terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Apagão
Vinícius Torres Freire - FSP
O Brasil está sem gás. Quer dizer, em 2015 ocorreu uma rara combinação de baixa no consumo de eletricidade e de combustíveis (diesel, gasolina, etanol). A última vez que ocorrera tal conjunção dos astros deprimida fora no ano do desastroso apagão de eletricidade de FHC, o racionamento.
Os dados sobre o consumo total de energia do país (da matriz energética) ainda vão demorar para sair. As baixas mais recentes no consumo total foram no breve colapso da recessão de 2009 e, antes, em 1995. O governo de Dilma Rousseff tem grandes chances de subir ao pódio do atraso mais uma vez.
No ano passado, o consumo de eletricidade caiu 2,1%. No apagão de 2001, baixou 7,9%. Nos dois casos, é possível dar um desconto, pois nesses dois anos uma parte menor da redução do consumo foi, por assim dizer, razoável. Gastava-se energia à toa em 2001, com equipamentos ineficientes ou até descaso, por exemplo. Em 2013 e 2014, a energia estava barata demais, devido à mágica demagógica do governo.
Nos 12 meses até novembro de 2015, o consumo de combustíveis baixava 1,6% em relação ao ano anterior. O consumo de gasolina caía 6,8%. De diesel, 4,4%. O aumento forte do consumo de etanol evitou queda maior no setor.
O caso mais deprimente de depressão elétrica é o da indústria. O consumo caiu 5,3% em 2015. Desde que Dilma Rousseff assumiu, o consumo de eletricidade da indústria baixou 5,5%. Ruim? Desde 2011, a produção da indústria baixou uns 11%. As fábricas estão produzindo no mesmo nível de 2005, se tanto. É mais que uma década perdida.
A lambança que o governo fez na energia ajudou a arrebentar a economia brasileira.
O governo, em especial o de Dilma Rousseff, tirou todos os preços do lugar. "Preço fora do lugar" e "errado" podem parecer expressões inócuas. Não são.
Preços errados ajudaram a arruinar a Petrobras e a indústria do álcool. Ajudaram a aumentar a dívida do governo, que subsidiava (bancava parte) o preço artificialmente baixo da energia elétrica. Desorganizaram vários mercados, ao dar indicações erradas de onde investir e do que comprar, além de causar desordem financeira e jurídica enorme no setor elétrico. O reajuste violento e surpreendente (para a maioria) do preço da energia ajudou a derrubar a confiança e o poder de consumo.
Sim, há e houve choques externos no custo da energia, como seca no Brasil e variações violentas do preço do petróleo. Porém, se as empresas estivessem mais arrumadas e se a Petrobras pudesse cuidar da vida, fosse mais livre de maluquices estatais, haveria como se ajustar de modo menos catastrófica a essas variações violentas do mercado.
Não se sabe muito bem qual é o padrão de consumo de energia. Além de a economia estar se ajustando aos preços corrigidos, não se sabe o que será da estrutura produtiva brasileira depois desta recessão horrenda.
A depender quais setores sobrarem mais inteiros, o consumo pode mudar. É improvável que o consumo residencial cresça tão rapidamente como nos anos 2004-2014, quando houve grande expansão do serviço de eletricidade (Luz para Todos, entre outros fatores) e de consumo de eletrodomésticos, devido à alta da renda.
O país ficou muito desconjuntado. 

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