Dilma e seus fantasmas
Presidente volta a culpar 'pessimistas' por economia ruim, mas não dá nome a bois nem trata de motivos
VINICIUS TORRES FREIRE - FSP
"ESTÁ
HAVENDO o mesmo pessimismo que aconteceu com a Copa com a economia
brasileira. E com a economia é mais grave, porque economia é feita com
expectativa", disse a presidente na sabatina promovida por esta Folha.
Quem
é pessimista? Falta um sujeito na afirmação. Dilma Rousseff jamais deu
nome aos bois ou a seus fantasmas desde que essa sua queixa se tornou
recorrente, no ano passado.
O que é pessimismo? No discurso de
final de ano de 2013, a presidente insinuou que pessimistas promovem
"guerra psicológica", "instilam desconfiança, especialmente desconfiança
injustificada" no país.
Desde o final do ano passado, cerca de
60% dos eleitores entrevistados pelo Datafolha estimam que a inflação
vai aumentar. São "pessimistas", acreditam que o futuro será pior do que
é razoável esperar?
Caso se aceite a hipótese do "pessimismo", o
eleitorado teria sido influenciado por campanhas de "setores" que
promovem "guerra psicológica"?
Os principais disseminadores de
estimativas são economistas de consultorias e bancos, uma centena deles
ouvidos semanalmente pelo Banco Central (aliás, precisam acertar seus
chutes informados a fim de ganhar a vida). A previsão mediana deles é de
ligeira queda da inflação em 2015. É verdade que, desde o início do
ano, o pessoal cortou a estimativa de crescimento pela metade, perto de
1%, neste 2014.
De certo modo, pode-se dizer que, na mediana, os
economistas estavam mais "otimistas" em janei- ro. Aliás, é o que
ocorreu nos anos Dilma, a cada início de ano: os economistas
subestimaram a infla- ção e superestimaram o crescimento do PIB.
Pode-se
não gostar desses economistas "do mercado" por motivos teóricos,
políticos, estéticos ou sabe-se lá. Mas está difícil de dizer que suas
estimativas difundam pessimismo. Sim, a maioria deles, os mais vocais,
atribui parte dos maus resultados a Dilma. Essa, porém, é outra história
(a "culpa"). O fato é que a realidade é ruim.
O grosso do
eleitorado ficou inseguro com a economia, temendo mais inflação, depois
de anos de alta do nível de preços de comida e bebida, em especial
depois do pico de 14% de inflação desses itens, em abril de 2013. É mais
fácil acreditar que o brasileiro sentiu na carne o efeito da carestia
do que imaginá-lo deprimido com o noticiário econômico.
Redução
da expectativa de lucro (devido a alta de custos) e tabelamentos de
preços e ameaças de fazê-lo, fatos do Brasil dos últimos três anos, são
assombrações para empresários. Baixo crescimento, fatos de 2011 e 2012,
quando não havia "pessimismo" (ou queixas da presidente a respeito),
também assustam.
Quando o Brasil crescia a 4%, anos Lula, mesmo a
elite que detesta o PT (larga maioria) sorria ou ficava quieta em
relação ao governo do partido. Dinheiro (quase) não tem cheiro. Aliás,
mesmo nas internas do "empresariado", pouco se ouvia falar mal de Dilma
até fins de 2012. O humor azedou em 2013.
Obviamente, muita gente
quer aproveitar a má ocasião para dar cabo político do PT. Mas
acreditar que houve surto de histeria coletiva ou conspiração é
desprezar as durezas da vida e a inteligência da maioria da população.
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