Faz parte do perfil dos mimados e dos ressentidos achar que o mundo e os outros sempre lhes devem coisas, pagas, reconhecimentos, rapapés. Eles, por sua vez, nada precisam fazer. Apenas vão exigir mais pagas, mais reconhecimentos mais rapapés, mais mimos
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, concede à edição de hoje da Folha entrevista
que é mesmo do balacobaco. Eu terei de inverter a famosa frase, que já é
um clichê, de Shakespeare. Muitos de vocês já devem tê-la ouvido. A
personagem Polônio, da peça Hamlet, depois de ouvir o príncipe a dizer
um monte de coisas aparentemente sem sentido, afirma: “Embora seja
loucura, revela certo método”. Sobre Maia, declarar o quê? “Embora
pareça método, é mesmo loucura”. Para ainda ficar no universo do drama,
já escrevi aqui que Rodrigo deve confundir o presidente Michel Temer com
seu pai, Cesar Maia. Não por acaso, quando aquele quis eleger o seu
jovem de ouro da política, lá atrás, preteriu Rodrigo e preferiu Eduardo
Paes. Acho que sabia o que estava fazendo. Vamos ver.
Nesta
quinta, no dia seguinte ao arquivamento da denúncia, Maia participou de
uma solenidade, com Temer, de liberação de R$ 600 milhões para o Rio,
que está quebrado. Não se duvide de que o presidente faz os seus
esforços de aproximação. Durou pouco. O deputado concedeu uma entrevista
à Folha em que:
– se coloca como juiz do presidente — censurando-o pela conversa havida com Joesley Batista;
– diz que a Câmara sai machucada “porque a sociedade pediu o afastamento do presidente”;
– alimenta a falácia de que a tal portaria do trabalho escravo é regressiva;
– deixa claro não acreditar na reforma da Previdência — mas não o diz em tom de lamento;}
– afirma ter recebido tratamento equivocado do Palácio, mas não expõe os motivos;
– acusa o entorno do presidente de se dedicar à fofoca;
– diz que os aliados do governo “viram a
possibilidade de perder na Câmara e entraram em parafuso” — trata
aqueles que seriam seus aliados como um desprezível “eles”.
Não é
possível. Há algo de profundamente errado com Rodrigo Maia. Indagado
pelo repórter e colunista, um notório crítico do governo Temer, se houve
compra de votos, não pensem que Maia se deu o trabalho de negar ou de
explicar como se dão as negociações num Congresso com as características
do brasileiro ou de expor as vicissitudes do chamado presidencialismo
de coalizão. Nada disso. Saiu pela tangente, endossando, no fim das
contas, a acusação. Disse achar “forte demais” falar em compra de votos.
É
impressionante! Ele tem resposta para todos os males do Brasil e da
política. E, claro, evidencia que o presidente deve a ele o seu mandato.
Diz lá com todas as letras, ao lembrar que não adiou a votação da
segunda denúncia: “Se eu estivesse apenas cumprindo a regra do jogo, se
não tivesse sendo minimamente flexível, poderia ter feito isso. Mas iria
gerar uma instabilidade brutal para o Brasil.”
Ora, que
Rodrigo Maia diga, então, que regra ele descumpriu para não adiar a
votação. Ele já fez isso antes. Já deu a entender que andou quebrando
galhos para Temer, fazendo-lhe favores. Quais? Que se saiba, nessa
relação, quem realmente se mobilizou para fazê-lo presidente da Câmara
pela segunda vez foi o presidente Michel Temer. Eliseu Padilha e Moreira
Franco, que ele critica por supostamente terem interferido na ida de um
parlamentar do PSB para o PMDB (Maia queria o dito-cujo pra ele),
atuaram de forma clara em favor de seu nome. E, ora vejam, ele não
reclamou.
Faz parte
do perfil dos mimados e dos ressentidos achar que o mundo e os outros
sempre lhes devem coisas, pagas, reconhecimentos, rapapés. Eles, por sua
vez, nada precisam fazer. Apenas vão exigir mais pagas, mais
reconhecimentos mais rapapés, mais mimos. Esse é um perfil psicológico,
meus caros! É gente que veio ao mundo para cobrar que os outros se
comportem direito, ainda que eles próprios possam trilhar caminhos um
tanto tortos, como trilhou Maia quando foi jantar na cada do
vice-presidente de um grupo de comunicação empenhado em derrubar o
presidente e voltou anunciando a deputados que o governo não resistiria a
uma segunda denúncia. Ele estava na Presidência interina da República
quando fez isso.
Contestei
ontem aquela conversa mole de que Temer saiu enfraquecido da votação, e
Maia, fortalecido. Mais ainda: chegou a ser tratado como o dono da
pauta. Aí perguntei: de qual pauta? Afinal, nunca vi esse rapaz se
entusiasmar para valer com a reforma da Previdência. Observei também que
era uma tolice fazer dele o condestável das reformas porque ele preside
a Câmara, mas não o Senado.
Numa
conversa, dia desses, com jornalistas, um deles lhe perguntou, em termos
impróprios, que deveriam ter sido repudiados pelo presidente da Câmara,
se ele e Temer já estavam “amiguinhos” de novo. E este novo
Schopenhauer do pensamento político disparou: “Em política, não tem
amiguinhos. Muito menos para sempre”.
Que
aqueles que embalam seus sonhos megalômanos se lembrem disso. A frase
explica por que, na política, ele já traiu Jorge Bornhausen, Eduardo
Cunha e, agora, faz de Temer seu alvo, não dando ao presidente um
miserável dia de bônus. De resto, ele já percebeu o viés anti-Temer da
esmagadora maioria da imprensa. E, claro, larga o verbo. O prato é
saboroso demais para esses setores. Afinal, trata-se de um suposto
aliado do governo descendo a lenha no chefe do Executivo.
Comecei
falando de teatro e com ele termino. Ressuscitado, Nelson Rodrigues não
resistiria e escreveria a peça: “Meu Destino é Trair. Ou: Rodrigo
Felinto Ibarra Epitácio Maia”
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