O espírito quadrilheiro dos brasileiros
Se houve até aqui uma utilidade neste mandato de
Michel Temer foi deixar bem claro como o espírito brasileiro está
impregnado pelo pensamento quadrilheiro. Mais do que sob sentimentos
republicanos, patrióticos ou moralistas, nosso povo vê a política como
uma disputa pelo poder em que tudo é válido.
Este sentimento de grupo que se auto-protege e faz vista grossa a
barbaridades em nome da anulação do inimigo fica bem claro quando se
vêem os argumentos em defesa da manutenção de Michel Temer no poder.
Ignora-se que ele foi parceiro da outra (e maior e mais poderosa)
quadrilha: a do PT. Faz-se de conta que ele não subscreveu todos os
erros governamentais que nos levaram ao caos econômico. Os atos e
maquinações contra a Lava Jato também são postos de baixo do pano ao se
supor que tirá-lo do poder será um atentado à Operação. Pior do que as
questões meramente econômicas e de corrupção, que o tempo há de reduzir
os efeitos até que se dissipem, o PT marcou nossa história com algumas
chagas contra as quais Temer nada fez.
O governo do PT fortaleceu o Foro de São Paulo de diversas formas.
Entre elas, destaca-se a contratação de médicos cubanos. Privilegiados,
eles não fizeram exame de comprovação de suas competências exigidos
normalmente para profissionais estrangeiros. Mais da metade de seus
salários são confiscados pelo governo cubano, deixando claro que se
trata de uma forma de financiamento da ditadura. Eles também não têm
direitos trabalhistas mínimos e são proibidos até mesmo de namorar
brasileiras – pois isto os faria requerer nacionalidade e poderiam então
sair do programa cubano e trabalhar como médicos plenos, sem pagarem
pedágio à ditadura. Por fim, o sistema cubano criou uma rede de
informantes que faz com que todos os empregados da ditadura se
auto-vigiem e denunciem quem planeja desertar do programa.
O que o governo Michel Temer fez contra este regime de semi-escravidão? Nada.
O governo do PT fortaleceu o Foro de São Paulo desviando dinheiro das
nossas estatais para bancar campanhas de aliados e financiou obras
nesses países com dinheiro público a taxas de juros abaixo das
normalmente cobradas por aqui.
O que o governo Michel Temer fez para diminuir esse prejuízo? Não
pediu revisão dos benefícios e nem mesmo abriu sindicância para
questionar esses contratos.
O governo do PT fortaleceu a cisão racial da população com inúmeras
medidas e ações que resultaram na proliferação de cotas raciais em
concursos e admissão em universidades. O Ministério da Educação do PT
criou uma medida draconiana: exige que todo pai de criança, ao
matriculá-la em uma escola, informe de qual raça ela é. Sem essa
informação, a criança não pode ser matriculada.
O que o governo de Michel Temer fez contra esta arbitrariedade específica e essas políticas em geral? Nada.
Durante o governo do PT, o tráfico de drogas se tornou uma praga
urbana. As diversas drogas que geram um transtorno aos cidadãos entram
no país por nossas fronteiras, especialmente a da Bolívia. Como
consequência, as ruas brasileiras viraram palco de uma carnificina que
resulta em mais de 57 mil assassinatos por ano, tornando a segurança
pública um problema gigantesco que afeta todos os setores da vida do
cidadão brasileiro ao aumentar os custos.
O que fez o governo Temer para aumentar a fiscalização contra a
entrada das drogas via Bolívia, o que aliás afetaria e muito a economia
do país comandado por Evo Morales? Nada.
Diante de tudo isso, a postura esperada de qualquer cidadão
politizado à força nos últimos anos seria a de repulsa a Michel Temer.
Enxergar nele o que é: um governo de continuidade nas práticas mais
vergonhosas impostas pelo PT. Mas não é isso o que se tem visto.
Com atitudes que agradam ao Diabo mais do que a qualquer pessoa,
muita gente tem, sem ser chamada a isso, defendido Temer
apaixonadamente. A atitude é vista não apenas na suruba de opiniões das
redes sociais, mas também como artigos de influenciadores e até mesmo em
editoriais de grandes e tradicionais veículos de comunicação do país.
Como se, ao se opor ao PT e um retorno deles ao poder, fosse necessário
estar ao lado de Temer agora. Pior do que apenas serem contra o que
julgam pior, se abstendo de opinar contra Temer, o que se tem visto é
uma submissão voluntária e ostensiva em defesa de um notável
desqualificado que, na pior das hipóteses, foi um serviçal de tudo o que
de ruim foi feito no país nos últimos anos.
Os governos podem mudar, os grupos no poder e as elites em geral
podem mudar, criminosos passam e a economia varia ao longo do tempo.
Porém, o grave problema da criminalidade deste país e toda imoralidade
praticada pelo PT jamais serão superados enquanto todas as relações
públicas forem vistas como uma disputa em que o que importa é apenas
derrotar o adversário. O período Temer deixa claro que nossos problemas
estão algumas camadas acima do que poderia ser tratado apenas como
ideologia e filosofia econômica.
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