Infraero simboliza barganhas entre Temer e Câmara
Para garantir votos do PR, Planalto aceita
pressão de ex-deputado e ex-presidiário, e não privatiza Congonhas para
aeroporto sustentar a ineficiente Infraero
O Globo
já conhecido balcão de barganhas, instalado pelo Planalto antes da
votação na Câmara da primeira denúncia da Procuradoria-Geral da
República contra o presidente Michel Temer, apresentou grande
movimentação também para o governo garantir a rejeição do segundo
conjunto de acusações, na sessão plenária marcada para hoje. Desta vez,
incluem-se, ao lado do presidente, nas denúncias de formação de
organização criminosa e obstrução de Justiça, os ministros Eliseu
Padilha e Moreira Franco.
Com a vitória considerada garantida por governistas e cooptados,
discutem-se detalhes, como se o apoio a Temer e aos ministros será
superior aos 263 votos conseguidos na primeira vez. O parecer favorável
ao governo, de autoria do deputado Bonifácio de Andrada (MG), aprovado
na Comissão de Constituição e Justiça, terá de ser rejeitado, em
plenário, por no mínimo 342 votos. Muito difícil.
Tem sido um trabalho intenso de compra literal de apoios. Ontem
mesmo, entre outras medidas, Temer assinou decreto para atenuar multas
por crimes ambientais, promessa feita à bancada ruralista. Houve, ainda,
a portaria que relaxava regras de combate ao chamado trabalho escravo,
suspensa, de forma liminar pela ministra Rosa Weber, do Supremo.
O
toma lá nesse balcão do fisiologismo em troca da rejeição da denúncia
contabiliza-se em bilhões de reais. Mas a barganha que mais simboliza o
nível das negociatas feitas para garantir que o Supremo não examine os
casos de Temer e ministros — ao perderem o foro privilegiado, o processo
irá para a primeira instância —, é a forma como o Planalto conseguiu o
apoio do PR, do ex-deputado e ex-mensaleiro presidiário Valdemar Costa
Neto.
Foi-lhe concedido nada menos que a retirada de Congonhas do programa
de privatizações, para que o aeroporto continue a sustentar a estatal
Infraero, centro de negócios mais que obscuros em que se envolvem
políticos como Costa Neto, além de servir de cabide de emprego para
apaniguados.
Quando a Infraero foi criada, na ditadura, no governo Médici, foi
dito ao ministro da Fazenda, Delfim Neto, refratário à ideia de uma nova
estatal, que a empresa teria apenas 600 funcionários para administrar
os aeroportos. Abriga 7 mil. Parte ponderável, ociosa, porque vários
grandes terminais já foram licitados. E eles continuam lá.
Em troca de votos da bancada do PR, usuários de Congonhas continuarão
a ser obrigados a embarcar e desembarcar no pátio, sob sol e chuva,
porque nos horários de pico as únicas 12 passarelas disponíveis no
terminal são insuficientes para atender à demanda. Entre eles estão os
passageiros da Ponte Aérea Rio-São Paulo, uma das mais movimentadas e
rentáveis do planeta. Todos vítimas desses esquemas corporativista e
fisiológico da velha política brasileira.
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