segunda-feira, 5 de junho de 2017

O espírito quadrilheiro dos brasileiros
Se houve até aqui uma utilidade neste mandato de Michel Temer foi deixar bem claro como o espírito brasileiro está impregnado pelo pensamento quadrilheiro. Mais do que sob sentimentos republicanos, patrióticos ou moralistas, nosso povo vê a política como uma disputa pelo poder em que tudo é válido.
Este sentimento de grupo que se auto-protege e faz vista grossa a barbaridades em nome da anulação do inimigo fica bem claro quando se vêem os argumentos em defesa da manutenção de Michel Temer no poder. Ignora-se que ele foi parceiro da outra (e maior e mais poderosa) quadrilha: a do PT. Faz-se de conta que ele não subscreveu todos os erros governamentais que nos levaram ao caos econômico. Os atos e maquinações contra a Lava Jato também são postos de baixo do pano ao se supor que tirá-lo do poder será um atentado à Operação. Pior do que as questões meramente econômicas e de corrupção, que o tempo há de reduzir os efeitos até que se dissipem, o PT marcou nossa história com algumas chagas contra as quais Temer nada fez.
O governo do PT fortaleceu o Foro de São Paulo de diversas formas. Entre elas, destaca-se a contratação de médicos cubanos. Privilegiados, eles não fizeram exame de comprovação de suas competências exigidos normalmente para profissionais estrangeiros. Mais da metade de seus salários são confiscados pelo governo cubano, deixando claro que se trata de uma forma de financiamento da ditadura. Eles também não têm direitos trabalhistas mínimos e são proibidos até mesmo de namorar brasileiras – pois isto os faria requerer nacionalidade e poderiam então sair do programa cubano e trabalhar como médicos plenos, sem pagarem pedágio à ditadura. Por fim, o sistema cubano criou uma rede de informantes que faz com que todos os empregados da ditadura se auto-vigiem e denunciem quem planeja desertar do programa.
O que o governo Michel Temer fez contra este regime de semi-escravidão? Nada.
O governo do PT fortaleceu o Foro de São Paulo desviando dinheiro das nossas estatais para bancar campanhas de aliados e financiou obras nesses países com dinheiro público a taxas de juros abaixo das normalmente cobradas por aqui.
O que o governo Michel Temer fez para diminuir esse prejuízo? Não pediu revisão dos benefícios e nem mesmo abriu sindicância para questionar esses contratos.
O governo do PT fortaleceu a cisão racial da população com inúmeras medidas e ações que resultaram na proliferação de cotas raciais em concursos e admissão em universidades. O Ministério da Educação do PT criou uma medida draconiana: exige que todo pai de criança, ao matriculá-la em uma escola, informe de qual raça ela é. Sem essa informação, a criança não pode ser matriculada.
O que o governo de Michel Temer fez contra esta arbitrariedade específica e essas políticas em geral? Nada.
Durante o governo do PT, o tráfico de drogas se tornou uma praga urbana. As diversas drogas que geram um transtorno aos cidadãos entram no país por nossas fronteiras, especialmente a da Bolívia. Como consequência, as ruas brasileiras viraram palco de uma carnificina que resulta em mais de 57 mil assassinatos por ano, tornando a segurança pública um problema gigantesco que afeta todos os setores da vida do cidadão brasileiro ao aumentar os custos.
O que fez o governo Temer para aumentar a fiscalização contra a entrada das drogas via Bolívia, o que aliás afetaria e muito a economia do país comandado por Evo Morales? Nada.
Diante de tudo isso, a postura esperada de qualquer cidadão politizado à força nos últimos anos seria a de repulsa a Michel Temer. Enxergar nele o que é: um governo de continuidade nas práticas mais vergonhosas impostas pelo PT. Mas não é isso o que se tem visto.

Lúcifer, Rei do Inferno – Gustave Doré
Com atitudes que agradam ao Diabo mais do que a qualquer pessoa, muita gente tem, sem ser chamada a isso, defendido Temer apaixonadamente. A atitude é vista não apenas na suruba de opiniões das redes sociais, mas também como artigos de influenciadores e até mesmo em editoriais de grandes e tradicionais veículos de comunicação do país. Como se, ao se opor ao PT e um retorno deles ao poder, fosse necessário estar ao lado de Temer agora. Pior do que apenas serem contra o que julgam pior, se abstendo de opinar contra Temer, o que se tem visto é uma submissão voluntária e ostensiva em defesa de um notável desqualificado que, na pior das hipóteses, foi um serviçal de tudo o que de ruim foi feito no país nos últimos anos.
Os governos podem mudar, os grupos no poder e as elites em geral podem mudar, criminosos passam e a economia varia ao longo do tempo. Porém, o grave problema da criminalidade deste país e toda imoralidade praticada pelo PT jamais serão superados enquanto todas as relações públicas forem vistas como uma disputa em que o que importa é apenas derrotar o adversário. O período Temer deixa claro que nossos problemas estão algumas camadas acima do que poderia ser tratado apenas como ideologia e filosofia econômica.

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