segunda-feira, 31 de março de 2014

Ciberterrorismo e Rússia são novo 'campo de batalha' dos EUA
Barrie Barber - TNYTNS
No final do ano, os Estados Unidos terão trazido de volta quase todos, se não todos, os seus soldados do Afeganistão, pondo fim a 13 anos de guerra. Mas possíveis ameaças futuras manterão o radar geopolítico e de defesa do país em alerta por décadas, dizem especialistas.
Nos últimos meses, tropas russas invadiram a península da Crimeia na Ucrânia, a China entrou num impasse territorial com o Japão e outros vizinhos, e as instituições e agências do governo dos EUA enfrentaram uma enxurrada constante de ataques cibernéticos.
Mas o resultado mais certo na arena das ameaças futuras é a ocorrência inesperada, disse Anthony Cordesman, analista militar do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, D.C.
Os Estados Unidos não previram tensões com a Rússia por conta da invasão e anexação da Crimeia, nem o fato de a China declarar uma zona de defesa aérea numa disputa territorial pelas ilhas Senkakau/Diaoyu, também reivindicadas pelo Japão, observou o especialista em segurança nacional.
"Acho que é um alerta em relação à ideia de que você pode ficar parado e priorizar", disse Cordesman. "A incapacidade de prever o futuro é provavelmente a única coisa consistente em relação a prever o futuro."
O maior ataque terrorista na história do país, o ataque de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, não foi previsto amplamente, observou o analista de defesa John E. Pike, diretor da GlobalSecurity.org.
"Claramente, uma grande ameaça é uma que não prevemos", disse Pike.

Maior vulnerabilidade

Analistas de defesa dizem que algumas ameaças podem ser previstas no século 21: o potencial de bioterrorismo, o espectro da proliferação nuclear e a realidade da guerra cibernética.
"A economia nacional foi transferida para a internet e isso a torna muito mais vulnerável para ameaças de fora do que antes", disse Loren B. Thompson, analista de defesa do Instituto Lexington em Arlington, Virgínia.
"A probabilidade de um ataque cibernético é de 100%", disse Thompson. "De fato, está acontecendo constantemente. A questão é quão grave ele será. As ameaças avançadas e persistentes são bem capazes de destruir a distribuição de eletricidade ou as instituições financeiras se não forem repelidas com sucesso."
Os avanços na biotecnologia em áreas como a combinação genética podem significar uma probabilidade maior de que terroristas obtenham armas biológicas, disse Thompson. E ele acredita que o fantasma de décadas de armas nucleares continuam representando a maior ameaça à segurança nacional.
"Muitos especialistas estão concentrados em ataques cibernéticos e armas biológicas, mas as armas nucleares são a única coisa que poderia destruir os EUA na próxima hora", disse Thompson.
"O problema com as armas nucleares é que ninguém sabe qual é a probabilidade de seu uso. Todos sabemos que há dezenas delas, e poucas dezenas poderiam derrubar a economia dos EUA."

Ataques assimétricos

Os adversários dos EUA buscam vulnerabilidades para atacar de forma assimétrica, diz Gary O'Connell, cientista-chefe do Centro Nacional de Inteligência Aérea e Espacial (Nasic, na sigla em inglês) na Base Wright-Patterson da Aeronáutica.
"Nossos adversários ou potenciais adversários vêm nos observando pelos últimos 25 anos ou mais e os conflitos em que estivemos envolvidos, e eles perceberam que não querem lutar conosco usando força contra força", disse ele.
Os analistas do Nasic fornecem avaliações de ameaças aéreas, espaciais e cibernéticas estrangeiras para o presidente dos Estados Unidos, lideres no congresso e altos funcionários do Pentágono, junto com outras informações de inteligência.
Em julho passado, a agência produziu um relatório de avaliação de Ameaça de Balística e Mísseis com o Centro de Inteligência de Mísseis e Espaço da Agência de Inteligência de Defesa e com o Escritório de Inteligência Naval. O relatório examina os desenvolvimentos dos estoques de mísseis de adversários em potencial.
O Nasic também tem em seu radar um avião de guerra de quinta geração, o Sukhoi PAK FA, um jato antidetecção fruto de um programa conjunto da Rússia com a Índia, e o jato antidetecção J-20 da China, de acordo com o comandante do Nasic, coronel Aaron Prupas.
"Estamos observando quais são as tecnologias avançadas que estão surgindo no ar e no espaço e como podemos criar da melhor forma uma inteligência de previsão para garantir que o país seja capaz de se defender numa área que não permite controle nem acesso", disse ele.
Com três mil funcionários em Wright-Patterson, a agência deve determinar quais ameaças representam riscos para as operações. "Precisamos ser capazes de dizer o que vai acontecer no futuro e este é provavelmente um dos maiores desafios relacionados a essas tecnologias", disse ele.
Os esforços para combater as capacidades espaciais norte-americanas receberam um impulso, disse O'Connell. Os adversários desenvolveram sinais eletrônicos que confundem os mísseis em terra enquanto perseguem outros alvos, disse ele.
"O espaço está ficando mais congestionado, disputado e competitivo", disse ele. As nações também construíram forças de balística e mísseis e veículos aéreos não-tripulados, e estão tentando examinar as capacidades cibernéticas, de comunicação e logísticas dos EUA.

Uma nova guerra fria?

Desafios recentes de segurança, como a invasão da Crimeia pela Rússia ou a agressividade da China contra o Japão e outras nações fronteiriças, podem soar como um retorno à Guerra Fria.
O conflito com uma China em ascensão "inevitavelmente se torna mais provável com o tempo à medida que ela se torna mais assertiva", reconheceu Pike.
Ameaças-chave são claramente definidas na Análise Quadrienal de Defesa do Pentágono, um documento divulgado este mês que em parte descreve futuras ameaças aos EUA e seus aliados, disse Cordesman.
O documento estratégico tem três prioridades: proteger o país, construir a segurança global através de parcerias e alianças, e projetar o poder para vencer decisivamente num conflito.
Com orçamentos menores do que durante a era de guerras pós-11/9 no Afeganistão e Iraque, o Pentágono recalibrou sua estratégia, pedindo um Exército menor para lutar e vencer uma guerra regional e impedir o avanço de um adversário em outra, mostra o documento.
Ele pede a substituição ou modernização de velhos sistema de armas enquanto reduz o número de pessoas e aeronaves, navios e outros equipamentos. No caso das Forças Aéreas, o serviço mandaria de volta para casa 25 mil funcionários - a maioria deles nos próximos dois anos - e aposentadoria centenas de aviões.
"Não é possível ter uma postura de força para lidar com qualquer contingência, mas é preciso ter uma postura de força para lidar com as contingências mais críticas", disse Cordesman.
Altos líderes de defesa disseram que embora achem os riscos administráveis nos próximos dois anos fiscais, cortes mais profundos que devem ser retomados em 2016 ameaçariam a capacidade do exército para realizar sua missão e erodiriam a segurança do país.
Cordesman não questiona as prioridades de defesa do país.
"Se estamos fornecendo os recursos corretos é uma questão totalmente diferente", disse ele.

Gastos de guerra, ameaças ignoradas?

Paul D. Eaton, conselheiro sênior da Rede de Segurança Nacional e major general aposentado do exército, disse que os Estados Unidos investiram alto para deter ameaças estratégicas.
"Não parece haver, da perspectiva da política externa, muitas ameaças aos nossos interesses vitais que não possamos administrar", disse ele.
"Os Estados Unidos, entretanto, não gastaram muito na não-proliferação nuclear,  com as mudanças climáticas e combater armas biológicas", completou.
"Essas são as cartas que viram o jogo para os Estados Unidos e basicamente para a humanidade", disse o ex-general de duas estrelas.
Na biotecnologia, por exemplo, "o conjunto de habilidades está migrando para um nível mais baixo e há caras por aí que estão mexendo com a natureza de uma forma que pode não ajudar muito a humanidade", disse Eaton. "É um motivo de preocupação, mas não se vê muita atividade no mundo ou nos EUA, no nosso caso, para combater isso."
Alguns legisladores no Congresso não demoram a pressionar pelo uso da força militar antes de permitir que diplomacia ou as sanções econômicas trabalhem, disse ele.
"Em vez de dar ao presidente algum espaço para tentar administrar o comportamento da Rússia com ferramentas econômicas e diplomáticas, temos alguns senadores que querem enviar aviões F-22", disse ele.
Winslow T. Wheeler, diretor do Projeto Strauss de Reforma Militar no Projeto de Supervisão do Governo em Washington, D.C., disse que as ameaças aos Estados Unidos são "infinitamente menores" do que durante a Guerra Fria, quando os Estados Unidos enfrentavam a União Soviética e uma China comunista mais hostil.
"Quanto a isso, no futuro a ameaça é aparentemente invisível. Ele disse: "se você acha que são terroristas, os terroristas usam um orçamento provavelmente de um bilhão ou dois por ano. Nós estamos gastando mais do que isso (em defesa nacional) em apenas um dia."
O dinheiro que os EUA gastaram para lutar contra o terrorismo antagonizou muitas populações de países nos quais os Estados Unidos lutaram.
"Na verde, o que fizemos foi ajudar os terroristas, fazendo com que se alastrassem", disse ele. Os Estados Unidos ainda gastam mais com seu exército do que a Rússia, China, Irã e Coreia do Norte combinados, disse Wheeler.
"Enfrentamos uma ameaça bem maior durante a Guerra Fria", disse ele. "Foi muito real, e agora estamos gastando mais e os líderes de segurança nacional estão reclamando que os contribuintes os estão deixando pobres.", finalizou.
Tradutor: Eloise De Vylder

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