Rodrigo Constantino
O encanto da elite com locais pobres,
até miseráveis não é novidade. Trata-se de uma viagem “exótica”, em que
os indivíduos civilizados podem tirar umas férias da civilização e
conhecer o “bom selvagem” de perto, sentindo-se muito descolado por
conta desse gesto magnânimo. “Viram como sou uma alma sensível? Fui na
favela ver de perto como os pobres vivem!”
Claro que todo o romantismo fomentado
por Rousseau ajuda, assim como a era “poser” das redes sociais. A
glamourização que a TV faz das “comunidades” também contribui. A julgar
por Regina Casé e tantos outros, tudo que vem das favelas é melhor, e a elite deveria copiar a periferia, jamais o contrário (que seria elitismo e preconceito).
Aí o turista vai, entra num carro
daqueles de safári, e circula por uma dessas comunidades, como se os
pobres que vivem ali fossem mascotes, ou pior, bichos num zoológico
humano. Com a recente morte de uma dessas turistas na Rocinha, o assunto
voltou à tona, e até o comunista Ancelmo Gois questionou essa tara pela
pobreza:
Às vezes a esquerda acerta. Como foi o
caso desse programa do Porta dos Fundos, com a atuação de Greg, o mais
esquerda caviar da turma, tirando sarro justamente desse hábito estranho
de quem gosta de explorar a miséria alheia como se fosse um antropólogo
em missão:
Mas é justamente uma característica
predominante na esquerda caviar essa mania de enaltecer a pobreza, e
logo depois voltar correndo para o conforto de suas vidas, para a
segurança da civilização. Em Esquerda Caviar comentei sobre esse hábito, inclusive presente em muitos riquinhos que precisam simular pobreza, usando trapos no lugar de roupa, para bancar o descolado sem apego material:
Em A elegância do ouriço,
Muriel Barbery usa uma das narradoras, uma menina muito inteligente de
13 anos, para descrever o desconforto com essa atitude de sua mãe. Elas
moram em um endereço de luxo em Paris, repletas de conforto. Não
obstante, sua mãe vive a pregar o socialismo, entre uma conversa e outra
com suas plantas. E claro, mesmo depois de dez anos de terapia, ela
ainda precisa tomar remédio para dormir…
O autor coloca na outra narradora da história, uma concierge
humilde, porém extremamente culta, as palavras de desprezo em relação
ao grupo de riquinhos mimados que tentam aparentar um estilo artificial
de pobreza cool:
Se tem
uma coisa que abomino, é essa perversão dos ricos que se vestem como
pobres, com uns trapos que ficam caindo, uns bonés de lã cinza, sapatos
de mendigo e camisas floridas debaixo de suéteres surrados. É não só
feio mas insultante; nada é mais desprezível que o desprezo dos ricos
pelo desejo dos pobres.
No
entanto, basta frequentar uma faculdade privada para ver a quantidade de
jovens que aderem a esse estilo “riponga”, com suas camisetas do Che
Guevara, apenas para entrar depois em seus carros importados do ano. São
os “revolucionários de Facebook”, que escrevem em seus perfis da rede
social americana o quanto odeiam o sistema capitalista americano e o
lucro que tornou o instrumento viável.
Elite culpada: isso é um problema grave!
Em vez de entender como realmente ajudar os pobres a sair da pobreza,
ela prefere “expiar seus pecados” enaltecendo a “sabedoria” dos pobres, e
tratar com condescendência os “pobrezinhos”, como se fossem animais de
estimação. Tom Palmer, do Cato Instituto, desmoralizou o demagogo Ciro
Gomes num debate, justamente quando o esquerdista tentou bancar o “pai”
dos pobres:
Joãozinho Trinta foi quem melhor resumiu
a coisa: “Pobre gosta de luxo. Quem gosta de pobreza é intelectual”.
Quando a esquerda caviar deixar de olhar para os pobres como abstração,
como seus mascotes ou como peões em seu tabuleiro de xadrez pelo poder,
aí começarão a abandonar a esquerda. Até lá, teremos uma Madonna,
defensora das causas “progressistas”, tentando ganhar alguns likes
extras com a visita a uma favela, cercada de policiais “fascistas”
armados, claro:
PS: Depois que ela disse que gostaria de explodir a Casa Branca, se eu fosse o Trump reforçava a segurança…
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