terça-feira, 29 de abril de 2014

Reitor expõe crise e diz que fundo de R$ 2,3 bi da USP acabaria em 2 anos
Em carta à comunidade acadêmica, nova administração revela gravidade nas contas; se gastos continuassem no ritmo da gestão de Rodas, Comissão de Orçamento previa fim de ‘poupança’ em 1 ano
Bárbara Ferreira Santos e Victor Vieira - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Após 90 dias à frente da Universidade de São Paulo (USP), o reitor Marco Antonio Zago enviou nesta segunda-feira, 28, uma carta a professores, funcionários e alunos da instituição para explicar a crise orçamentária. Ele criticou a falta de transparência da gestão de João Grandino Rodas e afirmou que, desde 2012, a USP perdeu R$ 1,3 bilhão de sua reserva. A "poupança" é usada para gastos que excedam o orçamento - no ano passado, o repasse total do governo do Estado foi de R$ 4,35 bilhões.
Só com a folha de pagamento, a instituição já compromete 105,14% do orçamento - NILTON FUKUDA/ESTADÃO-22/1/2014
NILTON FUKUDA/ESTADÃO-22/1/2014
Só com a folha de pagamento, a instituição 
já compromete 105,14% do orçamento
Ao Estado, revelou, por e-mail, que, se os gastos continuassem no ritmo em que estavam e não houvesse uma "política responsável de austeridade", a reserva "se esgotaria em um ano e meio ou, no máximo, em dois anos".
O presidente da Comissão de Orçamento e Patrimônio da USP, o professor e diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEARP), Sigismundo Bialoskorski Neto, disse que a reserva se esgotaria em ainda menos tempo. "Em determinado momento, isso poderia acontecer no início do próximo ano. A universidade teria em torno de mais 12 ou 15 meses, até que estivesse em uma situação realmente complicada, sem esse fundo para contingência."
Rodas foi procurado por e-mail e telefone durante a tarde desta segunda-feira, mas não respondeu aos pedidos de entrevista.
Zago afirmou na carta enviada à comunidade acadêmica que a reserva da USP passou de R$ 3,61 bilhões, em junho de 2012, para R$ 2,56 bilhões, no fim de 2013. Segundo ele, só nos três primeiros meses do ano, o valor total teve ainda uma redução de R$ 250 milhões, indo para R$ 2,31 bilhões, "em função de compromissos assumidos anteriormente e só pagos em 2014".
Em clara crítica à gestão anterior, Zago afirmou que, quando estava no cargo de pró-reitor de Pesquisa, durante a administração de Rodas, não tinha conhecimento sobre a situação orçamentária da instituição, "compartilhada por poucas pessoas". Segundo ele, os pró-reitores não eram chamados para o planejamento financeiro. "Cada um apresentava as propostas de programas específicos de sua área (graduação, pós-graduação, pesquisa, cultura e extensão)", disse ao Estado.
Para ajustar o orçamento da universidade, Zago paralisou as contratações de pessoal - principal gargalo nas contas da USP -, até mesmo as substituições de aposentados ou demitidos. Só com a folha de pagamento, a universidade tem 105,14% do orçamento comprometido atualmente.
Gastos com investimentos e pesquisa também foram cortados. "Novas construções tiveram de ser suspensas, sem consideração de prioridade ou interesse acadêmico: simplesmente não há recursos para atender a novos prédios", disse, em trecho da carta.
‘Saúde’. Segundo Bialoskorski Neto, para o orçamento da universidade voltar a um nível saudável seria preciso também considerar a variável de crescimento da arrecadação estadual e, consequentemente, do repasse às universidades estaduais. "A gente espera um ajustamento dessa folha salarial para 85%, 87%, ao longo dos próximos dois anos, o que já começa a ser um patamar saudável. Mas depende das variáveis econômicas, uma vez que os salários não podem ser reajustados."
Ele também disse que, na gestão anterior, o Conselho Universitário, órgão máximo da universidade, apenas acompanhava a aprovação da peça orçamentária do ano seguinte - e não a execução. "Nos últimos três meses, o conselho aprova e acompanha os gastos."
No fim da carta, o reitor admitiu que, se sua política de cortes de investimentos e suspensão de contratações for "mantida por um longo prazo, poderá trazer enormes prejuízos para a instituição". Zago afirmou, no entanto, que vai "atuar para minimizar os efeitos negativos dessas medidas, buscando atender às situações de maior emergência ou gravidade".

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