Custo da imprudência
FSP
Típico da segunda metade da administração petista, o emprego abusivo dos
bancos públicos na tentativa de alavancar o crescimento econômico legou
contas que ainda estão por serem pagas.
Se o caso do BNDES se tornou o mais notório, em razão dos financiamentos
bilionários a empresas escolhidas como campeãs nacionais, a Caixa
Econômica Federal também exemplifica a relação promíscua promovida entre
as instituições estatais e seu controlador, o Tesouro Nacional.
Desde 2008, a CEF multiplicou por nove seu volume de empréstimos, que
alcançou R$ 716 bilhões em junho. No mesmo período, a taxa de expansão
no setor financeiro como um todo ficou em torno de 150%, segundo
levantamento do jornal "Valor Econômico".
O uso do banco transcendeu os propósitos de incrementar o crédito
imobiliário, sua vocação histórica —houve financiamentos em larga escala
para empresas e para o setor de infraestrutura.
Para tanto, o governo injetou dinheiro na Caixa, proveniente de
endividamento público. Entre 2007 e 2013, aportaram-se R$ 37 bilhões.
Mas o que se dava com uma mão se tirava com outra. No período o Tesouro
extraiu quase R$ 30 bilhões em dividendos da instituição, empregados
para elevar artificialmente o superavit orçamentário.
Manobras do gênero —chamadas, de modo até eufemístico, de contabilidade
criativa— contribuíram para o atual quadro catastrófico das finanças
públicas.
Já a Caixa vive hoje um quadro de insuficiência de capital, uma vez que a
legislação bancária exige montantes mínimos proporcionais ao total de
empréstimos. Estima-se a que ao menos R$ 10 bilhões sejam necessários
para adequação às regras prudenciais.
Não se trata, que fique claro, de risco para os depositantes. A
instituição precisa de recursos, isso sim, para que possa manter as
dimensões de sua carteira de crédito.
Na impossibilidade de contar com o cofre da União, uma alternativa
considerada é recorrer ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Há
dúvida, entretanto, se tal arranjo não feriria alguma regra ou
configuraria desvio de objetivo, desta vez do FGTS.
Em outra hipótese, também um tanto heterodoxa, ativos da CEF seriam transferidos ao BNDES.
Qualquer que seja o desfecho, o banco precisa se pautar daqui para
frente pelo foco na habitação popular e pelo afastamento do poder
político. Neste segundo ponto, o governo Michel Temer (PMDB) perpetua a
prática deletéria de lotear diretorias entre aliados.
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