quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Gabriel Pensador desperta depois de 13 anos de PT com desejo de matar presidente 
Rodrigo Constantino
Eu, particularmente, acho meio brega, meio caído, alguém bancar o rebelde contra o “sistema” e atacar “tudo e todos” depois dos 30 anos. Estou sendo legal: depois dos 20 já fica meio esquisito, meio demodê. Mas como esticaram a adolescência, faço essa concessão: até os 30 tudo bem; depois é um tanto patético. Seria melhor comprar uma Harley Davidson para enfrentar a “crise da meia idade”.
Pensei nisso ao ver o novo clip de Gabriel Pensador, que já tem mais de 2 milhões de visualizações. O rapper rebelde teve um despertar ético e resgatou uma música dos tempos de Collor, em que ele “mata” o presidente, simbólica e metaforicamente (mas o desejo parece bem real). Dessa vez o alvo é Temer, o “vampiro”. Vejam:
O mais estranho nisso tudo, claro, é o despertar ético tardio. Por onde andava o instinto assassino do compositor quando Lula era o presidente, e já em 2005 tínhamos o escândalo do mensalão, que se mostrou fichinha perto do que veio em seguida? Estava atacando a corrupção em abstrato? O “sistema”? Mas para dar nome aos bois só mesmo quando o PT sai e entra Temer, não é mesmo?
A vida dos nossos “artistas rebeldes” é muito fácil. É a rebeldia mais segura do planeta, pois é establishment total, mainstream, estatizada. A começar pela Lei Rouanet, que banca vários desses “críticos”. Como pode um artista financiado pelo estado ser um revoltado contra o “sistema”, se sobrevive dele?
Quando o limite não é material, é espiritual: atacar o ex-metalúrgico de esquerda é uma ofensa grave aos “intelectuais”, e isso sim pode ser perigoso no meio artístico, pode significar o ostracismo, as portas batendo na sua cara, a perda de oportunidades profissionais. Por isso deixei esse comentário lá no vídeo:
Quem gosta do Temer? Segundo pesquisas, nunca muito confiáveis, uns 3% apenas. Moleza querer “matar” esse presidente, portanto. Mas quem gostava de Lula? Segundo pesquisas, uns 80% na época em que eu atacava direta e diariamente o então presidente corrupto. Mas não vi música alguma de Gabriel Pensador detonando especificamente Lula. Por que será? Guilherme Fiuza, outro que já batia no “líder popular” quando isso era impopular, alfinetou o cantor também:
Condenar a corrupção geral, como uma abstração, ou então o PMDB é ficar na zona de conforto, bancar o rebelde sem ter que desafiar a patota “intelectual” e artística. Isso até o PSOL faz, ora! Quero ver é atacar a quadrilha mais corrupta de todas, que governou o Brasil por mais de 13 anos, destruindo nossa economia, nossas estatais, e quase nossa democracia. Quem combate a corrupção, mas não combate diretamente e com rigor o PT não passa de um “poser”.
Outro ponto estranho da música é que sobrou para Bolsonaro, um dos únicos tidos como éticos ali. Acusam ele de tudo, até de “nazista”, justamente porque não conseguem acusá-lo de corrupto. Numa música de resgate ético, contra os corruptos, ficou estranho incluir do nada um ataque ao deputado, que seria “ridículo” e chamado de “mito”. Será que o alvo não eram tanto os corruptos, mas sim a direita?
Por fim, cabe destacar o salvo-conduto dos artistas e da esquerda em geral. Eles podem ter desejos assassinos, “decapitar” Trump ou “matar” Temer. Mas se algum cidadão de classe média, cansado da violência e da impunidade, e de ver bandido sendo tratado como “vítima da sociedade” pela esquerda, desabafar que “bandido bom é bandido morto”, aí é claro que estamos diante de um perigoso fascista, agressivo, violento, rancoroso, que dissemina o ódio. O que seria da esquerda sem o duplo padrão?

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