quarta-feira, 30 de julho de 2014

As contas se complicam em Moscou
Alicia González - El Pais
Não são bons tempos para a economia russa. O PIB flerta há meses com a recessão. As sanções --ou o temor de futuras restrições-- por parte dos EUA e da Europa fizeram disparar a fuga de capitais, que já supera os 55,8 bilhões de euros só no primeiro semestre e se situa acima da registrada em 2013.
Esses movimentos enfraqueceram o rublo, a moeda com pior comportamento entre os mercados emergentes, e atingiram com força a Bolsa de Moscou, que acumula uma queda de 10% desde o pico atingido em junho.
A sentença da Corte Permanente de Arbitragem de Haia aumenta a percepção de risco dos ativos russos, e isso eleva a fatura para os cofres públicos. É "mais um cabelo na sopa" russa, segundo a expressão usada por Yuri Selyandin, gestor do GHP Group em Moscou, em declarações à agência Reuters.
O título russo para dez anos nominal em dólares escalou na segunda-feira (28) até superar 5%, mas se a dívida for emitida em rublos, os investidores exigem de Moscou uma rentabilidade de 9,35% para emprestar esse dinheiro, níveis máximos desde abril.
Se for o caso, a Rússia, à diferença da Argentina, tem efetivo suficiente para enfrentar o pagamento dos 37,2 bilhões de euros estabelecidos pela sentença, embora essa quantia represente 2,5% a 3% do PIB do país, segundo cálculos diferentes. A Rússia acumula as quintas maiores reservas do mundo, e o governo dispõe de 130,2 bilhões de euros em reservas cambiais, às quais é preciso somar as das empresas públicas, que elevam a disponibilidade de fundos para 355,84 bilhões, segundo dados do banco central.
Mas as sanções impostas até o momento pelos EUA dificultam o acesso de algumas das maiores empresas públicas russas aos mercados internacionais, e o governo pode ter que recorrer a esses fundos para facilitar seu financiamento. Até dezembro, os bancos e as empresas russas devem devolver 62,5 bilhões de euros, aos quais se devem somar vencimentos de mais 67 bilhões em 2015, segundo dados do Instituto de Finanças Internacionais.
"Dada a situação financeira deteriorada de muitas empresas, é bastante provável que pelo menos alguns desses credores precisem da ajuda do governo russo para enfrentar os pagamentos", diz a associação, que reúne os principais bancos privados do mundo.
A Rosneft é uma das empresas mais afetadas pelo fechamento do acesso aos mercados. A companhia, que se transformou na maior petroleira de capital público do mundo, graças à compra dos ativos da Yukos, afirma que aquelas operações foram legais e que a sentença de Haia não a afeta. A queda que teve na segunda-feira na Bolsa (-1,2%) está mais relacionada às sanções impostas pelos EUA. Seu valor baixou este ano mais de 14%.
A sentença de Haia é apenas a primeira batalha dos antigos responsáveis da Yukos, como reconheceu o advogado dos ex-dirigentes da petroleira. Mas é mais uma mosca que se soma às muitas que já incomodam Moscou.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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