quinta-feira, 26 de outubro de 2017

'A luta de Temer pelo poder não terminou'
Restam ao presidente 14 meses até a posse do sucessor: em metade desse tempo, estará no alvo de aberta oposição nas ruas
José Casado - O Globo
Caía a tarde sobre o Congresso quando, num plenário tumultuado pela escassez de informações sobre a emergência hospitalar do presidente da República, o deputado Paulo Salim Maluf (PP-SP) procurou Rodrigo Maia, presidente da Câmara.
Alegou os seus 86 anos, nove a mais que o presidente da República, e permanentes dores na região lombar para reivindicar a preferência na fila de votação. Foi o primeiro a dizer “sim” para impedir o prosseguimento do inquérito, como haviam combinado dias atrás em reunião no Palácio do Planalto, encerrada com Maluf anunciando sua certeza de que Temer é “101% honesto”.
O voto de Maluf foi recebido com uma ponta de ironia numa área do plenário, porque antes o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) havia evocado na tribuna um axioma dos anos 80, quando a política paulista estava dominada pelo malufismo: “Será que nós vamos transformar em realidade a piada do ‘rouba, mas faz’?” — argumentou o deputado oposicionista, depois de ler um trecho das 245 páginas da denúncia da Procuradoria-Geral da República: “Alianças, negociações e divisão de poder são da essência da política e é dessa forma que, usualmente, se obtém maioria para governar. No lugar de negociações políticas, temos negociatas ilícitas, nas quais a moeda de troca não é simplesmente divisão de poder para governar, mas, sim, a compra de apoio político com a utilização de dinheiro público.”
Com o voto de Maluf e da maioria dos deputados, encerrou-se mais uma etapa da luta de Temer pelo poder. Há 17 meses, ele herdou a cadeira de Dilma Rousseff (derrubada porque seu eleitorado se sentiu traído, na leitura do ex-presidente Lula), mas, até ser internado na tarde de quarta-feira, não tinha certeza sobre seu futuro.
Sobreviveu pela terceira vez, se considerado o julgamento dos crimes eleitorais em junho e a rejeição da primeira denúncia por corrupção em agosto. Restam-lhe 14 meses até a posse do sucessor. Sabe que, em metade desse tempo, estará no alvo de aberta oposição nas ruas, durante a campanha presidencial.
Quando estiver com a saúde recuperada, Temer será um presidente à procura de um plano que lhe garanta o oxigênio do poder até o último dia no palácio. Sua luta pelo poder não terminou.

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