
descrentes. Foi quando passou a disparar seu valor patrimonial e de
mercado.
No governo Lula o modelo de negócios da Petrobrás não mudou e até
avançou, mas começaram as indicações de partidos políticos para cargos
de direção e de sindicalistas para 2.º e 3.º escalões. Os ocupantes não
eram mais pessoas de fora da empresa, como no passado, mas funcionários
de carreira cooptados, que se defendiam argumentando que sem padrinho
político nunca seriam promovidos. Virou rotina. Quem resistia era
demitido e substituído pelos cooptados, que recebiam a missão de
subtrair dinheiro da empresa para partidos políticos, sobretudo PT, PMDB
e PP. É o que a Operação Lava Jato tem desvendado.
Dilma Rousseff tentou se livrar dos corruptos e autorizou a
ex-presidente Graça Foster a substituir toda a diretoria. Mas foi com
Dilma que ocorreram os mais graves erros de gestão, decorrentes do uso
político da empresa. Além do longo congelamento dos preços dos
combustíveis, que esvaziou o caixa, Dilma exigiu que a Petrobrás atuasse
como única operadora e entrasse com um mínimo de 30% do dinheiro
investido em cada poço do pré-sal. Era a ultrapassada visão
intervencionista e estatizante de juventude que Dilma impôs à Petrobrás e
a levou a um nível de endividamento insuportável, maior responsável
pelo seu rebaixamento na classificação de risco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário