domingo, 23 de novembro de 2014

Um primeiro passo
JOÃO BOSCO RABELLO - OESP
Atribuído a Ulysses Guimarães, o dito de que em política só têm importância o fato novo e o fato consumado pode ser aplicado parcialmente ao primeiro movimento da presidente Dilma Rousseff para tentar reverter o desgaste econômico que marca o início de seu segundo mandato.
O fato novo é a aparente determinação de acenar positivamente ao mercado com uma equipe econômica com potencial para resgatar a confiança perdida pela insistência em desconsiderar a relação entre a mudança do modelo econômico e os maus resultados obtidos.
O adiamento do anúncio formal de Joaquim Levy para o ministério da Fazenda, e de Nelson Barbosa, para o Planejamento, não parece vinculado a algum fator que possa reverter as escolhas, mas aos seus desdobramentos, com as nomeações decorrentes, para o Tesouro Nacional, BNDES e outros postos afetados pelas mudanças.
A reação positiva do mercado, presente não apenas em manifestações de apoio como a do ex-diretor do Banco Central Mário Mesquita - hoje sócio de um banco de investimentos -, mas também na maior alta da bolsa desde 2011, reflete o êxito do objetivo presidencial de criar expectativa nova no ambiente econômico.
Com o movimento, a presidente começa a desfazer o vácuo aberto entre o fim da eleição e a sua viagem para a reunião do G20, quando levou ao limite o suspense sobre a direção da economia de seu segundo mandato.
Desfeita a dúvida sobre a qualificação da nova equipe, começam as demais, referentes à autonomia e ao convívio funcional dos novos ministros, cujas passagens anteriores pelo mesmo governo do PT ficaram marcadas pelas divergências com o partido e determinaram a saída antecipada de ambos.
O problema se repetirá, como já ficou patente na reação negativa de setores petistas, e testará a capacidade da presidente da República de se impor ao partido - e também a sua própria de flexibilizar suas convicções econômicas em favor do resgaste de seu governo.
Diante do imenso desafio da nova equipe e a complexa operação política que reúne a administração dos efeitos das investigações na Petrobrás e a recomposição política com o Congresso, deve-se definir a etapa inconclusa da composição do ministério econômico, apenas como uma preliminar do jogo principal.
A expectativa positiva foi criada - esse, o fato novo. A gestão da economia daqui em diante é que mostrará o grau de autonomia dos ministros que voltam ao governo do PT - e se terão, desta vez, o respaldo presidencial para exercerem a missão de restaurar a economia.
É quando se terá, para o bem ou para o mal, o fato consumado.

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