sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O contato dos jihadistas franceses no Paquistão
Jacques Follorou - Le Monde
Considerado pelos serviços europeus de inteligência como o pivô do recrutamento jihadista vindo da Europa, Moez Garsallaoui teria sido morto, no dia 10 de outubro, durante um ataque de avião não tripulado americano ao vilarejo de Mir Ali, no Waziristão do Norte, uma das sete agências tribais do Paquistão. Segundo a Justiça francesa antiterrorista, esse belga-tunisiano coordenava, desde 2008, as redes jihadistas europeias. Depois, à medida que essas redes foram desmanteladas, ele tinha por função receber no local, nas zonas tribais, os candidatos muitas vezes isolados no jihad.
Segundo uma fonte na procuradoria de Paris, testemunhos colhidos no processo e considerados “confiáveis” atestam que ele teria cuidado de “pelo menos seis franceses” no Waziristão do Norte. A essa estimativa é preciso somar o caso de Mohamed Merah, que ele teria encontrado durante sua passagem pela região.
“Entre todos os exemplos que conhecemos,” afirma esse mesmo membro da procuradoria, “Merah foi aquele que menos tempo permaneceu no local, entre dez e doze dias, pouco demais para receber um treinamento”.
Já os serviços de inteligência franceses confirmam a duração de sua estada e não negam “a possibilidade de um contato físico” entre os dois homens. No entanto, eles afirmam que os e-mails enviados por Merah nessa região, cujas cópias foram encaminhadas por seus homólogos americanos, negam que tenha havido qualquer diálogo com Garsallaoui por esse meio.
Este último também teria recebido Naamen Meziche, 42, um franco-argelino jihadista consumado, atualmente detido no Paquistão depois de ser preso quando tentava sair do país na direção da Somália.
Garsallaoui não administrava somente os franceses. Ele cuidava dos islamitas estrangeiros que vinham até a região, uma tarefa que também cabia ao Movimento Islâmico do Uzbequistão (MIU), um grupo afiliado à Al Qaeda.
Essa organização interna lembra que não basta para os futuros recrutas virem até as zonas tribais para entrar nas células combatentes ou nos campos de treinamento. A Al Qaeda instaurou regras de segurança rígidas para evitar infiltrações de informantes que permitam a CIA orientar seus ataques de aviões não tripulados. Dos 38 tiros realizados por esses aparelhos sem pilotos sobre solo paquistanês, desde janeiro, 17 atingiram o Waziristão do Norte e dois o Waziristão do Sul.
Segundo a Justiça francesa, os franceses que residem nessa zona podem ser “tratados com violência” se não inspirarem confiança. Segundo um magistrado, “uma recomendação junto a uma figura como Garsallaoui mudava notavelmente a recepção reservada aos aprendizes de jihadistas, mas depois é preciso convencer, do contrário pode-se ficar varrendo durante um ano”.
Esses jovens franceses que vão por conta própria até áreas complicadas nem sempre chegam ao seu destino. No início de 2011, dois franceses, Charaf Din, 25, e Ahmed Ibzaal , 23, foram presos em Lahore assim que desceram do avião. Mas a morte de Garsallaoui, que não foi confirmada ao “Le Monde” por um alto representante dos serviços secretos militares paquistaneses em Islamabad, fazia parte do trabalho de erradicação das tropas da Al Qaeda na região pela CIA que se acelerou desde a morte de seu líder, Osama Bin Laden, no dia 2 de maio de 2011.
Segundo o relatório de 2010 do serviço de inteligência da confederação suíça, Garsallaoui, no dia 9 de setembro de 2011, em 2007 estava vivendo na cidade de Düdingen, no cantão de Friburgo, onde ele recebia auxílio social. Ele é casado com a viúva de um dos assassinos do comandante Ahmed Shah Massoud.
Ele foi condenado no mesmo ano a uma pena leve “por propagação de ideias jihadistas”. Seu website divulgava cenas de decapitação de reféns em mãos de grupos afiliados à Al Qaeda e publicava reivindicações de atentados. Pouco tempo depois, ele partiu para zonas tribais.
Tradutor: Lana Lim

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