A derrota de US$ 1 bilhão
Ricardo Fort - Forbes
A seleção dos Estados Unidos Perder para Trinidade &Tobago na partida decisiva (Getty Images)
Os norte-americanos nunca tiveram tanto interesse por futebol quanto em 2017.
O time masculino dos Estados Unidos jogou todas as
Copas do Mundo da FIFA desde 1990, o feminino é o atual campeão do
mundo, o soccer é o esporte mais praticado por meninos e meninas e a
liga profissional, a MLS, atrai mais torcedores para os estádios do que o
Campeonato Brasileiro.
Por tudo isso, a surpreendente não classificação para a Copa do Mundo
da FIFA da Rússia, em 2018, causou tanta revolta entre torcedores e
mídia.
Perder para Trinidade & Tobago na partida decisiva não estava,
definitivamente, nos planos do Team USA nem nos planos de todos que
investem no esporte.
A ausência dos Estados Unidos terá um impacto financeiro de centenas
de milhões de dólares para patrocinadores e canais de televisão. Em
2014, quando o México corria o risco de não se classificar para a Copa
do Mundo do Brasil, a estimativa era de US$ 600 milhões para o futebol
mexicano. Mantidas as proporções, o impacto estimado agora passará de
US$ 1 bilhão.
A não classificação é um desastre para todos.
As emissoras de TV perdem muito. Estima-se que a Fox e a NBC
Telemundo, detentoras dos direitos nos Estados Unidos, pagaram US$ 425
milhões e US$ 600 milhões, respectivamente, pelos direitos até 2026.
Ambas tinham planos comerciais agressivos de investir na promoção da
Copa do Mundo e a expectativa de faturar alto vendendo as cotas de
patrocínios. Depois do vexame do time norte-americano, o preço dos
pacotes terá que ser reduzido significativamente.
Os patrocinadores globais perdem muito. Todos os patrocinadores FIFA,
com exceção da empresa estatal de energia russa Gazprom, têm
importantes negócios nos Estados Unidos. Todos esperavam beneficiar-se
com o interesse dos torcedores em ver seu time jogando contra os grandes
do futebol mundial na Rússia para promover seus produtos e serviços.
Os patrocinadores locais perdem ainda mais. Sem o Team USA em campo,
fica praticamente impossível ativar o patrocínio. Sem direitos às marcas
e logos do evento, exclusivos dos patrocinadores globais, não há o que
fazer.
A Federação Americana de Futebol perde nas finanças, pois deixa de
receber os bônus pagos pela FIFA, que variam entre US$ 2 milhões e US$
50 milhões, dependendo da classificação final no torneio.
Além de não ganhar, a Federação ainda terá que desembolsar muito mais
do que havia planejado para divulgar o esporte. Em um país com tantas
modalidades esportivas, promover o soccer não é tarefa fácil. Não jogar a
principal competição do mundo fará com que muitos jovens percam o
interesse e mudem de esporte. Atraí-los de volta terá um custo ainda não
estimado, mas certamente bastante alto.
A Major League Soccer e seus clubes perdem. A primeira divisão do
futebol nos Estados Unidos tem feito um excelente trabalho na construção
dos times, torcidas e da liga como um todo. Sem a seleção na Copa, o
interesse pelo esporte cairá e, muito provavelmente, a frequência nos
estádios, a venda de produtos licenciados e a compra de pay-per-view
também.
Os jogadores perdem. Perderão em potenciais contratos com clubes
europeus, na renovação de seus acordos atuais, nos patrocínios
individuais, em aparições públicas etc. Isso sem falar na marca que
carregarão pelo resto de suas carreiras como a seleção que não se
classificou.
Finalmente, a FIFA perde. Todos os fatores acima têm uma influência
muito negativa no potencial de atrair investimentos. E sem os
investimentos do mercado norte-americano, fica muito difícil fechar as
contas globais da federação e continuar a desenvolver o esporte na
América do Norte.
A ausência do país nos campos pode ser irrelevante para o sucesso da
Copa do Mundo da Rússia, mas é uma tragédia para o business do futebol. O
negócio é começar agora a preparação para 2022. Ouvi dizer que a
disputa não será fácil, pois a nova geração de jogadores de Trinidade
& Tobago vem com tudo!
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