sexta-feira, 31 de julho de 2015

Forças Armadas da Venezuela ocupam armazéns privados
Principal alvo é fábrica de alimentos Polar, maior empresa do país; governo diz que pretende construir casas na área
Determinação para desocupar local em até 60 dias é 'arbitrária', afirma à Folha um dos diretores da Polar
SAMY ADGHIRNI - FSP
Em mais um ataque ao setor privado pelo governo da Venezuela, as Forças Armadas ocupam desde quarta (29) à noite um complexo de armazéns usado por empresas de alimentos em uma área industrial a oeste de Caracas.
O alvo principal da ação parece ser a Empresas Polar, maior grupo privado do país, que produz de cerveja a farinha de milho usada nas arepas, prato típico. Também foram ocupados prédios da Pepsi (sócia da Polar), da Coca-Cola e da Nestlé.
O diretor de alimentos da Polar, Manuel Larrazábal, disse à Folha que a ordem do governo, entregue por um juiz, determina a desocupação dos armazéns em 60 dias e a expropriação do terreno, que é de outra empresa.
Larrazábal chamou de "arbitrária" a justificativa do Executivo de querer erguer casas populares no local.
"Reconhecemos a necessidade de construir moradias, mas estes são terrenos produtivos. A própria lei determina que só terrenos ociosos ou abandonados podem ser ocupados para desenvolvimento urbano", disse, em referência a decreto assinado em 2011 por Hugo Chávez.
"Não entendo o motivo de afetar estruturas industriais com tantas áreas disponíveis na cidade", afirmou Larrazába, que pediu ao governo que reconsidere a decisão.
Segundo o diretor, a medida ameaça o trabalho de 600 funcionários e 1.400 empregos indiretos.
Dezenas de trabalhadores protestaram no local para defender suas vagas, e a frase "não à expropriação" foi pintada nos muros.
Também houve manifestações de apoio à decisão por parte de simpatizantes do governo contentes com a perspectiva de obter novas casas.
Críticos suspeitam que o governo esteja tomando medidas populistas antes da eleição parlamentar de dezembro, na qual chega com baixa popularidade.
Mas a ocupação e o futuro desmantelamento de um centro de distribuição, de onde saem a cada mês 12 mil toneladas de alimentos para milhares de lojas em 19 municípios, gera temores de acirramento da escassez na região de Caracas.
'GUERRA ECONÔMICA'
Não havia declarações oficiais sobre o caso até a noite desta quinta. Mas o presidente Nicolás Maduro costuma acusar Lorenzo Mendoza, dono da Polar, de ser um dos "oligarcas" responsáveis pela suposta "guerra econômica" travada pelo empresariado contra o modelo chavista.
Para Maduro, o mundo dos negócios privados conspira com a oposição e com forças estrangeiras para ocultar estoques de alimentos e criar filas propositalmente, com o intuito de jogar a população contra o seu governo.
Empresários negam as acusações e dizem que a escassez e o desabastecimento são resultado de políticas chavistas, como controle de preços e câmbio e expropriações de empresas produtivas.
A operação de quarta-feira surge em meio a tensões sociais provocadas pelo risco de fechamento de duas fábricas de cerveja da Polar devido à dificuldade de importar matéria prima e insumos.
O tema causa nervosismo não só no meio sindical, mas em boa parte da população, que teme ficar sem cerveja. 
Cameron diz que deportará 'enxame' vindo do Eurotúnel
Segundo premiê, Reino Unido não abrigará milhares de imigrantes que tentam cruzar canal a partir da França
Na cidade francesa de Calais, Folha presencia dezenas perambulando perto de terminal para tentar invadir acesso
LEANDRO COLON  - FSP
Por volta das 2h desta sexta (31) –21h de Brasília nesta quinta (30)–, dezenas de imigrantes, sozinhos ou em grupos, perambulavam em Calais pelo gramado e por ruas de acesso à entrada do Eurotúnel, que liga a cidade do extremo norte da França ao Reino Unido. Ao mesmo tempo, alguns policiais franceses, em minoria, tentavam dispersá-los pela escuridão da mata. Um dos imigrantes se identificou à reportagem da Folha como Abram, 20, nascido na Eritreia, país do leste da África.
Caminhava sozinho, monitorando os poucos caminhões que passavam pelo local neste horário–a principal estratégia é tentar invadir as traseiras desses veículos para chegar escondido ao Reino Unido. "Quero só ir à Inglaterra, onde a vida é melhor", limitou-se a dizer.
É isso que o primeiro-ministro britânico, David Cameron, quer evitar de todas as formas. Ele indicou nesta quinta-feira (30) que os imigrantes que tentam atravessar o Eurotúnel ilegalmente da França para o Reino Unido podem ser deportados. Segundo Cameron, o Reino Unido não será um "refúgio seguro" para eles.
O premiê provocou críticas da oposição ao classificar de "enxame" os milhares de pessoas que cruzam o mar Mediterrâneo para viver na cidade portuária de Calais, lado francês da saída do canal da Mancha, à espera de uma brecha para atravessar o túnel em direção ao território britânico.
Segundo a administração do Eurotúnel, entre terça (28) e quinta (30), pelo menos 3.800 tentaram fazer esse trajeto –um deles morreu.
"Há um enxame de pessoas vindo pelo Mediterrâneo em busca de uma vida melhor, porque o Reino Unido tem bons empregos, a economia está crescendo, mas precisamos proteger nossas fronteiras", afirmou o premiê ao canal ITV News, durante viagem ao Vietnã.
"Nós temos de proteger as fronteiras para ter certeza de que os turistas britânicos poderão ir para as suas férias", afirmou, referindo-se aos recentes transtornos causados na região aos veículos que tentam cruzar o Eurotúnel para o lado francês.
A Comissão de Refugiados do Reino Unido classificou de "desumana" a declaração.
Líderes dos partidos Trabalhista e Liberal-Democrata também repudiaram as palavras de Cameron.
TENSÃO EM CALAIS
Ao ser abordado pela reportagem em Calais, o imigrante Abram saiu depressa, pediu para não ser fotografado nem disse o sobrenome.
Logo depois dele, outros três passaram pelo mesmo local. Apenas contaram que eram da Síria, mas não quiseram conversa.
A maioria é jovem, entre 20 e 30 anos. Homens são maioria, mas há mulheres.
Muitos imigrantes estão assustados com o aumento da presença de jornalistas nos últimos dias e, sobretudo, com o reforço no efetivo francês de segurança –ao menos 120 policiais de uma tropa especial foram deslocados para conter a onda migratória.
É incerto quantos imigrantes vivem hoje na região –estima-se que haja entre 3.000 e 5.000. Praticamente todos chegaram à Europa pelo mar Mediterrâneo, e a maioria mora em acampamentos, chamados de "jungles".
Também não há um dado oficial sobre a quantidade de pessoas que concluíram com sucesso a travessia para o Reino Unido nos últimos anos.
Segundo relato do parlamentar trabalhista Keith Vaz, 148 foram detidas na terça-feira (28) ao chegar à cidade inglesa de Folkestone. 
À medida que os americanos descobrem a rotatória, ela se espalha pelo país
Eric A. Taub - NYT
Shawn Poynter/The New York Times
Após a implantação das primeiras nos Estados Unidos no início dos anos 90, as rotatórias dobraram na última década para cerca de 5 milApós a implantação das primeiras nos Estados Unidos no início dos anos 90, as rotatórias dobraram na última década para cerca de 5 mil
Ficar preso em uma longa fila de veículos por minutos a cada vez, simplesmente tentando entrar em uma rua principal congestionada, não é a ideia de diversão de ninguém.
Esse era o problema que Matt Kothe enfrentava diariamente indo e voltando do trabalho. "Ninguém parava para me deixar entrar", disse Kothe, um coordenador de mídia de Knoxville, Tennessee.
Mas para Kothe, sua viagem melhorou assim que a placa de pare foi substituída por uma rotatória.
"Eu costumava perder 10 minutos até conseguir entrar na via principal", ele disse. "Agora não há espera."
Antes vista apenas em países como a França e o Reino Unido, a rotatória, defendida por engenheiros de tráfego por diminuir o congestionamento e reduzir as colisões e mortes, está experimentando um rápido crescimento nos Estados Unidos.
Após a implantação das primeiras nos Estados Unidos no início dos anos 90, as rotatórias dobraram na última década, para cerca de 5 mil atualmente, segundo Richard Retting, um ex-pesquisador de transportes do Instituto de Seguro para Segurança Rodoviária. "Há centenas, se não milhares, em planejamento", ele disse.
No Estado de Nova York, o aumento é ainda mais notável. De 18 em 2005, o Estado agora possui 112.
E a cidade de Nova York receberá a primeira neste mês, quando uma intersecção de três vias no Bronx, que é um desafio para os pedestres, tiver sua conversão concluída.
As novas rotatórias diferem da Columbus Circle em Manhattan, por exemplo, onde o fluxo do trânsito é controlado por semáforos.
Mas as rotatórias geralmente não possuem semáforos. Em vez disso, o veículo que se aproxima de uma reduz a velocidade e geralmente a preferência é daqueles que já estão no círculo.
Nova Jersey está gradualmente implantando rotatórias sem semáforos. Nos cruzamentos mais problemáticos, "uma das opções sendo consideradas mais seriamente é a rotatória moderna", disse Kevin Israel, um porta-voz do Departamento dos Transportes de Nova Jersey.
Em comparação às placas de pare e semáforos, as rotatórias são significativamente mais seguras, dizem os engenheiros. Por exemplo, colisões que resultam em ferimentos sérios ou morte são reduzidas em 82% em comparação aos cruzamentos com preferencial e em 78% em comparação a um cruzamento com semáforo, segundo Jeff Shaw, gerente do programa de cruzamentos da Administração Federal Rodoviária.
Retting, do grupo de seguro, disse que a redução em ferimentos e fatalidades é "incomparável a qualquer outra coisa que pode ser feita em engenharia de tráfego".
Diferente dos cruzamentos comuns, os motoristas não podem cruzar a rua correndo e atingir um veículo de forma perpendicular; em vez disso, eles precisam reduzir e se juntar aos outros no círculo. Virar  à esquerda diante de um tráfego no sentido contrário é eliminado. E como os veículos nunca chegam a parar totalmente, menos combustível é gasto.
E há até mesmo um benefício adicional: se os motoristas não estão familiarizados com a área, eles podem continuar no círculo até descobrirem sua rota –-como o personagem de Chevy Chase em "Férias Frustradas 2".
O governo federal é um grande apoiador das rotatórias. "Nosso interesse é que o número delas aumente", disse Shaw. "Todos os Estados mudaram de ideia e passaram a apoiá-las. Estamos vendo centenas sendo implantadas a cada ano."
Apesar de recursos federais pagarem por grande parte do custo de melhorias em segurança locais, a construção de rotatórias pode ser promovida com incentivos, com algumas se qualificando para 100% de financiamento federal, disse Shaw.
Em relação ao custo, semáforos que fazem parte de uma grade conectada podem custar até US$ 200 mil (R$ 675 mil) para instalação. E depois há a manutenção.
"Eles exigem manutenção constante", disse Brian Walsh, engenheiro de tráfego e operações estadual do Departamento dos Transportes estadual de Washington.
Apesar das muitas vantagens das rotatórias, a opinião pública nem sempre é receptiva. Indivíduos e comunidades locais se queixam de que as rotatórias são difíceis de entender; são difíceis de transitar; tomam muito espaço e não são atraentes.
"Nós perdemos rotatórias por razões políticas", disse Walsh, a autoridade dos transportes de Washington. Quando uma rotatória foi planejada em Malta, Nova York, no norte de Albany há 10 anos, "a comunidade ficou dividida", disse Carol Breen, uma porta-voz do Departamento dos Transportes estadual de Nova York. "Mas depois, todos adoraram."
Kothe, o morador de Knoxville, disse que costuma ver pelo menos duas ou três pessoas por semana que param em cada entrada, para deixar o trânsito entrar, enquanto percorrem o círculo. "Com certeza acho que os americanos precisam de alguma ajuda para entender", ele disse.
As objeções da comunidade e dos motoristas não importam, disse Peter Doctors, um engenheiro de tráfego e projetista de uma das primeiras rotatórias em Santa Barbara, Califórnia.
"O fato de possuírem carteira de motorista não torna as pessoas engenheiros de trânsito", ele disse. "Mesmo com as pessoas ainda confusas sobre como usá-las, elas ainda assim funcionam."
Tradutor: George El Khouri Andolfato 
Intolerância russa leva elite cultural e empresarial do país ao exílio
Cientistas, homens de negócios, jornalistas... a quantidade de profissionais qualificados que deixam a Rússia por pressões políticas dobrou em alguns anos
Pilar Bonet - El País
Políticos, ativistas de organizações não-governamentais, economistas, jornalistas e outros profissionais qualificados da Rússia emigram para buscar no estrangeiro as oportunidades que não veem em seu país, cujas autoridades se mostram cada vez menos tolerantes com os setores críticos.
A Europa é o destino favorito desses emigrantes de elite. Alguns partem porque são perseguidos ou se arriscam a serem processados; outros porque encontram trabalhos mais atraentes ou porque se sentem em perigo e temem por seus familiares. Nesse conjunto também há empresários de êxito que tiveram de vender suas empresas na Rússia. Svetlana Ganushkina, da ONG Colaboração Cidadã, especializada em emigração, afirma que o número de russos que pediram asilo na Europa duplicou entre 2012 e 2013, passando de 21 mil a 41 mil.
Na teoria, não há perseguição política, pois a Promotoria ou o Comitê de Investigação da Rússia alegam suspeitas de delitos contra os indesejáveis, como Ilia Ponomariov, o único deputado da Duma estatal da Rússia (a Câmara baixa), que votou contra a anexação da Crimeia em 2014. Ponomariov, político de esquerda e um dos líderes dos protestos contra as irregularidades nas eleições parlamentares de 2011 e presidenciais de 2012, foi privado da imunidade para ser processado por suposta participação em um desvio de verbas no Centro Tecnológico de Skolkovo. Ponomariov, especialista em alta tecnologia, vive hoje na Califórnia (EUA).

Acusados de traição

Maria Gaidar, filha de Yegor Gaidar, o artífice da reforma econômica liberal russa, aceitou este mês o cargo de vice-governadora de Odessa, que lhe foi proposto por Mikhail Saakashvili, atual governador dessa província ucraniana e ex-presidente da Geórgia. Gaidar, que estudou administração pública em Harvard, foi vice-governadora da região russa de Kirov e assessora da Prefeitura de Moscou, e esteve envolvida em diversos projetos de oposição. Agora foi acusada inclusive de traição à pátria por políticos estabelecidos da Rússia, e Ella Pamfilova, chefe da comissão de distribuição de bolsas presidenciais, anulou a que Gaidar havia recebido como chefe da ONG Demanda Social.
Os jornalistas são outro contingente que emigra. Na Letônia está a redação de Medusa, um site fundado por Galina Timchenko em outubro de 2014. Timchenko foi demitida da direção do serviço informativo russo lenta.ru depois de publicar uma entrevista com um nacionalista radical ucraniano. A comunidade de jornalistas de língua russa é muito numerosa em Kiev, mas esses emigrantes tampouco são um grupo homogêneo. Alguns, como Yevgueni Kisiliov, foram estrelas em canais da televisão russa (NTV, do oligarca Vladimir Gusinski), que receberam ofertas atraentes na Ucrânia ao ficar sem trabalho em seu país.
Mas há jornalistas emigrantes de nova fornada, como Aidar Muzhdabaiev, que se transferiu a Kiev para participar da direção da ATR, o canal tártaro que as autoridades russas sufocaram este ano na Crimeia, ao não renovar sua licença. O canal é administrado hoje de Kiev, já que os jornalistas da ATR na Crimeia "não têm acesso a nenhum órgão oficial", diz Muzhdabaiev por telefone. "Ainda não sei se terei problemas para voltar à Rússia", afirma o que foi, até pouco tempo, vice-diretor do "Moskovski Komsomolets", o jornal de maior tiragem em Moscou.
Este mês, o escritor russo Dmitri Bykov deu uma conferência em uma sala lotada em Londres. "Éramos o mesmo público que em Moscou", afirma Roman Borisovich, que assistiu ao ato e que em 2012 abandonou a Rússia, onde era vice-presidente da maior companhia de seguros do Estado. Partiu para evitar problemas para seu chefe, diz, que era pressionado pelos serviços de segurança para que o demitisse por apoiar a campanha anticorrupção do político Alexei Navalni. Em Londres, onde reside, Borisovich faz campanha para que o Parlamento britânico aprove leis que tornem públicas as transações imobiliárias dos oligarcas russos no Reino Unido. "A ampla diáspora russa de Londres se reforçou nos últimos tempos com emigrantes políticos", diz por telefone.
Em 2012, Alexei Navalni publicou a lista de 16 pessoas que declararam apoiar com dinheiro de seu bolso um fundo anticorrupção que ele havia criado. Na "lista dos corajosos", além de Borisovich, estava Serguei Guriev, o reitor da Escola de Economia da Rússia, e sua esposa, a economista Yekaterina Zhuravskaya, ambos residentes hoje na França. Guriev, agora professor na Sciences Po em Paris, foi um dos autores de um relatório sobre o segundo processo contra a companhia de petróleo Yukos, em virtude do qual se prolongou o encarceramento de Mikhail Khodorkovski. Esse magnata, indultado em 2013, mora na Suíça.

Um grupo dizimado

A emigração dizimou a equipe de Navalni. O ex-banqueiro Vladimir Ashurkov pediu asilo no Reino Unido por perseguição política. Ashurkov foi chefe do fundo anticorrupção e responsável financeiro de Navalni na campanha pela Prefeitura de Moscou e é acusado de roubo na Rússia.
No estrangeiro reside o campeão de xadrez Garry Kasparov, detido em diversas ocasiões por participar de atos contra Putin. A biografia do ilustre enxadrista foi censurada em um livro comemorativo do clube desportivo Spartak.
Um dos líderes dos protestos de 2011 e 2012 foi Boris Nemtsov, assassinado em Moscou em fevereiro. Sua filha mais velha, a jornalista Zhana, se transferiu à Alemanha por segurança. Na Estônia vive hoje Yevguenia Tchirikova, líder do movimento para preservar a floresta de Jimki, nos arredores de Moscou, da construção de uma estrada. Tchirikova afirma que deixou a Rússia preocupada com a segurança de suas filhas.
No exterior, depois de vender sua empresa, está Pavel Durov, informático cofundador de VKontakt (o Facebook russo), que se negou a entregar informação aos órgãos de segurança sobre os participantes do Euromaidan em Kiev.
Entre os últimos a partir está Dmitri Zimin, um engenheiro de 82 anos, fundador da companhia de celulares Vimpelcom e possuidor de um prêmio estatal. Zimin decidiu fechar sua fundação, a Dinastia, que apoiava jovens cientistas russos, depois que esta foi declarada "agente estrangeiro".
Em Londres, administrando um comércio de vinhos, reside desde 2009 Yevgueni Chichvarkin, fundador da rede de venda de celulares Evroset, que depois de ser acusado de corrupção acabou vendendo a empresa.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Cidades francesas perderam tantos moradores que podem ter casas demolidas
Isabelle Rey Lefebvre - Le Monde
O decrescimento demográfico e o declínio econômico vêm tomando conta das cidades da França. Mais de um terço das áreas urbanas estão passando por esse fenômeno, segundo Nicolas Cauchi-Duval, professor no Instituto Demográfico da Universidade de Estrasburgo. Esse especialista calculou para o "Le Monde" que 298 das 771 áreas urbanas da França, principalmente cidades de pequeno ou médio porte, perderam habitantes entre 2006 e 2011, sobretudo famílias jovens, para as metrópoles.
"O fenômeno é antigo, tendo iniciado em 1975 para 22% dessas cidades, como no norte e no centro, e perdurou com uma aceleração nos anos 1900, e depois com a crise de 2008", ele explica. "Agora há 30 novas áreas urbanas nessa condição, que atingem setores como Compiègne, Saint-Malo, Dieppe, Alençon e, no sul, Valréas, Bagnols-sur-Cèze, Nyons..."
Nessas cidades, há moradias vazias aguardando ocupantes, inclusive na habitação social, mas que por falta de candidatos terão de ser demolidas. Até hoje, o tema era tabu entre locadores sociais e representantes governamentais. Os primeiros têm dificuldade em admitir que o futuro não guarda uma perspectiva de inaugurações de novos prédios, e os segundos não querem ouvir falar em declínio, mas sim de "territórios não-tensos" [com demanda atendida]. "Prefiro a expressão 'em transformação'", resume Marie-Noëlle Lienemann, senadora de Paris e presidente da Federação Nacional das Cooperativas de Moradia Social.

"Crise de identidade"

As três famílias da habitação social --agências, empresas sociais de habitação e cooperativas-- se reuniram, no dia 23 de junho, em Creusot (Saône-et-Loire), para abordar de frente o assunto. Não foi por acaso que escolheram Le Creusot, cidade vitimada pela crise siderúrgica dos anos 1980. "Quando a matriz da Creusot-Loire foi embora, tudo afundou, e passamos por uma verdadeira crise de identidade", conta o prefeito André Billardon (Partido Socialista). "Em três décadas, voltamos a criar 5.000 empregos. Não nas pequenas e médias empresas e nos serviços, como havíamos previsto, mas em grandes grupos industriais como Areva, Alstom, General Electric, ArcelorMittal. Ainda estamos com dificuldades para atrair executivos."
A partir dos anos 2000, Le Creusot teve de demolir moradias operárias e populares: "Deveríamos ter demolido três casas para reconstruir uma única, mas o Estado exigia que fosse uma para uma e concordamos em duas para uma", conta Billardon.

"Responsabilidade do Estado"

A Federação das Agências de Habitação teve a coragem de realizar uma pesquisa e concluir que metade de suas moradias, ou seja, 835.700 unidades, está situada nessas zonas "não-tensas". Só que quando a vacância passa dos 10%, com as consequentes perdas de alugueis, enquanto os encargos e custos de manutenção permanecem os mesmos, o modelo econômico da moradia social é prejudicado. Sem esquecer os efeitos devastadores que habitações vazias, às vezes muradas, têm sobre a imagem dos bairros em questão.
"Estimamos que será necessário demolir entre 10% e 20% desse patrimônio mal situado, obsoleto, inadaptado ao envelhecimento de nossos locatários e custoso por ter um mau isolamento", explica Laurent Goyard, diretor-geral da Federação Nacional das Agências de Habitação, "ou seja, entre 8.350 e 16.700 por ano, durante dez anos. E também é preciso reabilitar 40% dessas unidades. No total, nossas necessidades de financiamentos são de aproximadamente 150 milhões de euros por ano, um objetivo alcançável", ele explica.
"Existe também uma responsabilidade do Estado, que tem tendência a estabelecer objetivos produtivistas, em discrepância com essa realidade, e a orientar os financiamentos para as zonas tensas [com demanda acima da oferta]", acredita Lienemann. "É de uma profunda injustiça que as zonas em dificuldades tenham de pagar pelas metrópoles ricas e em crescimento."
Christophe Bouscaud, diretor-geral da Orne Habitat, confirma: "Foi difícil de aceitar o buraco que o Estado fez em nosso caixa em 2011 e 2012 para realizar o ajuste entre órgãos de moradia social, pois eram reservas constituídas para nossas obras de requalificação, 4 milhões de euros dos quais precisávamos."
Os efeitos foram igualmente nocivos sobre as moradias da iniciativa privada dessas cidades, que precisam concorrer com a iniciativa pública, que é mais barata, muitas vezes com melhor manutenção, e que agora vai buscar clientes com campanhas de comunicação e anúncios na internet. "Isso porque nessas cidades onde os mercados são restritos, qualquer imóvel novo esvazia os antigos e a grande produção de moradias isentas de taxas produziu reações em cadeia devastadoras para todo o setor, seja privado, público, coletivo ou individual, central ou periférico", alerta Goyard, para quem uma regulação se tornou indispensável.
"A França não é o único país que tem enfrentado essa forma de êxodo, essas cidades em retração. Comparado com os Estados Unidos ou à ex-Alemanha Oriental, ela foi afetada mais tardiamente", analisa Sylvie Fol, geógrafa e professora na Universidade Paris-I Panthéon-Sorbonne. "É preciso reconhecer esse decrescimento demográfico, acompanhá-lo e melhorar as condições de vida daqueles que ficam", ela sugere.
Imprensa britânica culpa França por chegada numerosa de imigrantes
Le Monde
Phillipe Huguen/AFP
29.jul.2015 - Policiais franceses tentar impedir imigrantes de entrarem no Eurotúnel29.jul.2015 - Policiais franceses tentar impedir imigrantes de entrarem no Eurotúnel
A tragédia humana que tem acontecido todos os dias em Calais, com suas ondas de imigrantes que tentam chegar a qualquer custo – inclusive o de suas próprias vidas – até o Reino Unido, tem despertado reações exaltadas entre os britânicos.
Em pleno debate sobre a saída ou não do Reino Unido da União Europeia, que será decidida após um referendo que poderá ocorrer em menos de um ano, a questão provocou acusações severas por parte da imprensa britânica.
O "Daily Mail", tabloide conservador e segundo jornal mais lido do país, descreve cenas aterrorizantes de turistas britânicos e caminhoneiros em Calais, todos sentados "petrificados" em seus veículos fechados, de vidros levantados, nos quais os imigrantes estariam tentando entrar "descaradamente". Em Kent, do outro lado do Canal da Mancha, o tabloide, adepto de expressões exageradas, descreve habitantes presos dentro de suas próprias casas, por não conseguirem nem mesmo fazer trajetos curtos por estradas lotadas de caminhões que não conseguiram pegar o túnel sob a Mancha, que estaria "sitiado".

Apelos ao exército britânico

Além disso, segundo o "Daily Mail", seria ainda pior: as férias pelo continente europeu, "planejadas há muito tempo, para as quais as famílias economizaram", haviam sido "arruinadas". Os culpados por esse desastre seriam ao mesmo tempo a Itália, "que zombou da UE ao ignorar as regras segundo as quais os imigrantes devem pedir asilo no primeiro país por onde entram", a Comissão Europeia, "que foi particularmente lamentável na aplicação de suas leis e protocolos", e também – e sobretudo – a França, "que desavergonhadamente envia imigrantes para o Reino Unido, sem coletar suas impressões digitais, e que depois de alguns minutos libera os clandestinos" que ela detém.
As autoridades britânicas, "que se recusam a criticar a França", tampouco são poupadas. O tabloide chega a arriscar, no título de um artigo de opinião publicado em suas páginas e em seu site, a seguinte pergunta: "Nós impedimos Hitler de entrar. Por que nossos pífios governantes não são capazes de conter alguns milhares de imigrantes exaustos?"
"Basta!", esbraveja o "Daily Mail", ordenando que as autoridades "parem de enrolar" e considerem a ideia de enviar o Exército britânico para reforçar a segurança em torno das fronteiras.
O tema também foi tratado pelo tabloide "The Sun", o jornal mais lido do Reino Unido, que elogia a sugestão de um delegado de polícia de Surrey, um condado que faz fronteira com Kent, de enviar soldados que possam "assegurar que nossa fronteira não seja violada". Um outro tabloide, o eurófobo "Daily Express", resume em um título: é preciso "enviar o Exército para conter a invasão dos imigrantes."

Paris "está fugindo de suas responsabilidades"

O diário conservador "Daily Telegraph" se mostra (um pouco) mais moderado e reconhece que o afluxo de imigrantes, que fugiram "de nações arrasadas, como a Síria", são "problemas internacionais" e que "todos os países afetados têm um papel a exercer". Mas "alguns países são mais responsáveis por esses problemas do que outros" e "a maior parte dos erros cabem à França."
O jornal observa, por exemplo, que enviar reforços policiais a Calais, como anunciou na quarta-feira o ministro do Interior Bernard Cazeneuve, é uma resposta tardia. "De forma igualmente extraordinária", diz o "Daily Telegraph", Cazeneuve "escreveu para o Eurotunnel, uma empresa privada, aparentemente culpando a firma de não fazer o suficiente para proteger a entrada do túnel sob o Canal da Mancha." Só que "realizar a segurança das fronteiras franceses é trabalho do Estado francês", afirma o jornal, que acusa Paris de "fugir de suas responsabilidades" e de "transferir seus problemas para o Reino Unido". "Tal egoísmo nacional diante de uma crise de natureza internacional é simplesmente inaceitável", conclui o jornal.

"Um problema coletivo que deve ser resolvido em conjunto"

O "Guardian", jornal de centro-esquerda, relativiza em grande parte todos esses pontos de vista e encara o tema como o resultado de uma crise mundial, e não a culpa de um país ou da União Europeia: "O problema dos imigrantes (...) provavelmente teria se tornado crítico independentemente de o Reino Unido estar na UE ou não, e de o túnel sob o Canal da Mancha existir ou não. As pressões migratórias que vêm da Síria ou da África subsaariana são uma realidade humana, elas não surgiram por causa de tratados europeus."
O "Guardian" elogia o "pragmatismo" dos dois ministros do Interior, o francês Bernard Cazeneuve e a britânica Theresa May, que se encontraram na quarta-feira para falar sobre o assunto. "Não é um problema puramente britânico, assim como não é um problema puramente francês. É um problema coletivo, que deve ser resolvido de forma conjunta, com humanidade e firmeza", comenta o jornal, que conclui: "Nós precisamos de mais parcerias com a Europa e menos gesticulações."

JULIA FISCHER - GRIEG (PIANO CONCERTO A MINOR)


Um bom dia começa assim

quinta-feira, 30 de julho de 2015

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Senador do PT ‘curte balada’ em Ibiza, na Espanha, longe da crise no Brasil. Flagrante irrita sua turma no Instagram
Felipe Moura Brasil - VEJA
DelcídioUma brasileira flagrou o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), “curtindo a balada Flower Power em Ibiza”, a leste da Espanha, e postou a foto no Instagram, com a hashtag #ForaPT.
Enquanto o desemprego no Brasil atinge o maior índice da série histórica, a inflação beira os 10%, a projeção de queda no PIB aumenta para 1,76%, o dólar ultrapassa os R$ 3,40 e o consumo das famílias tem a maior queda desde 2008 – tudo isso graças ao partido de Delcídio -, o petista aproveita suas merecidíssimas férias, supostamente com a família, na paradisíaca ilha espanhola.
É até compreensível a irritação da turma de Delcídio, no Instagram, com o flagrante.
Nada mais legítimo que um líder do governo no Senado gaste na Europa supostamente seu salário mensal de R$ 33,7 mil pago pelo povo brasileiro, enquanto o povo brasileiro vê seu próprio salário desaparecer.
Delcídio tem todo o direito de curtir la dulce vida de petista.
Delcídio 1
Delcídio 2
Delcídio 3
A foto de capa de Mariana:
Captura de Tela 2015-07-30 às 03.27.51
País sério é assim: Criminoso de 15 anos será acusado como adulto nos EUA após abusar e matar menina de 8
Felipe Moura Brasil - VEJA
MeninaEnquanto no Brasil assassinos estupradores como os do caso no Piauí pegam no máximo três anos de internação com reavaliação semestral que pode libertá-los muito antes, e ainda matam a pancadas o delator do grupo na susposta “cela”, a promotoria de Santa Cruz, no litoral da Califórnia, no oeste dos Estados Unidos, informa que um criminoso de 15 anos será acusado como adulto por abusar sexualmente e matar uma menina de 8 anos em um condomínio da cidade no último domingo.
De acordo com a investigação, a garota Madyson Middletonm, que andava de patinete em área do conjunto de apartamentos onde morava, conhecia o acusado, Adrián Jerry González (sim: podemos dizer seu nome), que a enganou para levá-la ao local onde vivia com os pais e cometer os crimes.
Ela foi amarrada, agredida, estrangulada e abusada sexualmente antes de ser morta pelo monstro, que depois jogou o corpo em um container de reciclagem de lixo que ficava em uma garagem.
Por ser menor de idade, ele só não pode receber a pena de morte, mas até prisão perpétua, sim.
País sério é outra coisa.
Educação e Saúde terão novo corte em orçamento; PAC será principal alvo
FLÁVIA FOREQUE/VALDO CRUZ/ISABEL VERSIANI - FSP
Os números do contingenciamento foram divulgados na noite desta quinta-feira (30), em edição extra do "Diário Oficial" da União.
O novo corte faz parte das medidas divulgadas pela equipe econômica para tentar garantir o cumprimento da nova meta fiscal, de 0,15% do PIB (Produto Interno Bruto). Diante da queda real (descontada a inflação) na arrecadação federal, a presidente Dilma foi obrigada a reduzir a meta de superavit primário de 1,1% para 0,15% do PIB.
No primeiro corte anunciado pelo governo Dilma, quando a ideia era fazer um superávit primário de 1,1% do PIB, o Ministério da Saúde sofreu um corte de R$ 11,7 bilhões, enquanto na Educação ele foi de R$ 9,2 bilhões. Na época, o corte total R$ 69,9 bilhões. As pastas de Cidades, Saúde e Educação foram as principais afetadas.
O secretário do Tesouro, Marcelo Saintive, disse em entrevista coletiva nesta tarde que os cortes seriam proporcionais aos orçamentos dos ministérios.
"Não tem nenhuma área especificamente afetada, todos os ministérios sofreram corte. Evidentemente, preservando fortemente as áreas de educação e saúde, respeitando sempre os limites constitucionais", afirmou o secretário.
A redução da meta fiscal afetou o mercado, fazendo o dólar subir e a Bolsa cair. Levou ainda a agência de classificação de risco Standard & Poor's a colocar a nota brasileira em perspectiva negativa, o que sinaliza que o Brasil pode perder, em breve, o grau de investimento.
Na S&P, o Brasil está no último degrau do grau de investimento, o selo de bom pagador concedido pelas agências de classificação de risco.

JANINE JANSEN - TCHAIKOVSKI (VIOLIN CONCERTO 3º MOVEMENT)

CPI mantém convocação da misteriosa Catta Preta. Ou: O devido e o indevido no Estado de Direito
Reinaldo Azevedo - VEJA
Eu e todo mundo estamos muito curiosos para saber o que se passa com a advogada Beatriz Catta Preta, que teve ascensão meteórica como advogada na área penal, que celebrou nada menos de 9 dos 18 acordos de delação premiada e que, de súbito, anunciou que está deixando todos os seus clientes para se mudar para a Miami, onde abriu um escritório.
Ninguém renuncia, assim, por nada, a uma mina de ouro, como são os corruptos brasileiros, especialmente depois de tão invulgar sucesso. Muito bem! A CPI da Petrobras já a havia convocado a prestar depoimento. Especula-se sobre a origem dos seus proventos. Beatriz foi advogada de algumas personagens explosivas do escândalo, como Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Julio Camargo.
Hugo Motta (PMDB-PB), presidente da CPI, manteve a convocação de Catta Preta, apesar dos protestos da OAB e de despacho contrário do juiz Sergio Moro. Disse ele: “Respeito o doutor Sergio Moro e a OAB, mas a nós cabe seguir o que o plenário decidiu em sua maioria”.
Motta apelou à legislação americana e considerou: “A pessoa rouba R$ 100 milhões e deixa R$ 10 milhões para pagar advogado. Não pode, isso é absurdo”. Ele lembrou ainda que cabe também à CPI recuperar dinheiro e ativos roubados.
Há um pequeno pulo, que pode ser um grande retrocesso para o Estado de Direito, em especular sobre os ganhos dos advogados. Para que isso vire obstrução do direito de defesa, falta pouco. De resto, não tenho como deixar de fazer esta anotação: políticos costumam contratar os mais renomados penalistas do país, não é mesmo? Será que os honorários são pagos apenas por seus respectivos vencimentos?
Catta Preta era o quarto braço da Operação Lava Jato. Segundo apurei, os investigados eram gentilmente encaminhados para a doutora, que se encarregava, então, de formatar as delações premiadas. Define-se a sua abordagem da questão nos meios jurídicos como, no mínimo, polêmica.
Mas daí a convocar a advogada para a CPI, bem, aí não. Sou um formalista nessa área. Abrir essa porta pode abrir outras tantas, o que não seria útil ao estado de direito e ao direito de defesa.
De todo modo, a minha curiosidade permanece enorme. Por que alguém renuncia, assim, a uma mina de ouro da noite para o dia? Achar que é tudo culpa de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, descontente com a mudança de versão de Julio Camargo (ex-cliente de Beatriz), corresponde a só culpar o malvado predileto da imprensa.
Que tem caroço nesse angu, ah, isso tem. E há o risco de ele estar relacionado à proximidade que, tudo indica, pode ter sido bastante heterodoxa entre a doutora Beatriz e a força-tarefa. Não sei não… Acho que Cunha não tem nada com isso.
Datena sobre si mesmo em 2012: “Eu sou uma porcaria como administrador. Eu não tenho consciência do que é administrar”. Assista ao vídeo
Reinaldo Azevedo - VEJA
Se José Luiz Datena vai mesmo se candidatar à Prefeitura de São Paulo, ele vai ter de responder, fatalmente, à questão que segue, não é?
Em 2012, em entrevista ao jornalista Maurício Stycer, indagado sobre por que não entrava na política, ele afirmou, com aquele seu jeito despachado que , sem dúvida, funciona muito bem na TV, o que segue:
“Eu não vou falar hoje aqui um palavrão, que ontem eu falei sem querer no ‘Brasil Urgente’, mas eu sou uma porcaria como administrador. Eu não tenho consciência do que é administrar. Eu posso comentar bem alguma coisa, ou comentar mal, eu me expresso, eu dou a minha opinião. Agora, eu seria um péssimo político. Eu não teria capacidade nenhuma para ser um bom político. Eu sou um apresentador que tem níveis altíssimos de audiência. Mas isso não me dá o direito nem a competência de ser um bom administrador. Eu seria um péssimo político. E, de péssimo político [o país] tá cheio. Além de péssimo político, tá cheio de político ladrão. A CPI do Cachoeira tá provado isso. O mensalão tá provado isso. Então mais um imbecil lá não ia acrescentar nada. Eu seria um idiota qualquer. E seria injusto porque o cara estaria confundindo popularidade com credibilidade e com capacidade.”
Assista ao vídeo. Volto em seguida.
Escrevi hoje de manhã a respeito. Não conhecia ainda esse vídeo. Como se nota, eu e Datena concordamos sobre a candidatura de… Datena!. 
Candidaturas exóticas

Assim como Russomanno, Datena pretende disputar a Prefeitura de São Paulo; ambos refletem a crise da política tradicional 
FSP
Famoso pelo estilo exaltado com que narra perseguições policiais no programa "Brasil Urgente", da Rede Bandeirantes, o apresentador José Luiz Datena decidiu se filiar ao PP para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2016.
Embora seja cedo para especular sobre seu potencial eleitoral, já se pode afirmar que sua disposição para entrar no páreo constitui novo sintoma da crise de representatividade da política brasileira. A decepção difusa com personagens e partidos tradicionais parece abrir espaços cada vez mais generosos para candidaturas exóticas.
Não por acaso, o também apresentador Celso Russomanno (PRB) liderou as pesquisas de intenção de voto na capital paulista em 2012 até se ver abatido por uma declaração infeliz. Tendo sido o deputado federal mais votado do país no ano passado, no entanto, deve voltar com força à corrida paulistana.
Enquanto os antipolíticos sobem nas bolsas de apostas, as principais agremiações patinam.
Apesar de ter vencido três pleitos majoritários na metrópole, o PT enfrenta dificuldades conhecidas –a começar da necessidade de seduzir uma classe média tanto predisposta a apoiar figuras conservadoras quanto refratária ao petismo.
Os paulistanos se inclinaram para o PT apenas em casos excepcionais: Luiza Erundina venceu em 1988 sem maioria, devido à divisão do eleitorado de centro; o colapso da gestão Celso Pitta permitiu a vitória de Marta Suplicy em 2000; e, por fim, o desgaste de Gilberto Kassab minou a candidatura de José Serra em 2012.
Nada faz supor que o prefeito Fernando Haddad (PT) estará apto a mudar esse histórico: sua gestão é mal avaliada, sua legenda ostenta índices recordes de rejeição, sua aliança com o PMDB não está garantida e os redutos petistas devem ser em parte conquistados pela ex-prefeita e senadora Marta Suplicy (hoje sem partido).
A situação do PSDB, contudo, tampouco é animadora. Se a sigla parece não ter sofrido sério desgaste com a crise de fornecimento de água, por ora não apresentou um nome competitivo para a disputa.
Em condições normais, esse cenário já seria ruim para os tucanos; a presença de dois postulantes populares e conservadores batalhando pelos mesmos eleitores só agrava o quadro. O que impede a legenda de nem chegar ao segundo turno, como em 1996, 2000, 2008?
Nem perto de ser o mais provável, mas não chega a ser impossível, como se vê, que a fragmentação leve o paulistano a precisar escolher, na segunda rodada de votação, entre Datena e Russomanno.
A crise alimenta manifestações contra o sistema político, do voto de protesto à defesa de golpes militares. Nesse pântano vicejam supostos salvadores da pátria; alheios às estruturas partidárias, pretendem conduzir o povo errante à terra prometida. Tomara que São Paulo não se transforme num deserto.
BC se comporta como talibã dos juros para mostrar que é fiel
Reinaldo Azevedo - VEJA
Lembro de um trecho de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis: “Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho”. É isto: melhor uma farpa nos olhos do que ser refém de saídas de manual que ignoram a realidade. É claro que eu sabia, e que todos sabiam, que o Copom elevaria a taxa básica de juros: a dúvida era se a elevação seria 0,25 ponto ou de 0,5 ponto. Deu meio ponto: agora está em 14,25%.
Eu sou contra ou sou a favor a elevações de juros? A pergunta, se fosse feita, seria imbecil. E a resposta, tautológica: sou a favor quando são necessárias e contra quando são desnecessárias. E o mesmo vale para a redução da taxa. A boa pergunta é outra: vai adiantar para conter a inflação? Digamos que, em algum momento, sim. Mas a que custo?
Repito aqui as indagações que fiz anteontem e ontem no programa “Os Pingos nos Is”, que ancoro na Jovem Pan: a demanda está aquecida e, por isso, os preços dispararam? Há alguma condição estrutural que a elevação possa corrigir? Não que se saiba.
Assim, essa elevação — e talvez ainda haja outra — só acarretará um aumento brutal nas despesas do governo e terá pouca ou nenhuma influência na inflação, derivada dos preços administrados, que não baixarão.
“Ah, mas reduzindo a atividade, em algum momento, a inflação baixa…” Em que momento? Não há resposta para isso, e noto que o pensamento mágico está na base de algumas análises disfarçadas da mais fria racionalidade. Leio coisas como: “Ah, na próxima reunião, o Copom pode elevar ainda em mais meio ponto, e aí fica estável até o fim do ano”. Sei. Está escrito em algum lugar que a inflação cai quando os juros são de 14,75% ou de 14,5%? E se não cair? Administra-se mais do mesmo remédio?
Reitero: eu não tenho nada contra a elevação dos juros em si, como não tinha nada contra a redução. Eu só me oponho quando objetivos alheios à natureza das medidas entram em pauta. Agora ou antes.
Por que digo isso? O governo não tem credibilidade. O prestígio de Joaquim Levy ficou abalado depois da trapalhada protagonizada no caso do superávit primário. O BC precisa, assim, posar de talibã dos juros para demonstrar que ninguém por ali perdeu a fé na palavra — embora este governo se mostre incapaz de cortar gastos para valer. O que ele faz é cortar a previsão orçamentária, o que é coisa distinta.
A elevação dos juros quer dizer apenas o seguinte: “Ó, não estamos flertando mais com inflação, tá?”. Tá! Mas ela vai contribuir para baixar essa inflação que está aí? A resposta: até pode. De tal sorte se dá um tombo na economia que, em algum momento, cai…
Então tá!
Apesar da crise, lucro do Bradesco cresce 18% e chega a R$ 4,4 bi
Segundo maior banco privado do Brasil conseguiu alcançar um lucro acima do que o previsto em meio ao baixo crescimento do crédito e a uma leve alta da inadimplência
VEJA
Agência do Banco Bradesco S/A em São Paulo - SPBradesco teve alta de 18% no lucro líquido do segundo trimestre em comparação com o mesmo período do ano passado(Paulo Whitaker/Reuters)
Margens maiores com operações de crédito e uma alta robusta das receitas com tarifas garantiram aumento do lucro do Bradesco no segundo trimestre, compensando o fraco avanço do crédito e uma alta leve da inadimplência. O segundo maior banco privado do país informou nesta quinta-feira que seu lucro líquido no período somou 4,47 bilhões de reais, alta de 18,4% ante igual etapa de 2014.
Excluindo efeitos extraordinários, o lucro foi de 4,50 bilhões de reais, alta anual também de 18,4% e pouco acima da previsão média de analistas consultados pela agência Reuters, de 4,33 bilhões de reais.
O trabalho bem sucedido do banco em cobrar taxas maiores nos empréstimos fez a receita com juros crescer 13,9% na comparação anual, a 13,4 bilhões de reais. A margem líquida de juros subiu pelo quinto trimestre seguido na base sequencial.
Com isso, o Bradesco revisou para cima sua previsão de crescimento de receita com juros em 2015, de 6 a 10% para 10 a 14%. Isso mesmo com a carteira de crédito tendo crescido apenas 6,5% no espaço de 12 meses encerrado em junho, a 463,4 bilhões de reais, com foco em linhas menos arriscadas, como grandes empresas (+10,7%), consignado (+14,1%) e imobiliário (+26,4%).
Em outra frente, o banco viu sua receita com tarifas, como as de conta corrente e de cartões de crédito evoluírem 14,8% na comparação anual, para 6,12 bilhões de reais.
O Bradesco também conseguiu controlar suas despesas administrativas, que subiram 7,4% (abaixo da inflação) no período, para 7,54 bilhões de reais.
A despesa com provisão para perdas, de 3,55 bilhões de reais, foi 13% maior sobre um ano antes, mas recuou 0,8% na base sequencial, sinalizando que o ciclo de deterioração da carteira pode estar próximo do fim. De todo modo, o índice de inadimplência acima de 90 dias atingiu 3,7% no trimestre, alta de 0,2 ponto percentual sobre um ano antes e o maior nível em dois anos.
Líder do PMDB pede demissão de diretor do Banco Central
O senador Eunício Oliveira pediu a saída do diretor de assuntos internacionais, Tony Volpon, que revelou que votaria a favor do aumento da Selic na reunião do Copom, realizada nesta quarta
VEJA
Eunício OliveiraEunício Oliveira, líder do PMDB no Senado(Leonardo Prado/VEJA)
A poucas horas do anúncio da reunião do Comitê de Política Econômica (Copom), o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), afirmou na tarde desta quarta-feira que o diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central (BC), Tony Volpon, merece ser demitido se não explicar o motivo de ter antecipado o voto na reunião do comitê que termina nesta quarta.
A um grupo de investidores na semana passada, o diretor do BC sinalizou que votaria pela elevação da taxa básica de juros da economia, a Selic. A atitude também foi alvo de críticas do senador tucano José Serra, em artigo na edição de terça-feira da Folha de S. Paulo.
"É um absurdo um cara (o diretor do BC) que vaza como vai votar antes da reunião do Copom", disse Eunício. Dizendo falar com o "sentimento de leigo", ele disse ter ficado em dúvida se essa nova postura de avisar o mercado sobre o que vai ocorrer é benéfica ou não para a instituição. Para o senador, contudo, essa posição pode influenciar as expectativas do mercado.
O líder do PMDB no Senado defendeu que Volpon seja ouvido pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa para explicar o que motiva um diretor do BC a adotar tal postura. O Senado retoma os trabalhos na próxima semana.
"Ele tem que me convencer com uma boa justificativa, não quero dar palavras açodadas ou dizer que ele merece ser demitido", disse Eunício. "Não sou eu que demitido diretor do BC, mas é ruim a posição dele", considerou.
Dilma vai vetar regra que amplia reajustes no INSS
Presidente também não apresentará proposta alternativa a texto do Congresso
MP estendeu a todos os aposentados política de valorização do mínimo, o que traria impacto nas contas públicas
MARINA DIAS/VALDO CRUZ - FSP
A presidente Dilma Rousseff vai vetar a regra que estende a política de valorização do salário mínimo, que inclui aumento acima da inflação para todos os beneficiários da Previdência Social. Além disso, não vai apresentar uma proposta alternativa em relação ao texto aprovado pelo Congresso Nacional.
Originalmente, Dilma havia assinado medida provisória que renovava até 2019 a política de valorização do mínimo, que define o reajuste com base na variação do PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos antes, mais a inflação do ano anterior.
O Congresso, porém, ao impor uma derrota ao Palácio do Planalto, aprovou uma emenda à medida provisória determinando que essa política de reajuste passasse a valer para todos os benefícios previdenciários superiores ao valor do mínimo.
Segundo a Folha apurou, o governo vai argumentar que os segurados da Previdência que recebem acima do mínimo continuarão a seguir a legislação atual, que determina só a reposição da inflação.
Assim, neste ano, os benefícios superiores ao mínimo seguirão tendo reajuste de 6,23%, equivalente ao INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) de 2014.
Ministros dizem que o reajuste pelo INPC "está na Constituição" e que, em meio ao ajuste fiscal, o Palácio do Planalto não pode arcar com nenhum projeto que onere ainda mais os cofres públicos.
De acordo com cálculos do Ministério da Previdência, cada 1% de aumento no valor dos benefícios acima do mínimo traria um impacto de cerca de R$ 2 bilhões por ano às contas do governo federal.
A presidente assinaria o veto na noite desta quarta-feira (29), para publicação na edição do "Diário Oficial" da União desta quinta-feira (30).
Os aposentados que ganham até um salário mínimo continuam recebendo o reajuste acima da inflação com base na variação do PIB de dois anos antes.
DESGASTE
O novo veto da presidente vai se juntar a outros, como o que barrou o reajuste salarial de servidores do Judiciário, outra derrota do governo em votações no Legislativo.
Neste momento de popularidade baixa, aliados reconhecem que mais um veto feito pela presidente vai desgastar ainda mais a relação do Palácio do Planalto com o Congresso Nacional.
Eles argumentam, porém, que a presidente não tinha outra saída a não ser demonstrar que tem compromisso com o reequilíbrio das contas públicas e vetar a medida que atingia a Previdência.
Além dos vetos, o Congresso está preocupado em desarmar "pautas-bomba" que estão sendo armadas por deputados e senadores na volta do recesso parlamentar.
As empresas brasileiras também começam a pagar o pato pela incompetência oficial
Reinaldo Azevedo - VEJA
As empresas brasileiras não existem no éter. Estão incorporadas à realidade política e econômica do país e sujeitas às mesmas vicissitudes. Depois de aplicar um viés negativo à nota brasileira, que já está a apenas um degrau de passar para a condição de grau especulativo, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou a nota de 21 empresas brasileiras.
Oito delas ficaram  iguaizinhas ao Brasil: BBB-, com viés negativo. São elas Cesp, Comgás, Duke, Samarco Mineração, Taesa, Itaipu Binacional, Eletrobras e Braskem, as duas últimas investigadas na Operação Lava Jato. Já estavam nesse patamar e nele permaneceram Klabin S.A., Neoenergia S.A., Odebrecht Engenharia e Construção S.A. e a Petrobras.
Sim, a agência levou em consideração a situação de cada empresa, mas é evidente que a perspectiva do Brasil tem um peso imenso na avaliação. Um país em recessão de quase 2% e que deve ter um crescimento em torno de zero no ano que vem não compõe um cenário muito animador. E tudo fica mais difícil quando parte do PIB brasileiro virou, e está sendo tratado, como um caso de polícia.
A avaliação de risco de uma empresa ou de um país é uma medida objetiva, reconhecida pelo mercado mundial, para indicar a sua salubridade econômica. Quanto menor o risco, mais facilmente essas empresas — e os países — atraem investimentos e conseguem empréstimos a juros convidativos.
O estrago produzido ao longo desses 13 anos, ainda veremos, é bem maior do que parece.
A morte da borboleta azul
Sobrou a lagarta vermelha, aquela que se transforma, na melhor das hipóteses, numa mariposa cinza
Monica Baumgarten de Bolle - FSP
A redução da meta fiscal para 2015, de 1,1% do PIB para mísero 0,15%, não é vitória dos refratários à austeridade, tampouco derrota de Levy. Como bem disse o ministro da Fazenda em recente entrevista, a revisão da meta foi fruto de um Congresso que "não ajuda", um Congresso em crise.
O que o ministro não disse é que o Congresso hostil reflete o repúdio à sua chefe, além da completa falta de habilidade política da presidente. Contudo, não é de hoje que o país está sem meta. Há quatro anos e sete meses, o Brasil escolheu o caminho que desaguou na pior crise econômica em 20 anos.
A recessão, o desemprego, a inflação, nada disso é fruto do ajuste fiscal que nem sequer foi implantado. Os problemas que assombram os brasileiros são o resultado nefasto de desmandos sobrepostos na condução da política econômica.
Ao longo dos últimos anos, antes de ser colunista deste jornal, escrevi muitos artigos sobre a má gestão da economia brasileira. Em um deles, publicado no "Globo a Mais" de setembro de 2012, tratei da triste história da borboleta azul.
Fim dos anos 1970, sul da Inglaterra. Infestação inédita de coelhos ameaçava os prados verdejantes e as plantações das fazendas da região, levando os produtores a declarar que uma crise ambiental estava prestes a ocorrer e a pedir socorro ao governo.
Para evitar um massacre possivelmente infrutífero de coelhos, já que a taxa de reprodução dos animais é quase inigualável na natureza, as autoridades encontraram uma solução "brilhante". Inocularam os bichinhos com um vírus que os deixava letárgicos, mais suscetíveis aos seus predadores naturais, menos libidinosos.
Inicialmente, o experimento foi um sucesso. A população de coelhos caiu, preservando as plantações e evitando a temida catástrofe. Contudo, a estrada para o inferno é pavimentada de boas intenções, como diz o famoso aforismo.
Com menos coelhos, ervas daninhas proliferaram e a grama cresceu mais do que o normal. O crescimento da grama acabou aniquilando a população de um tipo de formiga que só sobrevivia alimentando-se da grama mais baixa. Infelizmente, essa formiga tinha laços estreitos com a borboleta azul, carregando seus ovos para o formigueiro e cuidando de suas larvas até que se tornassem lagartas adultas. Sem a proteção das formigas, os ovos da borboleta azul ficaram expostos aos predadores. Um dia, a borboleta azul sumiu para sempre do sul da Inglaterra.
A presidente Dilma Rousseff passou quatro anos inoculando a economia com o vírus da letargia. Fez transformação radical na condução da política macroeconômica brasileira, assessorada por renomados "heterodoxos". Introduziu medidas protecionistas, piorando a conhecida falta de competitividade das empresas nacionais. Turbinou o crédito público desarrumando os mercados e enfraquecendo os juros como instrumento de combate inflacionário. Obliterou a credibilidade fiscal do Brasil ao permitir "pedaladas" e outras formas sórdidas para mascarar a implosão dos alicerces das contas públicas brasileiras. Matou a borboleta azul.
Ao falar sobretudo isso em 2012, afirmei que mataríamos a borboleta azul e sobraria a lagarta vermelha, aquela que se transforma, na melhor das hipóteses, apenas numa mariposa cinza. Dito e feito.
A tempestade que desaba sobre Eduardo Cunha, para a felicidade do Planalto! Hoje, ele pode receber um novo raio!
Reinaldo Azevedo - VEJA
Consta que a advogada Beatriz Catta Preta, que celebrou oito acordos de delação premiada e que, subitamente, anunciou que vai deixar o país, dará uma entrevista de alcance nacional nesta quinta em que exporá as alegações de sua decisão. Nos bastidores, comenta-se que ela teria se sentido ameaçada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Bem, nesse caso, parece-me, para alguém com a sua expertise, com a sua trajetória e com os amigos que tem, o mais fácil teria sido, desde logo, botar a boca no trombone, em vez de renunciar à clientela e anunciar o caminho do sol.
Vamos lá… A ser verdade o que se anda comentando nos becos e nos botecos, o alvo da moça vai ser mesmo Cunha, que vê, assim, nuvens negras se armando no céu contra ele. Julio Camargo, ainda como cliente de Catta Preta, desde a celebração do acordo de delação premiada, demorou nada menos de nove meses para mudar a versão dos fatos: de um Cunha que não havia recebido propina, passou para outro que teria recebido US$ 5 milhões.
O fato de eu fazer restrições a procedimentos que ferem o Estado de Direito leva imbecis — ou gente de má-fé — a inferir que quero livrar a cara deste ou daquele. Que cada um pague por aquilo que fez. Eu só me pergunto — e o farei porque é da minha natureza estranhar o estranhável — como pode um acordo de delação premiada lidar com a mentira com esse desassombro. Ora, ou Camargo mentia antes ou mente agora. Logo, devo supor que, mesmo amparado por um procedimento que o beneficia, ele antepõe algum outro interesse à verdade. Mais: é lícito mentir num processo de delação premiada, antes ou agora?
O episódio sobre Beatriz Catta Preta, quando o petrolão já for história, dará certamente algum trabalho aos que forem reconstituir os fatos. Para começo de conversa, será preciso deixar claro que a advogada que celebrou oito acordos, com honorários milionários (e, quanto a esse particular, não há nada de errado), era tida como uma espécie de quarto pilar da Operação Lava Jato. Os outros três são a Polícia Federal, o Ministério Público e o juiz Sergio Moro.
E a coisa não é leve. Julio Camargo, antes defendido por Beatriz, tem agora como advogados Antônio Figueiredo Basto e Adriano Bretas, também defensores de Alberto Youssef. Nas alegações finais em defesa de seu novo cliente, o alvo principal é o presidente da Câmara, que agiria segundo “moral da gangue”. Para os doutores, Cunha atua “astuciosamente” para desacreditar os depoimentos de seu cliente, usando desde a maledicência até a CPI da Petrobras.
Antes de Cunha entrar na mira de Rodrigo Janot, ele já estava na mira de Dilma Rousseff e de todo o PT. E, a ser verdade o que vai por aí, pode vir a receber agora um novo petardo. “Ah, então você diz que tudo é conspiração contra Cunha, que ele não fez nada?” É a leitura que os imbecis fariam do que vai aqui. Só estou caracterizando a conjunção de fatores que concorrem para minar o seu poder e a sua influência. Para a felicidade do Planalto.
É apenas um fato. E fica a advertência para Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. Ele também é investigado e costuma criar problemas para o Planalto. Aguardem. O que vem por aí não é bonito.
O escândalo é único
JOSÉ NÊUMANNE - OESP
Que WikiLeaks, que Swissleaks, que cartéis mexicano e colombiano de drogas, que Fifagate, que nada! O escândalo top do mundo hoje é outro. Nada se lhe compara em grandeza aritmética, ousadia delituosa ou desrespeito a valores éticos. E é coisa nossa! Embora nada tenhamos a nos orgulhar de que o seja. Ao contrário!
Após se ter oposto ferozmente à escolha de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral para dar início à Nova República; à posse e ao governo de José Sarney, a Fernando Collor, que ajudou a derrubar; ao sucessor constitucional deste, Itamar Franco, de cuja ascensão participou; e a Fernando Henrique Cardoso, o Partido dos Trabalhadores (PT) chegou ao governo federal com seu maior líder, Luiz Inácio Lula da Silva, e se lambuzou no pote de mel do poder sem medo de ser feliz.
O primeiro objetivo caiu-lhe no colo como a maçã desabou sobre a cabeça de Newton. Era de uma obviedade acaciana. Sob crítica feroz da oposição, que o PT comandava, os tucanos privatizaram a Telebrás e, devidamente desossado, o filé apetitoso das operadoras de telefones foi devorado na nova administração. Sob as bênçãos e os olhos cúpidos do padim Lula, a telefonia digital foi entregue a consórcios nos quais se associaram algumas operadoras internacionais, com a experiência exigida no ramo, burgueses amigos e fundos de pensão, cujos cofres já vinham sendo arrombados pelos mandachuvas das centrais sindicais. Nunca antes na história deste país houve chance tão boa para mergulhar na banheira de moedas do Tio Patinhas.
Só que o negócio era bom demais para ser administrado em paz. Logo os concessionários se engalfinharam em disputas acionárias, que mobilizaram a Polícia Federal (PF), a Justiça nacional, os órgãos de garantia de combate a monopólios e até instrumentos de arbitragem internacional. No fragor da guerra das teles, os primeiros sinais de maracutaia dividiram as grandes rotas com os aviões de carreira. Sabia-se que naquele pirão tinha caroço. Mas quem ficou com a parte do leão?
Impossível saber, pois este contencioso está enterrado sob sete palmos de terra. Desde o Estado Novo, os sindicatos operários ou patronais administram sem controle externo caixas que têm engordado ao longo do tempo com a cobrança da Contribuição Sindical, que arrecada um dia de trabalho de todo trabalhador formal no Brasil, seja ou não sindicalizado. Sob a égide de Lula, as centrais sindicais foram incluídas na divisão desse bolo gordo e açucarado. E o sistema financeiro, acusado de ser a sanguessuga do suor do trabalhador, incorporou a esse cabedal os fundos de pensão. Sob controle de dirigentes sindicais, estes ocultam uma caixa-preta que ninguém tem poder nem coragem para abrir.
Só que o noticiário sobre tais episódios foi soterrado pela avalanche de denúncias provocada pelas revelações da Ação Penal (AP) 470, já julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e conhecida popularmente pela denominação que lhe foi dada pelo delator, Roberto Jefferson – o mensalão. Agora, após seu julgamento ter sido concluído e com os réus condenados, este é visto quase como lana-caprina desde a eclosão de outro mais espetacular: a roubalheira do propinoduto da Petrobras devassada pela Operação Lava Jato. Mas a cada dia fica mais claro que os dois casos se conectam e se explicam.
A importância de elucidar um crime ao investigar outro foi comprovada quando, na Operação Lava Jato, a PF encontrou nos papéis de Meire Poza, contadora do delator premiado Alberto Youssef, a prova de que o operador do mensalão, Marcos Valério, deu R$ 6 milhões ao empresário Ronan Maria Pinto, como tinha contado em depoimento referente à AP 470. Segundo Valério, essa quantia evitaria chantagem de Ronan, que ameaçava contar o que Lula e José Dirceu tinham que ver com o sequestro e a morte de Celso Daniel, que era responsável pelo programa de governo na campanha de 2002.
Mas nem essa evidência da conexão Santo André-mensalão-petrolão convence o PSDB a dobrar a oposição do relator da CPI da Petrobras, Luiz Sérgio (PT-RJ), e levar Ronan a depor, como tem insistido a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP). É que os tucanos articulam uma aliança com o atual dono do Diário do Grande ABC para enfrentar o petista Carlos Alberto Grana na eleição municipal de Santo André. E este corpo mole pode dificultar o esclarecimento da verdade toda.
A Lava Jato já produziu fatos antes inimagináveis, como acusações contra os maiores empreiteiros do País e até a prisão de vários deles. É o caso de Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, que presidia o Conselho de Administração da Oi na guerra das teles. Isso revela mais um investigado em mais de um escândalo. Como Pedro Corrêa e José Dirceu, acusados de receber propina da Petrobras quando cumpriam pena pelo mensalão.
A Consuelo Dieguez, em reportagem da revista Piauí, publicada em setembro de 2012, Haroldo Lima, que tinha sido demitido por Dilma da presidência da Agência Nacional de Petróleo, disse que, no Conselho de Administração da Petrobras, ele, a presidente e o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli só votavam como o chefe mandava. E agora Lula é investigado por eventual lobby para a Odebrecht no exterior em obras financiadas pelo BNDES, a ser devassado em breve numa CPI na Câmara.
E a Lava Jato chegou à eletricidade. Walter Cardeal, diretor da Eletrobrás que acompanha Dilma desde o Rio Grande do Sul, foi citado na delação de Ricardo Pessoa, tido como chefe do cartel do petrolão, acusado de ter negociado doação de R$ 6,5 milhões à campanha da reeleição dela. Othon Silva, presidente licenciado da Eletronuclear, foi preso ontem, sob suspeita de ter recebido propina.
Teles, fundos de pensão, Santo André, mensalão, BNDES, eletrolão e petrolão não são casos isolados. Eles compõem um escândalo só, investigado em Portugal, Suíça e EUA: é este Brasil de Lula e Dilma.