“Black Quarta, dia de compras” e outras notas
Há o desconto de 60% nas multas ambientais. Justo: o prejuízo do Governo com as multas não pagas será 60% menor
Carlos Brickmann - Blog do Augusto Nunes
Neste país todo mundo se queixa. Só porque o Governo
volta a investir, colocando uns R$ 12 bilhões de capital em ações de
apoio ao presidente Temer, ficam criticando vendedores de votos e
compradores de opiniões.
Injustiça! Muito dinheiro trocou de mãos, mas
civilizadamente, sem que até agora alguém tenha sido apanhado em
flagrante, como o senhor ridículo que corria com a mala na rua. Uma
transferência contábil – como a do Refis, em que o Governo deixará de
faturar pouco mais de R$ 2 bilhões, em favor de Suas Excelências – não é
tão inconveniente. Os de sempre são beneficiados e transferem parte dos
ganhos a seus parlamentares de estimação, sem que bons amigos do
presidente tenham de rechear e entregar pacotes com suas próprias mãos.
É, convenhamos, mais chique. O efeito é o mesmo, garantir ao presidente
os votos de que precisa para garantir aos amigos, e aos amigos dos
amigos, que a garantia continua. É algo sólido: nada de la garantía soy yo.
Emendas parlamentares de R$ 15 milhões, cada? Dinheirinho para pequenas
obras. É uma boa economia: só se distribui a parte de cada um, sem que
se gaste um centavo na tal obra.
Há o desconto de 60% nas multas ambientais. Justo: o
prejuízo do Governo com as multas não pagas será 60% menor. O Governo
desiste de privatizar o aeroporto de Congonhas: uma vaca com mais tetas
tem mais a oferecer a quem quer mamar. E sobra até para nós: cabe-nos
pagar a conta.
Mamãe eu quero
O caro leitor pode ficar tranquilo: Temer ultrapassa
mais essa denúncia, que deve ser votada hoje. Mas, se o resultado é
certo e sabido, por que tanta gentileza com os senhores deputados?
Porque não ficaria bem, para Temer, derrubar a denúncia com menos votos
do que teve ao derrubar a denúncia anterior. Para evitar que ele se
mantenha no cargo dando a impressão de que perdeu apoio, fez-se a Grande
Queima Pré-Natalina de Votos. Sabe como é, se prevalece a impressão de
que o presidente se enfraqueceu, vários parlamentares passarão a exigir
ainda mais por seu apoio. Evita-se então o vexame pagando adiantado para
o presidente parecer forte. Muda algo? Muda: o dinheiro, por exemplo,
muda do Tesouro para bolsos ávidos.
Mamãe, eu quero mamar
É claro que, aparentemente, é mais fino oferecer
favores transformáveis em dinheiro do que dinheiro propriamente dito.
Nem é preciso, por mais substanciosas que sejam as quantias
transferidas, alugar apartamentos-cofre com um geddel de área construída
para abrigar a fila de caixotes de notas novinhas. Mas, por maior que
seja a tolerância com que se observe o mafuá das Excelências, o que está
ocorrendo ultrapassa largamente a fronteira do decoro: o PMDB, por
exemplo, partido de Temer, liberou seus deputados para apoiá-lo ou não.
Traduzindo, o apoio ao presidente é negociado voto por voto com seus
correligionários, mesmo sabendo-se que Temer foi presidente do PMDB, seu
candidato em aliança com Lula e Dilma, e é a única possibilidade que o
partido tem de permanecer no poder. Como esta é a última chance de
derrubar o presidente, cada deputado exige o que pode. O Governo não se
preocupa com isso: afinal, nós é que pagamos.
De tanto piscar olho
Na luta contra a denúncia, Michel Temer já convenceu
todos os que poderia ter convencido (a oposição, convencida da derrota,
decidiu tentar impedir o início da sessão, negando o número necessário
de deputados). Mas há uma luta que Temer ainda terá de lutar, e com
amplas chances de ser derrotado: as centrais sindicais não aceitam a
reforma trabalhista. O motivo é o de sempre: com a extinção do Imposto
Sindical, hoje cobrado de todo assalariado do país, seja ou não
sindicalizado, e entregue aos sindicatos, só terá receita quem prestar
serviços aos associados. Receber, sim; trabalhar para ter sócios
contribuintes é outra coisa, dá trabalho. Centrais sindicais e
sindicatos programam manifestações em todo o pais em 10 de novembro,
véspera da entrada em vigor da reforma trabalhista. Só voltam atrás se o
Governo lhes der outra receita no lugar desta.
E não se fale mal apenas de centrais e sindicatos de
assalariados. Centrais e sindicatos patronais também estão pendurados no
imposto.
Frase notável
Do ótimo site gaúcho Espaço Vital: “Depois do apartamento de Geddel, entendi por que Lula queria um tríplex”.
Ficha imaculada
Preocupado com o assassínio da turista espanhola María
Esperança Jiménez Ruiz, na Favela da Rocinha? Tranquilize-se: a Justiça
concedeu liberdade provisória ao PM que a alvejou.
Diz a decisão: “O custodiado estava trabalhando, possui
imaculada ficha funcional, não havendo indícios de que solto possa
reiterar o comportamento criminoso ocorrido à luz do dia”.
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