Qual a melhor maneira de combater o politicamente correto?
Sergio de Mello - IL
Existem preconceitos e “preconceitos” que nada mais são do que
manifestações tradicionais de formas diferentes de pensar e, por isso,
não são aceitas pelo politicamente correto e por sua patrulha política.
Então, o que o grupelho de esquerda intenta em atacar, chamando de
preconceito (o que não é), são as tradições e os costumes que guardamos
dentro do coração durante anos e anos. Só se guarda uma coisa que dura
para sempre dentro do coração e não só na mente.
Isso está tão arraigado na cultura, na mente e no coração de
incautos, que toda a frente de batalha em ataque na forma de
contracultura parece ser preconceito, quando, na verdade, não o é. É
pura forma de pensar diferente, mas que grupos hedonistas e seus
partidos políticos ou segmentos mais ou menos organizados reprimem como
se fosse preconceito.
O preconceito, então, considerado como tradição, cultura almática
(que está no coração humano) e costume humano aceito largamente e de
forma universal, torna-se instrumento de trabalho, em forma de captação
de mentes e de ataque dos modernos e progressistas. O outro torna-se
preconceituoso quando rebate condutas e pensamentos de um senso comum.
Hoje em dia não mais se questiona o que se pensa ou o como se age. As
nossas diferentes formas de pensar e de agir foram moldadas por grupos
específicos politicamente corretos, que nos deram uma recomendação muito
sutil para agirmos de certa forma automática. Criou-se a cultura do
politicamente correto, que dá um requinte de humano a tudo que vem dela,
enquanto os outros são taxados de desumanos e agentes de verdadeiros
crimes contra a humanidade. Reverter esse quadro agora é muito difícil,
converter esse diagnóstico mortal de nossa civilização é complicado.
Isso porque quando se contraria o que está estabelecido culturalmente,
mesmo que essa cultura possa ser tida como contrária à nossa lei do
certo e do errado, implica em trabalhar dobrado e isso cansa muito
diante da resistência cultural contra adversários desumanos e tidos como
preconceituosos.
É perceptível que os preconceituosos são assim considerados porque
parecem subverter a cultura humanitária estabelecida. Por exemplo, falar
contra o Estado de bem-estar social, que defende pessoas necessitadas,
transferência de renda através dos benefícios previdenciários ou doações
como bolsa-família, parece vir de pessoas sem coração ou desalmadas.
Essa impressão ainda fica mesmo que o adversário esteja vendo as coisas
de um outro jeito. Mesmo que ele queira, por exemplo, que o Estado deixe
as pessoas pensarem mais e utilizarem todo o seu potencial para saírem
da vida em que se encontram. Está tentando ajudar. Não é contra pobres,
pessoas necessitadas, humildes e fracos. Aliás, fracos são os que
propagam essa cultura desumana em quem precisa de força para superar a
dor da vida.
O bom samaritano vira o mentor verdadeiro e aquele que tem a chave
para uma vida melhor é visto como preconceituoso. Os conceitos se
invertem, numa jogada traiçoeira do politicamente correto para minar os
contrários e manter o poder e a cultura estabelecida.
Semana passada escrevi sobre o preconceito. Escrevi o que Theodore
Dalrymple deixou magistralmente expresso em sua obra “Em defesa do
preconceito: a necessidade de se ter idéias preconcebidas”. No entanto, o
que se quer defender, na verdade, é que não se deve ter preconceito
contra o preconceito, assim entendido o direito de pensar diferente. Não
permitir isso é ser preconceituoso mesmo que você pareça um bom
samaritano.
Nos tempos de hoje, o moderno é não ser racista, homofóbico, sexista,
machista, etc. Concordo plenamente. Existem grupos que se dizem
defensores de uma cultura cristã autêntica mas que agem de forma
inversa. Ora, a cultura cristã (vamos falar de cultura, não de religião,
para não atrapalhar o raciocínio) é verdadeiramente acolhedora e não
desagregadora. Existe muita coisa defendida que, à primeira vista,
parece ser de cunho homofóbico, racista, etc., mas não o é. Só que os
verdadeiros preconceituosos não entendem isso, daí vindo o problema do
mal entendido e da própria cultura do preconceito.
Voltando a Theodore Dalrymple, na sua obra acima citada, o famoso
escritor tenta explicar todo esse mal entendido criado pelo
politicamente correto contra os chamados preconceituosos, geralmente
conservadores ou reacionários. Estes são tidos como verdadeiros hereges.
Isso não deixa de ser verdade.
No ensaio “Preconceito necessário para a vida em família”, o que se
quer preservar são valores universais que carregamos no coração de
tempos longínquos de existência humana. O sentar juntos à mesa acabou
cedendo espaço para uma forma individualizada e moderna de partilhar o
pão. Moderna mas não evoluída, diga-se de passagem. Forma destrutiva e
desagregadora, já que contrária à natureza. Casamentos mal sucedidos e
filhos bastardos fizeram surgir um tipo de preconceito baseado na livre
escolha familiar. A falta de entendimento (para dizer o menos) a
respeito das contingências e da imperfeição humana fez surgir formas de
ser relacionar instáveis e líquidas, temporárias.
Um preconceito sempre será substituído por outro, de ordem inversa.
Assim, uma tradição ou pensamento de que ter um filho fora do casamento é
preconceituoso está sendo substituído por outro completamente
contrário, o de que ter um filho fora do casamento e sem pai conhecido
virou moda e quem assim age é moderno.
Estamos vivendo na era da liberdade de opinião. Não precisamos ser
inteligentes (apenas ter sensibilidade) para perceber o quão difícil é
travar uma conversa ou um diálogo adulto com aqueles que se sentem
filósofos ou “inteligentinhos”. Os caras têm opinião para tudo e sabem
de tudo. Impressionante! Universitários, então, nem se fala. Perderam o
senso de hierarquia em sala de aula, esquecendo-se de que o professor
possui mais horas de estudo do que eles, geralmente mais idade,
portanto, mais experiência. Mas não. O que importa hoje é ter uma
opinião original. E as opiniões se equivalem pouco importando quem são
os contrários que estão debatendo.
A Constituição Federal dá o direito de manifestação responsável de
consciência e de crença. Eu disse responsável. O que vem após isso passa
a poder ser considerada crime. Por outro lado, o direito de
manifestação de uma contracultura é um direito sagrado e natural, faz
parte do ser humano. Negar isso é negar que a pessoa humana tem sua
dignidade. Negar isso é negar direitos humanos.
Rodrigo Constantino disse em vídeo que a cultura fascista está
impregnada como sendo de direita e não de esquerda. Lutar contra essa
postura politicamente correta e cultura do senso comum faz dos
conservadores e liberais fascistas, os inimigos mortais, os hereges.
Esse tipo de cultura maniqueísta impede o livre pensar e a liberdade de
discussão numa sociedade que se diz pluralista. Apenas xingar e
violentar os contrários é que faz supor prática fascista, e não o
contrário, que é a vontade de dialogar e conservar a civilização. Tal
cultura de extermínio implica em religião disfarçada de política ou
cultura.
Com certeza não é racismo, homofobia, machismo, sexismo, misoginia,
entre tantos outros instrumentos ou chavões criados pela cultura
politicamente correta em prol de sua moral superior. Então o que é? É,
de forma pura, o direito de pensar e de manifestar diferente, em defesa
da tradição e do costume.
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