domingo, 23 de novembro de 2014

Um estranho no ninho: a escolha de um ortodoxo por desenvolvimentistas
Rodrigo Constantino - VEJA
Joaquim Levy. Fonte: Exame
Em poucos dias Joaquim Levy deve ser confirmado como o novo ministro da Fazenda, substituindo Guido Mantega. Após um convite feito a Luiz Trabuco, presidente do Bradesco, que declinou, o diretor-superintendente do Bradesco Asset Managment (Bram) deve ser o novo responsável pela condução da política econômica.
A notícia animou os mercados, pois os investidores enxergam em Levy a seriedade necessária para o resgate da credibilidade perdida. Seria a sinalização de que Dilma pretende dar uma guinada à “direita”, adotando postura mais ortodoxa no segundo mandato.
De fato, Levy goza do respeito dos investidores. Como Secretário do Tesouro Nacional durante o primeiro mandato de Lula, e também tendo atuado como Secretário da Fazenda no governo de Sérgio Cabral, Joaquim Levy ganhou a fama de duro na hora de abrir os cofres, reputação fundamental para ser um bom ministro da Fazenda, alguém que precisa dizer “não” com muita frequência aos anseios perdulários dos governantes.
Justamente por isso, por ter sido visto como um negociador firme e com “mãos de tesoura”, a escolha desperta mais dúvidas do que certezas. Será que Dilma realmente está disposta a abrir mão do controle da economia, para deixá-lo nas mãos de alguém com autonomia para negá-la pedidos e favores eleitoreiros? Será que a equipe dele terá novos nomes capazes de desafiar a mentalidade predominante no governo atual?
Levy é doutor pela Universidade de Chicago, uma das mais respeitadas do mundo e com vários liberais conhecidos, como o Prêmio Nobel Milton Friedman. Como um ortodoxo vai lidar com tantos desenvolvimentistas, que acreditam nos gastos públicos crescentes como uma espécie de panaceia? Como será esse embate ideológico dentro do próprio governo? Dilma acordou mesmo para seus erros, ou está apenas tentando ludibriar os investidores e ganhar tempo?
As próximas decisões deixarão mais claro qual é o caso. De minha parte, desconfio bastante, infelizmente, tratar-se da segunda alternativa. Dilma se convenceu que deveria fazer alguma concessão, sinalizar que escutou um pouco as reclamações dos investidores, mas em sua cabeça basta isso, um ato cordial, uma indicação amigável, e tudo voltará ao “normal” depois. Ou seja, o nacional-desenvolvimentismo seguirá seu curso, com ou sem Levy.
A jornalista Miriam Leitão resumiu bem a questão em sua coluna deste sábado:
Joaquim Levy
Concordo. Será que Levy aceita rasgar sua reputação e suas crenças para contemporizar com os desenvolvimentistas? Acho pouco provável. O que nos deixa as duas outras opções: ou a presidente Dilma realmente decidiu mudar e deixar de ser ela mesma, ainda que reeleita, ou Levy não será ministro por tanto tempo. Eu apostaria nessa última alternativa…

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