domingo, 30 de março de 2014


'Onda azul' da extrema-direita deve tomar eleições municipais na França
Em Paris, candidata do Partido Socialista, Anne Hidalgo, pede que eleitor vá às urnas após abstenção recorde 
Patrícia Dichtchekenian - OM
O primeiro turno das eleições municipais francesas no último domingo (23/03) surpreendeu o panorama político do país, com o avanço dos partidos de direita UMP (União por um Movimento Popular) e extrema-direita Frente Nacional (FN) – fenômeno chamado pela imprensa local de “vague bleue” (onda azul”, em francês). Nesta tarde (30/03), o  segundo turno apontará se as tendências da última semana se sustentarão de fato ou se haverá um resultado mais surpreendente ainda.
Na primeira rodada, a esquerda obteve apenas 38,8% dos votos, enquanto a centro-direita somou 46,4%. Já os ultraconservadores da FN, que não controlavam nenhuma prefeitura, receberam 4,7% dos votos totais, apesar de terem concorrido em apenas 597 de quase 36.600 municípios.
Entre as principais mudanças vistas no primeiro turno, destacaram-se também uma taxa de abstenção recorde de 36,45% em todo território nacional e um fracasso do Partido Socialista (PS) do presidente François Hollande. Há alguns motivos que explicam a derrota dos esquerdistas. A mais evidente é a insatisfação com o governo de Hollande, que resultou em uma desconfiança face à sua figura política e a de seu partido. Por isso, os candidatos socialistas ainda em disputa optaram por distanciar das políticas elaboradas pelo líder do país.
Amanda Lourenço/Opera Mundi

Em Paris, cartazes com informações sobre os candidatos à prefeitura; cidade tem disputa inédita entre mulheres  

Contudo, há outra questão em jogo: o eleitorado da direita também se revelou mais mobilizado do que o da esquerda: no último pleito, 75% dos simpatizantes do UMP foram às urnas, contra 65% dos esquerdistas. E essa abstenção não é por acaso, afirma Jean-Yves Dormagen, professor de Ciências Políticas, ao jornal Le Monde. “Os eleitores da maioria têm a tendência de se abster mais do que aqueles da oposição”, explica.
Além disso, é preciso levar em conta as alterações que acontecem no “entre turnos”, já que um eleitor pode mudar de idéia e votar em outro candidato ou até se abster na segunda etapa do processo político e vice-versa. “É raro que um segundo turno desminta o primeiro, mas a leitura do primeiro momento pode fazer com que o eleitor reaja. O medo de ver uma cidade se alternar radicalmente de partido pode resultar em uma mobilização local”, afirma Dormagen.

Cenário desfavorável

Segundo estimativas do jornal Libération, pelo menos 70 prefeituras de esquerda perderão espaço para os candidatos direitistas. “75% dos eleitores de Marine Le Pen (presidente da FN) desejam a derrota dos socialistas”, afirma o especialista em estudos de opinião Guillaume Peltier, ao veículo.
Amanda Lourenço/Opera Mundi
Funcionários de órgão eleitoral fazem apuração de pleito municipal no primeiro turno, realizado no último domingo (23/03) 
Já para o Le Monde, o Partido Socialista poderá perder em torno de 90 municípios. Entre eles, ressaltam-se cidades populosas como Toulouse, Lyon, Estrasburgo e Lille. De acordo com sondagens do veículo, 116 cidades com mais de 10.000 habitantes estão suscetíveis a uma alternância de direcionamento político: 110 de predomínio esquerdista podem migrar para a direita ou extrema-direita; quatro de predominância direitista podem se tornar esquerdistas e duas cidades de direita têm chances de se radicalizarem para a extrema-direita.
Em Marselha, a segunda maior cidade francesa, o PS tinha apostado suas fichas na tentativa de desbancar a direita local. Contudo, o seu candidato socialista, Patrick Mennucci, foi derrotado logo no primeiro turno pelos conservadores da UMP e da FN.

Paris

Pela primeira vez, a capital francesa terá uma mulher à frente da prefeitura. No primeiro turno, a franco-espanhola Anne Hidalgo (PS) - favorita para a sucessão do também socialista Bertrand Delanöe – perdeu para a opositora Nathalie Kosciusko-Morizet (UMP), que ganhou com uma pequena margem de votos (34,8% contra 33,6%).
Na noite de quinta-feira (27/03), as candidatas tiveram oportunidade de se pronunciar em público pela última vez antes do segundo turno para reafirmar suas estratégias eleitorais. Hidalgo aproveitou o momento para mobilizar seus eleitores. “Nós temos forças para vencer domingo, mas a vitória ainda não está lá. É preciso convencer aqueles que não vieram às urnas para irem desta vez e também convencer aqueles que vieram uma vez para virem novamente”.
Efe

A franco-espanhola Anne Hidalgo, no seu último ato público para campanha nas eleições municipais de Paris, na quinta (27/03)  

Já Nathalie Kosciusko-Morizet, ex-ministra da ecologia, aproveitou o momento para criticar o governo de Hollande, apontando para uma recusa à “incapacidade política” do chefe de Estado socialista. A representante da UMP também sublinhou suas divergências com Hidalgo e finalizou seu discurso com a frase: “no domingo, tudo pode mudar”.

O avanço da extrema-direita

A Frente Nacional, partido da extrema-direita, comemorou resultados históricos após a estratégia de renovação de sua imagem. Marine Le Pen, líder do partido, se mostrou menos radial e conseguiu mais espaço nas urnas.
No segundo turno, o partido se apresenta em 229 cidades e a expectativa é que o partido conquiste mais municípios neste turno. Segundo a RFI (Radio France International), a FN tem boas chances em cidades importantes da França como Perpignan, Béziers e Avignon, no sul. Além disso, o partido conseguiu eleger um primeiro prefeito no primeiro turno, em Hénin-Beaumont, cidade ao norte do país.
“Isso vai mostrar a nossos eleitores que podemos ganhar qualquer eleição”, disse Le Pen em entrevista à edição do final de semana do  Le Monde. A líder calcula que o seu partido pode sair vencedor em 15 cidades no segundo turno.

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