Guerra de togas
Ricardo Noblat - O Globo
O ministro Luís Roberto Barroso disse que seu colega Gilmar Mendes muda
a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal “de acordo com o réu”, e
promove o “Estado de Compadrio”, não o Estado de Direito. Gilmar
replicou dizendo que Barroso “faz populismo com prisões”. Então Barroso
afirmou que Gilmar é leniente “em relação à criminalidade de colarinho
branco”. Gilmar devolveu acusando Barroso de ter defendido um “bandido
internacional”, no caso o italiano Césare Battisti.
Em sessão plenária de julgamento de uma ação que pedia a extinção do
Tribunal de Contas do Ceará, Gilmar já havia dito que o Rio de Janeiro
não era bom exemplo para nenhum Estado. Carioca, Barroso citou o Mato
Grosso, Estado de Gilmar, como um lugar onde há “muitos criminosos”. Foi
quando Gilmar acusou Barroso de ter libertado o ex-ministro José
Dirceu. Barroso explodiu: “É mentira. Vossa Excelência não trabalha com a
verdade. Dirceu foi solto por indulto da presidente da República”.
Barroso disse mais. Lembrou um verso do compositor Chico Buarque – “a
raiva é filha do medo e mãe da covardia” – e bateu duro em Gilmar:
“Vossa Excelência fica destilando ódio o tempo inteiro, não julga, não
fala coisas racionais e articuladas. Sempre fala coisa contra alguém, tá
sempre com ódio de alguém, tá sempre com raiva de alguém. Use o
argumento, mérito do argumento”. A troca de acusações foi interrompida
pela ministra Cármen Lúcia, que pediu calma aos dois.
Quem estava certo ao dizer o que disse – Barroso ou Gilmar? No pior dos
cenários, os dois. No melhor, um deles. Nesse caso, temos no tribunal
um defensor de bandido internacional que soltou sem razão José Dirceu.
Ou um juiz mentiroso que muda a jurisprudência da mais alta Corte do
país “de acordo com o réu”.
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