Forças Armadas da Venezuela ocupam armazéns privados
Principal alvo é fábrica de alimentos Polar, maior empresa do país; governo diz que pretende construir casas na área
Determinação para desocupar local em até 60 dias é 'arbitrária', afirma à Folha um dos diretores da Polar
SAMY ADGHIRNI - FSP
Em mais um ataque ao setor privado pelo governo da Venezuela, as Forças
Armadas ocupam desde quarta (29) à noite um complexo de armazéns usado
por empresas de alimentos em uma área industrial a oeste de Caracas.
O alvo principal da ação parece ser a Empresas Polar, maior grupo
privado do país, que produz de cerveja a farinha de milho usada nas
arepas, prato típico. Também foram ocupados prédios da Pepsi (sócia da
Polar), da Coca-Cola e da Nestlé.
O diretor de alimentos da Polar, Manuel Larrazábal, disse à Folha
que a ordem do governo, entregue por um juiz, determina a desocupação
dos armazéns em 60 dias e a expropriação do terreno, que é de outra
empresa.
Larrazábal chamou de "arbitrária" a justificativa do Executivo de querer erguer casas populares no local.
"Reconhecemos a necessidade de construir moradias, mas estes são
terrenos produtivos. A própria lei determina que só terrenos ociosos ou
abandonados podem ser ocupados para desenvolvimento urbano", disse, em
referência a decreto assinado em 2011 por Hugo Chávez.
"Não entendo o motivo de afetar estruturas industriais com tantas áreas
disponíveis na cidade", afirmou Larrazába, que pediu ao governo que
reconsidere a decisão.
Segundo o diretor, a medida ameaça o trabalho de 600 funcionários e 1.400 empregos indiretos.
Dezenas de trabalhadores protestaram no local para defender suas vagas, e a frase "não à expropriação" foi pintada nos muros.
Também houve manifestações de apoio à decisão por parte de simpatizantes
do governo contentes com a perspectiva de obter novas casas.
Críticos suspeitam que o governo esteja tomando medidas populistas antes
da eleição parlamentar de dezembro, na qual chega com baixa
popularidade.
Mas a ocupação e o futuro desmantelamento de um centro de distribuição,
de onde saem a cada mês 12 mil toneladas de alimentos para milhares de
lojas em 19 municípios, gera temores de acirramento da escassez na
região de Caracas.
'GUERRA ECONÔMICA'
Não havia declarações oficiais sobre o caso até a noite desta quinta.
Mas o presidente Nicolás Maduro costuma acusar Lorenzo Mendoza, dono da
Polar, de ser um dos "oligarcas" responsáveis pela suposta "guerra
econômica" travada pelo empresariado contra o modelo chavista.
Para Maduro, o mundo dos negócios privados conspira com a oposição e com
forças estrangeiras para ocultar estoques de alimentos e criar filas
propositalmente, com o intuito de jogar a população contra o seu
governo.
Empresários negam as acusações e dizem que a escassez e o
desabastecimento são resultado de políticas chavistas, como controle de
preços e câmbio e expropriações de empresas produtivas.
A operação de quarta-feira surge em meio a tensões sociais provocadas
pelo risco de fechamento de duas fábricas de cerveja da Polar devido à
dificuldade de importar matéria prima e insumos.
O tema causa nervosismo não só no meio sindical, mas em boa parte da população, que teme ficar sem cerveja.
O "Daily
Mail", tabloide conservador e segundo jornal mais lido do país, descreve
cenas aterrorizantes de turistas britânicos e caminhoneiros em Calais,
todos sentados "petrificados" em seus veículos fechados, de vidros
levantados, nos quais os imigrantes estariam tentando entrar
"descaradamente". Em Kent, do outro lado do Canal da Mancha, o tabloide,
adepto de expressões exageradas, descreve habitantes presos dentro de
suas próprias casas, por não conseguirem nem mesmo fazer trajetos curtos
por estradas lotadas de caminhões que não conseguiram pegar o túnel sob
a Mancha, que estaria "sitiado".
As autoridades britânicas, "que se recusam a criticar a França", tampouco são poupadas. O tabloide chega a arriscar, no título de um artigo de opinião publicado em suas páginas e em seu site, a seguinte pergunta: "Nós impedimos Hitler de entrar. Por que nossos pífios governantes não são capazes de conter alguns milhares de imigrantes exaustos?"
"Basta!", esbraveja o "Daily Mail", ordenando que as autoridades "parem de enrolar" e considerem a ideia de enviar o Exército britânico para reforçar a segurança em torno das fronteiras.
O tema também foi tratado pelo tabloide "The Sun", o jornal mais lido do Reino Unido, que elogia a sugestão de um delegado de polícia de Surrey, um condado que faz fronteira com Kent, de enviar soldados que possam "assegurar que nossa fronteira não seja violada". Um outro tabloide, o eurófobo "Daily Express", resume em um título: é preciso "enviar o Exército para conter a invasão dos imigrantes."
O jornal observa, por exemplo, que enviar reforços policiais a Calais, como anunciou na quarta-feira o ministro do Interior Bernard Cazeneuve, é uma resposta tardia. "De forma igualmente extraordinária", diz o "Daily Telegraph", Cazeneuve "escreveu para o Eurotunnel, uma empresa privada, aparentemente culpando a firma de não fazer o suficiente para proteger a entrada do túnel sob o Canal da Mancha." Só que "realizar a segurança das fronteiras franceses é trabalho do Estado francês", afirma o jornal, que acusa Paris de "fugir de suas responsabilidades" e de "transferir seus problemas para o Reino Unido". "Tal egoísmo nacional diante de uma crise de natureza internacional é simplesmente inaceitável", conclui o jornal.
O "Guardian" elogia o "pragmatismo" dos dois ministros do Interior, o francês Bernard Cazeneuve e a britânica Theresa May, que se encontraram na quarta-feira para falar sobre o assunto. "Não é um problema puramente britânico, assim como não é um problema puramente francês. É um problema coletivo, que deve ser resolvido de forma conjunta, com humanidade e firmeza", comenta o jornal, que conclui: "Nós precisamos de mais parcerias com a Europa e menos gesticulações."
Apelos ao exército britânico
Além disso, segundo o "Daily Mail", seria ainda pior: as férias pelo continente europeu, "planejadas há muito tempo, para as quais as famílias economizaram", haviam sido "arruinadas". Os culpados por esse desastre seriam ao mesmo tempo a Itália, "que zombou da UE ao ignorar as regras segundo as quais os imigrantes devem pedir asilo no primeiro país por onde entram", a Comissão Europeia, "que foi particularmente lamentável na aplicação de suas leis e protocolos", e também – e sobretudo – a França, "que desavergonhadamente envia imigrantes para o Reino Unido, sem coletar suas impressões digitais, e que depois de alguns minutos libera os clandestinos" que ela detém.As autoridades britânicas, "que se recusam a criticar a França", tampouco são poupadas. O tabloide chega a arriscar, no título de um artigo de opinião publicado em suas páginas e em seu site, a seguinte pergunta: "Nós impedimos Hitler de entrar. Por que nossos pífios governantes não são capazes de conter alguns milhares de imigrantes exaustos?"
"Basta!", esbraveja o "Daily Mail", ordenando que as autoridades "parem de enrolar" e considerem a ideia de enviar o Exército britânico para reforçar a segurança em torno das fronteiras.
O tema também foi tratado pelo tabloide "The Sun", o jornal mais lido do Reino Unido, que elogia a sugestão de um delegado de polícia de Surrey, um condado que faz fronteira com Kent, de enviar soldados que possam "assegurar que nossa fronteira não seja violada". Um outro tabloide, o eurófobo "Daily Express", resume em um título: é preciso "enviar o Exército para conter a invasão dos imigrantes."
Paris "está fugindo de suas responsabilidades"
O diário conservador "Daily Telegraph" se mostra (um pouco) mais moderado e reconhece que o afluxo de imigrantes, que fugiram "de nações arrasadas, como a Síria", são "problemas internacionais" e que "todos os países afetados têm um papel a exercer". Mas "alguns países são mais responsáveis por esses problemas do que outros" e "a maior parte dos erros cabem à França."O jornal observa, por exemplo, que enviar reforços policiais a Calais, como anunciou na quarta-feira o ministro do Interior Bernard Cazeneuve, é uma resposta tardia. "De forma igualmente extraordinária", diz o "Daily Telegraph", Cazeneuve "escreveu para o Eurotunnel, uma empresa privada, aparentemente culpando a firma de não fazer o suficiente para proteger a entrada do túnel sob o Canal da Mancha." Só que "realizar a segurança das fronteiras franceses é trabalho do Estado francês", afirma o jornal, que acusa Paris de "fugir de suas responsabilidades" e de "transferir seus problemas para o Reino Unido". "Tal egoísmo nacional diante de uma crise de natureza internacional é simplesmente inaceitável", conclui o jornal.
"Um problema coletivo que deve ser resolvido em conjunto"
O "Guardian", jornal de centro-esquerda, relativiza em grande parte todos esses pontos de vista e encara o tema como o resultado de uma crise mundial, e não a culpa de um país ou da União Europeia: "O problema dos imigrantes (...) provavelmente teria se tornado crítico independentemente de o Reino Unido estar na UE ou não, e de o túnel sob o Canal da Mancha existir ou não. As pressões migratórias que vêm da Síria ou da África subsaariana são uma realidade humana, elas não surgiram por causa de tratados europeus."O "Guardian" elogia o "pragmatismo" dos dois ministros do Interior, o francês Bernard Cazeneuve e a britânica Theresa May, que se encontraram na quarta-feira para falar sobre o assunto. "Não é um problema puramente britânico, assim como não é um problema puramente francês. É um problema coletivo, que deve ser resolvido de forma conjunta, com humanidade e firmeza", comenta o jornal, que conclui: "Nós precisamos de mais parcerias com a Europa e menos gesticulações."