Amor não é a resposta contra atentado terrorista
Joel Pinheiro da Fonseca - FSP
Já virou clichê. Um atentado mata dezenas na Europa e logo vem a reação:
mostras de amor para combater o ódio. Hashtags de apoio
(#PrayForLondon), flores, velas, mãos dadas, todos cantando John Lennon e
pedindo paz. Belo e inútil. Para a mentalidade terrorista, é uma
civilização de joelhos, pedindo mais. O amor não é a resposta.
Primeiro precisamos ter coragem de nomear o perigo corretamente. Foi o
que o governo inglês fez: extremismo islamista. Não são mórmons nem
judeus; trata-se de algo específico da comunidade islâmica. Ao mesmo
tempo, não está se falando do islã enquanto tal, mas de uma versão (ou
perversão) sua, uma ideologia tóxica que prega a destruição de tudo que
se desvia de seu estreito fundamentalismo.
Se a culpa fosse do islã, os terroristas teriam profunda vivência
religiosa; não têm. Por exemplo: Salman Abedi, o homem-bomba de
Manchester, era um jovem normal de família líbia nascido na Inglaterra.
Bebia vodka e fumava maconha. De uns anos para cá, largou a faculdade,
se deixou seduzir pelo Estado Islâmico (EI) e se radicalizou.
Finalmente, viajou para a Líbia, onde recebeu treinamento para então
voltar à Inglaterra.
Para o jovem muçulmano em crise, a fé ancestral é uma identidade
positiva, uma fonte de orgulho. É comum um jovem se revoltar com seu
meio. Isso nunca vai mudar. O que dá para combater é uma estrutura
pronta para o aliciar, potencializar sua alienação e o ajudar a conduzir
um ataque. Esse deve ser o foco de combate, com vigilância mais cerrada
sobre pregadores radicais, controle das fronteiras e medidas de bom
senso como revogar a nacionalidade de quem se juntar ao EI.
A tara politicamente correta de dividir o mundo entre oprimidos e
opressores só agrava o problema. Ver-se como parte de um grupo oprimido
aumenta o ressentimento e justifica a animosidade. A ideia é, ademais,
falsa: muçulmanos ingleses gozam de oportunidades inexistentes em seus
países de origem.
Esquerda politicamente correta e direita islamofóbica buscam separar. O
caminho é o inverso: promover a integração -social, cultural e
econômica- dos muçulmanos na Europa, por exemplo reduzindo barreiras à
entrada no mercado de trabalho e combatendo o preconceito.
Nesse ponto, a América passou na frente e as consequências são notáveis.
Nos EUA, uma pesquisa do Pew Research de 2015 ("U.S. Public becoming
less religious") revelou que muçulmanos americanos são mais tolerantes
que evangélicos. 45% deles aprovam a homossexualidade, contra 36% dos
evangélicos.
Por aqui, em entrevista de março, Ali Houssein El-Zoghbi,
vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas no Brasil,
disse: "Nós brasileiros, de uma formação étnica múltipla, devemos ter
[...] aceitação das diferenças culturais, que fazem parte do DNA de
nossa nação". Mais brasileiro impossível.
Empunhar a bandeira da guerra civilizacional -comprando assim, a
narrativa de EI, Al Qaeda e outros- é empurrar milhões de cidadãos
pacíficos para os braços do extremismo, forçando-os a escolher entre sua
pátria e sua identidade; ser ocidental ou ser muçulmano.
5% da população inglesa é muçulmana. Mesmo deixando de lado
considerações humanitárias, é impossível "se livrar" dela. Ou teremos
integração ou mais derramamento de sangue. Nem amor, nem ódio; a
situação pede inteligência.
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