terça-feira, 20 de junho de 2017

Enterrar a Unasul
Entidade é o produto de momento particular, que desapareceu. Hoje, é um corpo que reivindica um enterro piedoso
Rodrigo Botero Montoya - O Globo
Quando uma organização internacional perdeu a sua razão de ser, não faz sentido prolongar a sua existência. Deve-se acabar com ela de uma forma ordenada, o mais rapidamente possível. Esse é o caso da Unasul, entidade cujas premissas fundadoras deixaram de existir.
A Unasul surgiu como uma iniciativa para promover a revolução bolivariana por meio de um fórum regional em tempos de boom do petróleo, quando a proximidade ideológica de Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner permitia a Hugo Chávez se referir ao eixo Caracas-Brasília-Buenos Aires. Além de servir como um instrumento de propaganda política do regime venezuelano, a Unasul tinha dois propósitos geopolíticos: excluir o México da região e enfraquecer a OEA. As três premissas ajudaram a promover o projeto antiamericano de Hugo Chávez, apoiado pelos governos do PT no Brasil e Kirchner na Argentina. A Unasul é o produto de um momento histórico particular, que desapareceu. Hoje, é um corpo que reivindica um enterro piedoso.
O regime venezuelano tornou-se um pária internacional — excluído do Mercosul e condenado pela União Europeia, as Nações Unidas e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Caso a crise venezuelana seja discutida na Unasul, é improvável que o regime de Nicolás Maduro tenha um apoio significativo.
A OEA foi reforçada como fórum hemisférico, com a atitude corajosa e o protagonismo de Luis Almagro, o secretário-geral. O México tem afirmado a sua legitimidade na América Latina e seu compromisso com os valores democráticos através de uma ação determinada do chanceler Luis Videgaray. Além disso, o que está acontecendo na Venezuela é um problema de dimensões hemisféricas, que não cabe ser tratado em um fórum de dimensão geográfica restrita e sem credibilidade. O regime de Maduro se degradou de tal maneira que não é mais percebido como um governo com um verniz de normalidade. Tem as características de um grupo criminoso. Sua resposta às demandas populares é o uso indiscriminado de violência. Seus líderes estão marcados pela comunidade internacional por causa dos crimes contra civis. Sua política externa foi reduzida a tentar comprar apoio em troca de subsídios do petróleo e a insultar governantes regionais que exigem a libertação dos presos políticos. O colapso econômico levou a Venezuela à beira da insolvência.
A prova de força que está sendo presenciada nas ruas de Caracas e outras cidades tem origem na tentativa do regime de se perpetuar em uma estrutura totalitária, através da repressão sem inibição. O papel que as nações amigas da Venezuela e da comunidade interamericana podem desempenhar é apoiar as forças democráticas que lutam para impedir essa tentativa, para abrir o caminho rumo a um governo de transição. O cumprimento desta tarefa, com responsabilidade e de forma consistente, requer partir da premissa de que a intervenção da Unasul, além de ser um obstáculo, é contraproducente.

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