terça-feira, 29 de abril de 2008

Estalinização à vista
Não tendo muitos problemas para solucionar neste país, o governo resolveu se intrometer na vida privada daqueles que o sustentam a pão-de-ló. Baixou uma lei que controla a quantidade de caixas de remédios com uso restrito por cada receita. A desculpa é que o pobre não tem dinheiro para comprar as três embalagens, como era de praxe receitadas. Segundo a dit..., oops, o governo, o que o pobre não tinha condições de comprar, o farmacêutico colocava no mercado negro (venda sem receita). Muito me espanta os farmacêuticos não terem se manifestado!
Ora, se a pessoa tem a intenção de adquirir esse remédio para fazer uso de maneira incorreta, não é a falta de uma receita azul que vai impedi-lo. Compra-se cocaína em qualquer boteco de qualquer cidade, e ele vem com esse problema?
O caso poderia ser solucionado se eles parassem de gastar nosso dinheiro com despesas ainda a explicar, e fornecessem o remédio gratuitamente à população carente (com a retençao da receita azul, é claro).
Agora, e as pessoas que se consultam com médicos de outras cidades e têm necessidade desse remédio? O que elas vão fazer? Viajar todos os meses para conseguir outra receita (elas não possuem cartão corporativo, e elas além disso, trabalham, fato que passou desapercebido por aqueles que nunca trabalharam!), ou pedir pelo correio? Enfim, parece que o governo fica pensando uma forma de dificultar cada vez mais a nossa vida.
Aliás, para que existe governo?
Bônus track
Grande poeta britânico, Wystan Hugh Auden (1907/1973), conhecido como W. H. Auden, ganhou fama junto às novas gerações graças ao filme Quatro Casamentos e Um Funeral, quando um dos personagens recita o poema abaixo transcrito:
Blues Fúnebres
W. H. Auden
Que parem os relógios, cale o telefone,
jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais,
que emudeça o piano e que o tambor sancione
a vinda do caixão com seu cortejo atrás.
Que os aviões, gemendo acima em alvoroço,
escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu.
Que as pombas guardem luto - um laço no pescoço -
e os guardas usem finas luvas cor de breu.
Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto
viveu, meus dias úteis, meus fins de semana.
meu meio-dia, meia-noite, fala e canto;
quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana.
É hora de apagar estrelas - são molestas -
guardar a lua, desmontar o sol brilhante,
de despejar o mar, jogar fora as florestas,
pois nada mais há de dar certo doravante.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Bônus track de Segunda-feira Este é dedicado à Vitória, futura engenheira civil, que transformará a selva de pedra em um lugar habitável. O poema que segue é do Bruno Tolentino, grande poeta, questionador nato e polêmico por necessidade. ÚLTIMA REPARAÇÃO (...) Linda, é verdade, esta vida é sempre, ou quase que sempre cega, brutal, e a tal da "obra" é um ritual como o da cobra no matagal; uma é só charme e a outra é a carne da feiticeira cheirando a enxofre; a que cedo ou tarde nos maravilha, não porque sofre numa fogueira, mas porque brilha enquanto arde - como a romã nossa parceira de imitação até ao final! Mas por que não se a arte, etc..., essa promessa meio malsã que desespera a alma pagã, tanto persuade quanto sufoca e beija na boca e nos envenena na última cena que anula a peça? Tudo é ilusão. Mas como não se a vida, a vida - nossa romã bela e fingida - é temporã é traiçoeira e a arte, a poesia, é a cada dia menos verdade e mais fantasia pela metade, menos confessa, menos da gente, mais francamente coisa da mente, conquanto seja o melhor do ser. Até que o vejam abrir as veias para morrer, a vida é pouca e a arte uma louca indiferente, senão alheia ao Bem e ao Belo, porque assim é todo o castelo feito de areia na maré cheia (...)

domingo, 27 de abril de 2008

Bônus track de Domingo
Adelir é o nome dele
Amplamente noticiado junto à comunidade esclarecida, agora com uma boa foto (Caderno Aliás, página J8) exemplificando um espécime do gênero, o MOVIMENTO DOS SEM NOÇÃO, finalmente dá as caras.
Finalmente, porque eles agem em conjunto, apostando na coletividade bovina para não serem motivos de pilhérias.
Agora, creio que seria melhor se esse sujeito doasse todo o seu sangue e todos os seus órgãos, do que suicidar-se de uma forma tão idiota. A quantidade de pessoas dispostas a morrer em gestos inúteis dá a dimensão da crise deste país.
O nosso guia poderia inspirar-se no exemplo... não a doação, o balão, o balão!
Volto só na terça-feira, se o nosso líder permitir, é claro...

sábado, 26 de abril de 2008

Literatura
Segue, aqui, uma homenagem a um dos brilhantes escritores portugueses, que por serem muito legais, não caem no vestibular!
Húmus
Raul Brandão
"15 de Novembro
As paixões dormem, o riso postiço criou cama, as mãos habituaram-se a fazer todos os dias os mesmos gestos. A mesma teia pegajosa envolve e neutraliza, e só um ruído sobreleva, o da morte, que tem diante de si o tempo ilimitado para roer. (...)
A ambição não avança um pé sem ter outro assente, a manha anda e desanda, e por mais que se escute, não se lhe ouvem os passos. Na aparência, é a insignificância a lei da vida; é a insignificância que governa a vila (...)
Já a mentira é de outra casta, faz-se de mil cores e toda a gente a acha agradável (...)
Todos os dias dizemos as mesmas palavras, cumprimentamos com o mesmo sorriso e fazemos as mesmas mesuras. Petrificam os hábitos lentamente acumulados.
E o tempo mói: mói a ambição e o fel e torna as figuras grotescas."
Se você sente-se como eu e gostou do texto acima, manifeste-se aqui, neste blog, e outros de igual qualidade serão postados brevemente.
Nasrudin
Há quem diga que Nasrudim nasceu e viveu numa pequena cidade da Turquia por volta do século XIII.
O peso da culpa
Um dia, ao voltarem para casa, Mullá Nasrudin e sua mulher encontram-na assaltada. Tudo que poderia ser carregado o foi.
"A culpa é sua", disse sua mulher, "porque deveria ter se certificado, antes de saírmos, de que a casa estava trancada."
Os vizinhos batem na mesma tecla:
"Você não trancou as janelas", disse um deles.
"Você não se preveniu para uma situação como essa", disse outro deles.
"As trancas estavam com defeito e você não as substituiu", disse um terceiro.
"Um momento", disse Nasrudin, "certamente não sou o único culpado, creio."
"Diga-nos, então quem são os outros culpados!", gritaram todos.
"Que tal culparmos os ladões!", disse o Mullá.
Esse pequeno conto data do século XIII e faz parte de um conjunto de contos do sufismo oriental.
Mas bem que poderia espelhar a situação vivida por milhares de brasileiros, que são acusados de "darem sopa" para os ladrões. Enquanto os ladrões são protegidos por inúmeras ONGS e instituições religiosas que pululam neste inferno que virou o Brasil!
Dica
Suítes para violoncelo, de J. S. Bach, executadas por Pablo Casals, é incomparável no sentimento, na paixão com que ele toca o instrumento. Se você quer alguns momentos de paz e introspecção, deixar de lado, pelo menos alguns instantes, esse mundo que anda tão complicado, mergulhe no lamento do violoncelo solo desse gênio da música clássica!
Pablo Casals gravou essas obras na década de 30, e a tocava todos os dias de manhã, como se fossem preces direcionadas a Deus, pelas coisas belas que Ele colocou em seu caminho.
Dica II
Rock: se tem um vocalista que despertou em mim uma nova esperança de um frontsman que pudesse segurar a galera nos shows só com o gogó, sem pintura, sangue escorrendo e outras tolices, esse cara é Jorn Lande, cheio de projetos solo, participações especiais em obras famosas, está destruidor!
Seus álbuns The Duke e Live in América (com vários covers - Deep Purple, Black Sabbath, Whitesnake, etc) são um bálsamo para os ouvidos rockeiros já acostumados aos rockões clássicos e eternos dos anos 70 e 80.
Chega de grupelhos com imagens andróginas e cara de enfado que querem chocar ou conquistar (depende do gosto de cada um...) os jovens que estão se iniciando no mundo do rock'n'roll!
Em Frontispício
"Eu vos compensarei pelos anos que o gafanhoto comeu ..."
Joel, 2:25
O Senhor prometera nos compensar os anos
que a legião de gafanhotos devorara,
meu coração, mas a promessa era tão rara
que achei mais natural vê-lo mudar de planos
que afinal ocupar-Se de assuntos tão mundanos.
Assombra-me, portanto, ver uma luz tão clara
fecundar-me as cantigas, coração meu - repara
como crescem as espigas entre escombros humanos...
Naturalmente, quem seu eu para que Deus
cumprisse em minha vida promessa tão perfeita,
e no entanto ei-Lo arando, limpando os olhos meus,
fazendo-os ver que, no trigal em que se deita
a luz dourada e musical, se algo perdeu-se
foi como o grão - entre a seara e a colheita.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O ESTADO DAS COISAS II
Sobre o homem-massa: Fiz referência ao homem-massa em postagem passada, agora, dou algumas dicas sobre livros, que, clássicos, tratam do assunto: Mais famoso, o livro de Ortega Y Gasset, chamado a Rebelião das Massas (ed. Martins Fontes), que trata da emergência de uma multidão desprovida de qualquer noção de bom senso, de cultura, e, que acaba se constituindo na origem do politicamente correto (o tal racíocínio bovino). Um outro livro clássico chama-se " A Cultura Inculta" (ed. Europa-América), de Allan Bloom, que traça as perspectivas culturais de uma sociedade em franco processo de decadência cultural. Finalizando, existe o livro de José Ingenieros, "O Homem Medíocre" (Ícone Editora), que aborda o mesmo assunto, porém, voltado para um público estudante, sendo assim, é de leitura mais fácil.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Inspiração:
Epigrama nº 8

C. Meireles

Encostei-me a ti, sabendo que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí.
Doxa:
Não satisfeitos em ocupar quase todos os espaços da grande mídia, formando o homem-massa de Ortega Y Gasset, os militantes (intelectuais ou não e políticos da "base aliada?") querem agora interferir na programação da TV por assinatura.
É o processo de estalinização tupiniquim em andamento.
Esse processo se intensifica, aproveitando um período em que voltamos a um populismo de esquerda dos mais rasteiros que se tem notícia! Vale lembrar que o nosso guia prometeu ensinar o pobre a pescar, que ele não daria o peixe... Infelizmente, o nosso líder preferiu o caminho mais fácil.
O homem-massa é uma realidade incontestável: o raciocínio bovino e filistinismo cultural: programas horrorosos na televisão, BBB, a exploração das trágédias cotidianas, enfim a apeirokalia que espalha-se como uma praga, e o que difencia os homens dos animais vai ficando cada vez mais imperceptível.
Que programas nacionais eles estão pensando em exibir nos canais que eu pago para assistir?
Filmes nacionais que tratam de traficantes, favelados, funkeiros, cangaceiros ou alguma coisa ligada à "estética latino-americana" (que tal um BBB em Cuba - quem não morrer de fome ganha o prêmio?!).
Será que teremos programas de entrevista "cabeça" com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Tom Zé e outros dessa fauna que abunda em nosso país?
Diário da Taba:
Ah, se todos fossem iguais a você
Se todos os políticos da Taba seguissem o exemplo do Sr. Arlindo Araújo, que exercendo o cargo para o qual foi eleito com votos de pessoas iluminadas, tenta fazer alguma coisa pela população, com certeza a Taba estaria em melhores condições do que se encontra atualmente. Parabéns pelo trabalho! Antes uma bela ária, do que um coro de gralhas!
Não, eu não o conheço pessoalmente. Então, os habitantes da Taba que buscarem alguma relação entre nós, vai acabar sem apito (nós sabemos que o que eles querem é isso, apito).
Dica:
Japanese Melodies, de Yo-Yo Ma, um violoncelista chinês, que toca com a precisão e a delicadeza de sempre, melodias japonesas. Em época de aniversário -100 anos de imigração japonesa para o Brasil, compensa dar um conferida. Pelo menos tira a má impressão causada pela revisa Caros Amigos - edição especial - Japão.
A comunidade japonesa é muito mais do que essa porcaria relatada nesse lixo impresso e vendido nas bancas a extorsivos R$ 8,90.
Ufa!
O Enterro dos Mortos

T.S. Eliot

Abril é o mais cruel dos meses, germina Lilases da terra morta, mistura Memória e desejo, aviva Agônicas raízes com a chuva da primavera. O inverno nos agasalhava, envolvendo A terra em neve deslembrada, nutrindo Com secos tubérculos o que ainda restava de vida (...) Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham Nessa imundície pedregosa? Filho do homem, Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol, E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas Uma sombra medra sob esta rocha escarlate. (Chega-te à sombra desta rocha escarlate), E vou mostrar-te algo distinto De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando; Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Prometeu

Prometeu leva o fogo à humanidade,
tela de heinrichFriedrich Füger de 1817