quarta-feira, 28 de junho de 2017

Esfarelando, governo Temer produziu três grandes vexames em dez dias
Elio Gaspari - FSP
Se Michel Temer tivesse renunciado, em maio ou quando Fernando Henrique Cardoso sugeriu-lhe esse caminho, não entraria para a história como o primeiro presidente acusado de corrupção pela Procuradoria-Geral da República. Sua persistência tem um aspecto pessoal, a defesa da própria biografia. As consequências públicas dessa decisão têm sido a mobilização de uma tropa de choque e o esfarelamento do governo, colocando em risco o que resta do Poder Executivo.
Temer diz que é acossado por uma "infâmia" e que "nada nos destruirá", mas está se destruindo com lambanças e empulhações. Nada a ver com o relatório da Polícia Federal e a denuncia do procurador Rodrigo Janot. Em apenas dez dias, a gestão tabajara produziu três ruínas.
A máquina do Itamaraty sabe que Brasília tornou-se uma escala maldita. A chanceler alemã Angela Merkel foi à Argentina e não parou no caminho, nem para reabastecer. Mesmo assim, Temer resolveu mostrar desembaraço internacional e viajou para a Rússia e para a Noruega. A perna norueguesa, indo a uma nação de militância ambientalista, foi coisa de amador.
O vexame de presenciar o corte de 50% da contribuição norueguesa para o Fundo Amazônia veio dos números de desmatamento. Bem outra coisa foi o carão da primeira-ministra Erna Solberg: "Estamos preocupados com o processo da Lava Jato, esperamos uma limpeza e que sejam encontradas boas soluções". Limpeza, tudo bem, mas não ficou claro o que a senhora entende por "boas soluções". Pelo menos duas empresas norueguesas entraram na farra das sondas marítimas da Petrobras.
Em 2012, a Odfjell assinou um contrato com a Sete Brasil pelo qual ela pagava academias de ginástica para os noruegueses e escolas para seus filhos. Esses pixulecos, estendidos a todos os sócios da Sete Brasil, custaram-lhe US$ 50 milhões em 2013. Além disso, não era necessário ser um gênio para perceber que as sondas estavam com preços acima do mercado e que a Sete Brasil era uma fantasia de petistas e larápios.
Madame Solberg poderia ter ouvido da comitiva de Temer que uma parte da limpeza poderia ser feita no seu quintal. O ministro Antônio Imbassahy, da Secretaria de Governo, respondeu como a humildade dos colonizados: "É o pensamento dela. Nós respeitamos".
O que Imbassahy tinha a ver com a viagem, não se sabe. Com ele estava Paulo Bauer, líder do PSDB no Senado. Enquanto eles flanavam, o projeto de reforma trabalhista do governo foi rejeitado numa comissão da Casa.
A PF e Rodrigo Janot também não tiveram participação no lance do Gabinete de Segurança Institucional que identificou nominalmente o chefe do escritório da Central Intelligence Agency em Brasília. Muito menos com a explicação oferecida aos brasileiros.
Esses vexames foram produzidos por uma Presidência que, ao longo desses mesmos dez dias, foi bem avaliada por apenas 7% dos entrevistados pelo Datafolha. De quebra, o governo americano proibiu a importação de carne fresca brasileira.
Coisas da vida, mas até a sorte tem faltado a Temer. A Força Aérea Brasileira interceptou um bimotor que carregava 500 quilos de cocaína e o traficante tinha um plano de voo falso informando que decolara de uma das muitas fazendas da empresa de Blairo Maggi, o bilionário ministro da Agricultura. Ele pretende voar para Washington, onde discutirá o veto à carne.

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