terça-feira, 6 de junho de 2017

Amor não é a resposta contra atentado terrorista
Joel Pinheiro da Fonseca - FSP
Já virou clichê. Um atentado mata dezenas na Europa e logo vem a reação: mostras de amor para combater o ódio. Hashtags de apoio (#PrayForLondon), flores, velas, mãos dadas, todos cantando John Lennon e pedindo paz. Belo e inútil. Para a mentalidade terrorista, é uma civilização de joelhos, pedindo mais. O amor não é a resposta.
Primeiro precisamos ter coragem de nomear o perigo corretamente. Foi o que o governo inglês fez: extremismo islamista. Não são mórmons nem judeus; trata-se de algo específico da comunidade islâmica. Ao mesmo tempo, não está se falando do islã enquanto tal, mas de uma versão (ou perversão) sua, uma ideologia tóxica que prega a destruição de tudo que se desvia de seu estreito fundamentalismo.
Se a culpa fosse do islã, os terroristas teriam profunda vivência religiosa; não têm. Por exemplo: Salman Abedi, o homem-bomba de Manchester, era um jovem normal de família líbia nascido na Inglaterra. Bebia vodka e fumava maconha. De uns anos para cá, largou a faculdade, se deixou seduzir pelo Estado Islâmico (EI) e se radicalizou. Finalmente, viajou para a Líbia, onde recebeu treinamento para então voltar à Inglaterra.
Para o jovem muçulmano em crise, a fé ancestral é uma identidade positiva, uma fonte de orgulho. É comum um jovem se revoltar com seu meio. Isso nunca vai mudar. O que dá para combater é uma estrutura pronta para o aliciar, potencializar sua alienação e o ajudar a conduzir um ataque. Esse deve ser o foco de combate, com vigilância mais cerrada sobre pregadores radicais, controle das fronteiras e medidas de bom senso como revogar a nacionalidade de quem se juntar ao EI.
A tara politicamente correta de dividir o mundo entre oprimidos e opressores só agrava o problema. Ver-se como parte de um grupo oprimido aumenta o ressentimento e justifica a animosidade. A ideia é, ademais, falsa: muçulmanos ingleses gozam de oportunidades inexistentes em seus países de origem.
Esquerda politicamente correta e direita islamofóbica buscam separar. O caminho é o inverso: promover a integração -social, cultural e econômica- dos muçulmanos na Europa, por exemplo reduzindo barreiras à entrada no mercado de trabalho e combatendo o preconceito.
Nesse ponto, a América passou na frente e as consequências são notáveis. Nos EUA, uma pesquisa do Pew Research de 2015 ("U.S. Public becoming less religious") revelou que muçulmanos americanos são mais tolerantes que evangélicos. 45% deles aprovam a homossexualidade, contra 36% dos evangélicos.
Por aqui, em entrevista de março, Ali Houssein El-Zoghbi, vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas no Brasil, disse: "Nós brasileiros, de uma formação étnica múltipla, devemos ter [...] aceitação das diferenças culturais, que fazem parte do DNA de nossa nação". Mais brasileiro impossível.
Empunhar a bandeira da guerra civilizacional -comprando assim, a narrativa de EI, Al Qaeda e outros- é empurrar milhões de cidadãos pacíficos para os braços do extremismo, forçando-os a escolher entre sua pátria e sua identidade; ser ocidental ou ser muçulmano.
5% da população inglesa é muçulmana. Mesmo deixando de lado considerações humanitárias, é impossível "se livrar" dela. Ou teremos integração ou mais derramamento de sangue. Nem amor, nem ódio; a situação pede inteligência.

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