Sabendo ser impossível conseguir os 342 contra o presidente, Maia queria ao menos derrotar o relatório em favor de Temer, de autoria do deputado Bonifácio de Andrada
Reinaldo Azevedo
Rodrigo Maia durante votação do relatório sobre denúncia contra o presidente. Nunca a ambição exibiu antes tal cara de tédio (Foto: Dida Sampaio)
Afirmei ontem aqui que o governo poderia
comemorar se conseguisse mais ou menos os mesmos números obtidos na
primeira denúncia, certo? E foi o que aconteceu, com uma variação
pequena quando se considera o universo votante. Antes, alinharam-se com o
relatório pró-Temer 263 parlamentares; agora, 251. Na jornada anterior,
227 opuseram-se ao presidente, desta feita, 233. As respectivas
diferenças são irrelevantes. Quem sai, de fato, perdendo é o deputado
Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Se, na primeira denúncia, o presidente
da Câmara ficou inerte em campo — não se deslocou para receber a bola,
não fez lançamentos, não marcou, não pressionou a linha de defesa
adversária —, desta feita, note-se, ele atuou como zagueirão. Mas um
zagueirão do time adversário, embora seja aliado do presidente Michel
Temer. Por ocasião da primeira investida de Rodrigo Janot, o homem se
limitou a dialogar com notórios inimigos do governo. Participou, não
custa lembrar, de ao menos uma reunião cuja pauta era a queda do
presidente — e este estava fora do país. Sua máquina de propaganda fez
chegar à imprensa até aquele que seria o seu ministério.
E, acreditem, ele estava sendo discreto.
Agora não! Fico com um ato que é mais do que simbólico nesta quarta.
Maia, pessoalmente, criou dificuldades para que assessores do Palácio do
Planalto falassem com os deputados, o que é normal quando o governo tem
demandas na Casa. Vocês entenderam direito. Usou o seu cargo para
tentar impedir o governo de conquistar eventuais votos hesitantes.
Sabendo ser impossível conseguir os 342 contra o presidente, ele queria
ao menos derrotar o relatório em favor de Temer, de autoria do deputado
Bonifácio de Andrada. A turma do Palácio teve de apelar aos líderes
partidários.
Só isso? Não! Maia queria mesmo encerrar
a sessão. Não estava brincando. Embora houvesse mais de 400 deputados
na Casa, muitos parlamentares não registravam presença. A
irresponsabilidade de setores da imprensa ao noticiar o estado de saúde
do presidente colaborava para o impasse. Atenção! Uma regra ditada pelo
Espírito Santo, já que não está em lugar nenhum, estabeleceu que a
sessão só poderia ser iniciada com 342 deputados. Vá lá. Todos toparam a
invenção por ocasião da primeira denúncia, embora ela seja estúpida.
Mas deixo isso pra lá agora.
Num dado momento, havia 328 deputados na
Casa, e o doutor ameaçou pôr fim à sessão. Como um César de si mesmo,
um Napoleão de hospício, o Rei Sol de Brasília, afirmou: “Eu estou aqui
desde as 9 horas da manhã…” Parecia fazer, assim, uma grande concessão a
Temer e ao país. Ora, qual concessão? Estava apenas cumprindo o seu
papel.
O seu tédio durante a votação foi além
da linha do desrespeito. Parecia estar lá torturado por alguma ideia
fixa, que não o abandonava de jeito nenhum. E posso bem imaginar qual
fosse… Ou achava que a Presidência da República deveria ser sua por
merecimento divino. Ou, então, percebia que seu protagonismo, ao
contrário do que dizem seus aspones e plantadores, terminava ali.
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