quinta-feira, 30 de julho de 2015

Estudo vê risco de crise humanitária na Venezuela
Relatório do ICG alerta que colapso na saúde geraria migração maciça
Escassez de remédios e fuga de médicos para o exterior são alguns dos problemas; governo não comentou texto
SAMY ADGHIRNI - FSP
O colapso da saúde pública na Venezuela está empurrando o país rumo a uma crise humanitária, segundo o International Crisis Group (ICG), um dos centros de estudo mais respeitados do mundo.
Em relatório divulgado nesta quarta-feira (29), o ICG diz que o governo ainda pode tomar medidas para evitar uma crise humanitária capaz de afetar países vizinhos, principalmente a Colômbia, sujeita à migração maciça de venezuelanos.
O estudo corrobora avaliação de embaixadas e organismos multilaterais em Caracas, que temem que o governo chavista de Nicolás Maduro, por razões ideológicas, jamais reconheça a necessidade de ajuda externa.
Segundo o ICG, um dos temas mais urgentes é a escassez de remédios, que reflete problema mais amplo num país com rígido controle de câmbio, em que o governo deixou de fornecer dólares necessários às importações.
Em Caracas, 60% dos medicamentos estão em falta. No interior, 70%. Hemofílicos, pacientes de câncer e soropositivos estão em situação de desespero.
A dificuldade de importar também afeta o abastecimento em insumos médicos e peças de reposição para equipamentos hospitalares.
Sem condições de trabalho, ao menos 10 mil médicos emigraram.
Na maior maternidade de Caracas, a UTI ficou sem funcionar de 2009 a 2014, e o setor neonatal carece de pelo menos 41 médicos.
O ICG diz que este tipo de deficiência está por trás da alta de mortalidade materna de 92 para cada 100 mil nascimentos, em 2012, ainda sob Hugo Chávez, para 110/mil no ano seguinte, no primeiro ano de Maduro. O índice é um dos mais altos da região.
Nenhum dos seis hospitais gerais prometidos pelo então presidente Hugo Chávez em 2007 foi construído.
O ICG cobra do governo dados de saúde pública. Num país afetado por dengue, chikungunya e malária, o último boletim epidemiológico remonta a novembro de 2014.
Autoridades não retornaram contato feito pela Folha.
ECONOMIA
O relatório do ICG também faz alerta sobre a situação econômica. A Venezuela tem a inflação mais alta do mundo (avaliada em ao menos 100%) e deve sofrer queda do PIB de 7% em 2015, após recuo de 4% em 2014.
A isso somam-se controle de preços e expropriações que devastaram empresas privadas, minando a produção agrícola num país petroleiro que importa quase tudo que consome.
O colapso da distribuição de alimentos causa filas e dificuldade para encontrar variedade necessária a uma vida saudável. "A má alimentação gera combinação paradoxal de desnutrição e obesidade", diz o texto.

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