Com baixa popularidade e investigado por crimes graves, presidente esgrimia a capacidade de aprovar reformas como seu principal trunfo para seguir no cargo
O presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) - 12/05/2016 (Eraldo Peres/AP)
A capacidade de tocar a aprovação das reformas no Congresso Nacional era o principal argumento esgrimido por Temer para manter ao seu lado aliados hesitantes, como o PSDB, que mais de uma vez justificou o seu apoio ao combalido governo com a necessidade de aprovar as mudanças econômicas.
Também era o principal argumento para ter algum apoio do mercado e de setores empresariais, que continuavam a dar sustentação, mesmo que tímida ao governo, porque via nele a possibilidade de levar até o fim as reformas trabalhista e da Previdência. A decepção foi visível: logo após o resultado no Senado a Bolsa de Valores de São Paulo e o dólar subiu.
Em vários momentos, Temer chegou a dizer que a baixa popularidade que ostenta – 9% de ótimo e bom, segundo a última pesquisa Datafolha, índice parecido ao que Dilma Rousseff (PT) tinha antes da queda – era até um trunfo para ele tocar as reformas, rejeitadas pela ampla maioria da população.
A derrota na comissão do Senado não é o fim da linha para Temer, que ainda pode tentar passar a sua proposta na votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas é um sinal muito ruim para quem ainda dava algum voto de confiança ao peemedebista.
Não à toa, a oposição comemorou aos gritos de “Fora Temer” a vitória por 10 votos a 9 – o governo esperava 11 votos a 8. O líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ), celebrava a vitória inédita da oposição sobre a base aliada. O senador Humberto Costa (PT-PE) classificou o resultado como “a maior derrota do governo Temer”. “É uma vitória da oposição e do povo brasileiro”, disse.
Mais preocupante é que a rejeição ao texto do relator Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que era patrocinado pelo governo, foi apoiada pelos votos de senadores com os quais Temer contava, como Hélio José (DF), que é de seu partido, o PMDB, e de Eduardo Amorim (SE), que é do PSDB, partido em tese alinhado às reformas.
Sérgio Petecão (PSD-AC), aliado de Temer e das reformas, surpreendeu o governo ao não aparecer para votar – foi substituído por Otto Alencar (PSD-BA), que se posicionou contra e selou a derrota governista na comissão.
A base aliada precisa reagir rápido, já nesta quarta-feira, quando está prevista a votação da proposta na CCJ, cujo relator é Romero Jucá (PMDB-RR), um dos principais articuladores de Temer no Congresso. Uma nova derrota será desastrosa para o governo.
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