quinta-feira, 18 de maio de 2017

De livrarias racistas até grávidas não serem mães: basta de novilíngua!
Ancorando-se em uma quadrilha filosófica cuja agenda é assaltar o patrimônio formador do nosso pensamento e adulterar a simbologia e as referências mais basilares que o estabeleceram, a variante mais inteligente e bem-sucedida da esquerda contemporânea aprendeu bem essa lição. Não há necessidade de um único grande centro diretor conspiratório para provocar esse fenômeno; ele resulta de anos de engenharia social aplicando a receita mais notável que George Orwell expôs em seu 1984: a novilíngua, ou novafala.
Antes de adulterar os demais signos culturais, o mais prioritário deles é provavelmente a língua. Aqueles que odeiam este mundo “capitalista ocidental do homem branco perverso” – mundo maligno que lhes possibilitou conquistas sem par como a liberdade efetiva de pensamento e expressão, e que é responsável número um por ensejar a alteridade que é acusado de eliminar – começam primeiro por deformar criminosamente sua gramática.
É assim que vemos cabeças supostamente pensantes começando a destroçar a riqueza e a cristalinidade de seu idioma, eliminando “o”s e “a”s para encher palavras de “x”s, a fim de combater “preconceitos de gênero” – prática que é uma verdadeira fábrica animalesca de idiotas a se multiplicarem em nossos meios universitários. É assim que vemos o “liberal”, aderente das conquistas clássicas representativas e garantidoras de autonomia, se tornar o “fascista”. É assim que o homem se torna mulher, ou vice-versa, bastando que nisso acredite; é assim que pessoas se tornam animais, bastando que isso as faça felizes. E se torna uma política de ação afirmativa forçar toda a sociedade civilizada a acreditar nesses delírios aberrantes, sob pena de estar destratando “o diferente”.
“Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força”. Esse o lema de Oceania, a fictícia distopia de Orwell, já tão exaustivamente referida. Agora, aparentemente, levar enriquecimento cultural às pessoas é racismo. Ao menos é o que sugere a jornalista Etiene Martins, fundadora do espaço Bantu, que vende livros no centro de Belo Horizonte. A livraria de Etiene tem uma característica particular, segundo reportagem do G1 publicada por ocasião do aniversário da abolição da escravatura: ela vende livros que representam “os negros”.
O leitor não se engana; é isso mesmo que ela diz: “é triste a gente ter que abrir uma livraria com essa temática”, porque, ela pensa, “a maior parte da população é negra e, mesmo assim, a maior parte das livrarias não tem livros que nos representam. Daí a importância desta iniciativa”. Os “negros”, entendidos como um grupo autônomo que deve ser encaixado irresistivelmente em uma espécie de manada – porque, para a novilíngua, “racista” é quem nega isso -, precisam ser “representados” nos livros.
Valha-me Deus! Uma livraria com obras de Sócrates, Platão, Descartes, Kant, ou com romances de Victor Hugo ou Dumas, não “representa” os negros. É preciso ter “cotas” para eles em livrarias também, para que, digamos, haja autores negros, ou livros sobre a África, em quantidades proporcionais? Um José do Patrocínio ou um mulato como Machado de Assis não são “representantes” aceitáveis? Por outra: uma livraria agora precisa promover uma “votação” para que cada grupo que se considere uma distinção relevante tenha uma “representação”? Livrarias são assembleias legislativas?
Por outra ainda: não pode haver “negros” existencialistas, positivistas, iluministas, católicos, espíritas ou tutti quanti? Não há literatura nas nossas livrarias sobre Umbanda, Candomblé, Espiritismo, Catolicismo, ou qualquer coisa que se queira ler? Diante de tamanha diversidade, que significaria “representar” os “negros”? Há uma literatura específica para negros, e uma específica para brancos? Inauguraremos agora o apartheid literário?
Além desse caso explícito de “racismo antirracista”, recordo, logo em seguida ao Dia das Mães, abominação que circulou no algo distante fevereiro deste ano, replicada no site do Instituto Liberal de São Paulo: a estultice da Associação Médica Britânica, segundo a qual devemos usar uma “linguagem inclusiva” no local de trabalho, evitando falar em “mãe expectante” em referência a gestantes, que devem ser chamadas de “pessoas grávidas” para respeitar os pacientes transexuais (?). O ILISP destaca este trecho do manual: “A ampla maioria das pessoas que ficam grávidas ou deram à luz se identificam como mulheres. Mas devemos incluir transexuais que podem ter uma gravidez usando o termo ‘pessoas grávidas’ ao invés de ‘mãe expectante’”.
O leitor vai me perdoar, mas que car…!!! Os seres humanos normais estão ficando sem recursos vocabulares para reagir adequadamente a essa gramática de malucos que estão inventando. A imaginação doentia dessa gente, substituindo-se à “imaginação moral” de que falava Irving Babbitt, está obliterando até mesmo a possibilidade de entendimento mútuo. É quase como se eles estivessem fabricando outra espécie, um outro mundo – algo muito mais “revolucionário”, portanto, como diz Olavo, do que a Revolução Americana ou a Revolução de 30, por exemplo.
Nem mesmo a santa imagem da mãe escapa de seus delírios. A genitora, a raiz de nossas vidas, ícone de afeto e candura; na aventura de acalentar o ser humano no ventre, sob os imperativos inamovíveis da Biologia, ela e toda a civilização que se perpetua graças à sua fecundidade se devem negar o emprego do sublime rótulo “mãe”.
Não sei onde irá parar tamanho monturo de sandices. Sei que precisamos assumir a coragem de que Chesterton falava e nos recusar a aderir a tais modismos avassaladores. Basta de novilíngua! Eu falo português e vivo no planeta Terra.

Nenhum comentário: