segunda-feira, 26 de junho de 2017

Oportunidade para meta de inflação mais baixa
Apesar da crise política, há expectativas bem ancoradas na economia que permitem este corte, chance que Lula teve há dez anos e não aproveitou
O Globo
Com toda a turbulência política, diante da melhoria nas expectativas conseguida com o teto constitucional de limitação do crescimento dos gastos e uma atuação confiável do Banco Central, por exemplo, tem sido possível evitar-se maiores deteriorações do cenário, pelo menos até agora. Prova disso têm sido as projeções nada catastróficas do Boletim Focus, apuradas semanalmente pelo BC junto a analistas do mercado financeiro. O próprio Banco, no relatório trimestral de inflação, divulgado quinta, espera deflação em junho e taxa anual abaixo da meta de 4,5%. Mesmo com a reforma da Previdência parada na Câmara, a trabalhista está em fase final de tramitação no Senado.
É nesta perspectiva que o Conselho Monetário Nacional (CMN), em reunião marcada para o dia 29, quinta-feira próxima, deverá reduzir a meta de inflação dos atuais 4,5% para 4,25%, a vigorar no período de 2019 a 2021. Pode parecer pouco, mas a sinalização é mais importante que o valor do corte, dentro da missão do BC de ancorar as expectativas. Com uma política monetária suficientemente apertada e sinalizações mais claras dadas por seus comunicados periódicos, é que a autoridade monetária trouxe, num período relativamente curto, uma inflação de dois dígitos (10,67%) para abaixo da meta. Houve, é certo, a ajuda do desaquecimento econômico, mas o país passou há pouco, no governo Dilma, pelo pior dos mundos da recessão e desemprego convivendo com alta de preços.
Já passou muito da hora de haver um entendimento neste país para se acabar de vez com a tolerância com a anormalidade de juros altos e inflação, idem. O mundo está saindo com dificuldades de um ciclo de deflação, em que os juros chegaram a ser negativos em alguns países e próximos de zero em muitos outros. Como nos Estados Unidos. No Brasil, eles continuaram na estratosfera, e por falhas dos brasileiros. Devido a certas mitologias e dogmas religiosos de algumas correntes de pensamento econômico, como as dominantes em Brasília a partir do segundo governo Lula, com Guido Mantega na Fazenda e Dilma Rousseff na Casa Civil. A tragédia que veio depois todos conhecem. Entre eles os mais de 14 milhões de desempregados.
A miopia de se permitir alguma inflação em nome de algum crescimento voltou a ser praticada no Brasil, no governo Dilma, quando ela, infelizmente, praticou o que defendia: interveio no BC, forçando-o a baixar os juros, e o resultado é que a inflação mudou de patamar para a fronteira do limite superior da meta (6,5%) e dali desgarrou de volta aos dois dígitos. E, como previsto, o PIB desacelerou.
Esta miopia, quase cegueira, é que impediu, no segundo governo Lula, em 2007, num momento como o atual, de inflação ancorada em expectativas benignas, que a meta fosse reduzida. Deu no que deu.

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