Execução de clérigo xiita na Arábia Saudita desencadeia onda de protestos no Irã. Após ataque à embaixada saudita em Teerã, Riad corta relações e dá 48 horas para que diplomatas iranianos deixem reino sunita
A ruptura se dá menos de 24 horas após o aiatolá iraniano Ali
Khamenei afirmar na TV que os sauditas sofreriam a "vingança divina" e
manifestantes iranianos atacarem a embaixada do reino sunita em Teerã.
"O injusto derramamento de sangue deste mártir oprimido sem dúvida terá
consequência, e a vingança divina cairá sobre os políticos sauditas",
discursou Khamenei na TV estatal iraniana, ao condenar a execução de
Al-Nimr. No mesmo dia, manifestantes foram até a embaixada saudita na
capital iraniana para protestar, e alguns chegaram a invadi-la. Alvo de
coquetéis molotov, o prédio começou a pegar fogo, contido mais tarde
pelos bombeiros.
Ao anunciar a suspensão das relações diplomáticas, Al-Jubeir afirmou que Riad não permitiria que Teerã "minasse a segurança do reino sunita".
Em Teerã, manifestantes protestam em frente da embaixada saudita contra a execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr(Raheb Homavandi/Reuters)
Nações Unidas - Também neste domingo, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein, pôs em dúvida o respeito às garantias processuais na Arábia Saudita e lamentou, em comunicado, as execuções. Zeid destacou que o clérigo xiita não foi acusado de nenhum crime grave. "Sob a legislação internacional de Direitos Humanos, a pena de morte pode ser imposta, nos países onde existe este castigo, apenas se for cumprida uma série de requerimentos de procedimento e se tiver havido um julgamento justo", declarou o alto comissário da ONU.
Zeid ressaltou que ele mesmo já havia protestado perante o governo saudita quando essa condenação foi anunciada. Além disso, Zeid se mostrou extremamente preocupado pelo alto número de execuções na Arábia Saudita no último ano, com pelo menos 157 documentadas em 2015, comparado com as 90 de 2014, o número mais elevado desde 1995. As execuções de ontem aconteceram de forma simultânea em doze regiões do país por meio de decapitações por sabre e fuzilamentos.
Execuções - Os 47 executados no sábado - 45 sauditas, um egípcio e um chadiano - eram acusados de terrorismo. Entre eles havia sunitas radicais e alguns destacados membros da rede terrorista Al Qaeda, mas também quatro ativistas xiitas. Al-Nimr, o pivô da tensão entre os países, era um clérigo de 56 anos e um carismático líder religioso que proferia discursos inflamados exigindo mais direitos para a sua minoria no reino liderado por sunitas.
Al-Nimr era um dos propagandistas dos protestos que se iniciaram em 2011 no Leste do país, e a sua execução desencadeou uma reação de ira por todo o Oriente Médio. A pena capital contra ele foi confirmada em outubro do ano passado pela Corte Suprema da Arábia Saudita, que o culpou por desobedecer às autoridades e instigar a violência sectária, após ter sido detido em 2012 por apoiar os protestos contra o governo em Al Qatif, no leste do país e de maioria xiita.
O clérigo xiita Nimr al-Nimr, executado na Arábia Saudita(Saudi Press Agency/Reuters)
Rivalidade - Os dois países do Oriente Médio, ambos estados teocráticos e grandes produtores de petróleo, mantêm relações conflituosas há várias décadas por razões religiosas, políticas e econômicas.
A Arábia Saudita, de maioria sunita, tem no Irã, xiita, o seu maior inimigo no mundo islâmico. São vários os campos de batalha que os opõem, frequentemente em confrontos por procuração, como na Síria e no Iêmen.
A animosidade, porém, cresceu na última década. Em 2011, os Estados Unidos, aliados históricos dos sauditas, alegaram que os iranianos organizaram um complô para assassinar o embaixador árabe em solo americano, fato negado por Teerã.
Em 2014, iranianos acusaram os sauditas de financiarem a campanha do grupo terrorista Estado Islâmico na Síria e Iraque. Em 2015, o acordo nuclear de potências ocidentais com o Irã irritou ainda mais os sauditas, que já mandaram avisar que agora também se acham no direito de investir em seu próprio programa nuclear.
Ao anunciar a suspensão das relações diplomáticas, Al-Jubeir afirmou que Riad não permitiria que Teerã "minasse a segurança do reino sunita".
Em Teerã, manifestantes protestam em frente da embaixada saudita contra a execução do clérigo xiita Nimr al-Nimr(Raheb Homavandi/Reuters)
Nações Unidas - Também neste domingo, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein, pôs em dúvida o respeito às garantias processuais na Arábia Saudita e lamentou, em comunicado, as execuções. Zeid destacou que o clérigo xiita não foi acusado de nenhum crime grave. "Sob a legislação internacional de Direitos Humanos, a pena de morte pode ser imposta, nos países onde existe este castigo, apenas se for cumprida uma série de requerimentos de procedimento e se tiver havido um julgamento justo", declarou o alto comissário da ONU.
Zeid ressaltou que ele mesmo já havia protestado perante o governo saudita quando essa condenação foi anunciada. Além disso, Zeid se mostrou extremamente preocupado pelo alto número de execuções na Arábia Saudita no último ano, com pelo menos 157 documentadas em 2015, comparado com as 90 de 2014, o número mais elevado desde 1995. As execuções de ontem aconteceram de forma simultânea em doze regiões do país por meio de decapitações por sabre e fuzilamentos.
Execuções - Os 47 executados no sábado - 45 sauditas, um egípcio e um chadiano - eram acusados de terrorismo. Entre eles havia sunitas radicais e alguns destacados membros da rede terrorista Al Qaeda, mas também quatro ativistas xiitas. Al-Nimr, o pivô da tensão entre os países, era um clérigo de 56 anos e um carismático líder religioso que proferia discursos inflamados exigindo mais direitos para a sua minoria no reino liderado por sunitas.
Al-Nimr era um dos propagandistas dos protestos que se iniciaram em 2011 no Leste do país, e a sua execução desencadeou uma reação de ira por todo o Oriente Médio. A pena capital contra ele foi confirmada em outubro do ano passado pela Corte Suprema da Arábia Saudita, que o culpou por desobedecer às autoridades e instigar a violência sectária, após ter sido detido em 2012 por apoiar os protestos contra o governo em Al Qatif, no leste do país e de maioria xiita.
O clérigo xiita Nimr al-Nimr, executado na Arábia Saudita(Saudi Press Agency/Reuters)
Rivalidade - Os dois países do Oriente Médio, ambos estados teocráticos e grandes produtores de petróleo, mantêm relações conflituosas há várias décadas por razões religiosas, políticas e econômicas.
A Arábia Saudita, de maioria sunita, tem no Irã, xiita, o seu maior inimigo no mundo islâmico. São vários os campos de batalha que os opõem, frequentemente em confrontos por procuração, como na Síria e no Iêmen.
A animosidade, porém, cresceu na última década. Em 2011, os Estados Unidos, aliados históricos dos sauditas, alegaram que os iranianos organizaram um complô para assassinar o embaixador árabe em solo americano, fato negado por Teerã.
Em 2014, iranianos acusaram os sauditas de financiarem a campanha do grupo terrorista Estado Islâmico na Síria e Iraque. Em 2015, o acordo nuclear de potências ocidentais com o Irã irritou ainda mais os sauditas, que já mandaram avisar que agora também se acham no direito de investir em seu próprio programa nuclear.
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