Rodrigo Constantino
Eu, particularmente, acho meio brega,
meio caído, alguém bancar o rebelde contra o “sistema” e atacar “tudo e
todos” depois dos 30 anos. Estou sendo legal: depois dos 20 já fica meio
esquisito, meio demodê. Mas como esticaram a adolescência, faço essa
concessão: até os 30 tudo bem; depois é um tanto patético. Seria melhor
comprar uma Harley Davidson para enfrentar a “crise da meia idade”.
Pensei nisso ao ver o novo clip de
Gabriel Pensador, que já tem mais de 2 milhões de visualizações. O
rapper rebelde teve um despertar ético e resgatou uma música dos tempos
de Collor, em que ele “mata” o presidente, simbólica e metaforicamente
(mas o desejo parece bem real). Dessa vez o alvo é Temer, o “vampiro”.
Vejam:
O mais estranho nisso tudo, claro, é o
despertar ético tardio. Por onde andava o instinto assassino do
compositor quando Lula era o presidente, e já em 2005 tínhamos o
escândalo do mensalão, que se mostrou fichinha perto do que veio em
seguida? Estava atacando a corrupção em abstrato? O “sistema”? Mas para
dar nome aos bois só mesmo quando o PT sai e entra Temer, não é mesmo?
A vida dos nossos “artistas rebeldes” é
muito fácil. É a rebeldia mais segura do planeta, pois é establishment
total, mainstream, estatizada. A começar pela Lei Rouanet, que banca
vários desses “críticos”. Como pode um artista financiado pelo estado
ser um revoltado contra o “sistema”, se sobrevive dele?
Quando o limite não é material, é espiritual: atacar o ex-metalúrgico de esquerda é uma ofensa grave aos “intelectuais”, e isso sim
pode ser perigoso no meio artístico, pode significar o ostracismo, as
portas batendo na sua cara, a perda de oportunidades profissionais. Por
isso deixei esse comentário lá no vídeo:
Quem gosta do Temer? Segundo pesquisas, nunca muito confiáveis, uns 3% apenas. Moleza querer “matar” esse presidente, portanto. Mas quem gostava de Lula? Segundo pesquisas, uns 80% na época em que eu atacava
direta e diariamente o então presidente corrupto. Mas não vi música
alguma de Gabriel Pensador detonando especificamente Lula. Por que será?
Guilherme Fiuza, outro que já batia no “líder popular” quando isso era
impopular, alfinetou o cantor também:
Condenar a corrupção geral, como uma
abstração, ou então o PMDB é ficar na zona de conforto, bancar o rebelde
sem ter que desafiar a patota “intelectual” e artística. Isso até o
PSOL faz, ora! Quero ver é atacar a quadrilha mais corrupta de todas,
que governou o Brasil por mais de 13 anos, destruindo nossa economia,
nossas estatais, e quase nossa democracia. Quem combate a corrupção, mas
não combate diretamente e com rigor o PT não passa de um “poser”.
Outro ponto estranho da música é que
sobrou para Bolsonaro, um dos únicos tidos como éticos ali. Acusam ele
de tudo, até de “nazista”, justamente porque não conseguem acusá-lo de corrupto.
Numa música de resgate ético, contra os corruptos, ficou estranho
incluir do nada um ataque ao deputado, que seria “ridículo” e chamado de
“mito”. Será que o alvo não eram tanto os corruptos, mas sim a direita?
Por fim, cabe destacar o salvo-conduto
dos artistas e da esquerda em geral. Eles podem ter desejos assassinos,
“decapitar” Trump ou “matar” Temer. Mas se algum cidadão de classe
média, cansado da violência e da impunidade, e de ver bandido sendo
tratado como “vítima da sociedade” pela esquerda, desabafar que “bandido
bom é bandido morto”, aí é claro que estamos diante de um perigoso
fascista, agressivo, violento, rancoroso, que dissemina o ódio. O que
seria da esquerda sem o duplo padrão?
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