Incapaz de garantir segurança, Rio libera o 'salve-se quem puder'
Marco Aurélio Canônico - FSP
"Nós perdemos completamente o controle da segurança pública no Rio,
ninguém consegue mais se locomover com tranquilidade", escreveu Rodrigo
Maia nas redes sociais, na terça (18). A constatação do presidente da
Câmara vem com meses de atraso, mas é correta.
Incapaz de prover segurança, o poder público cada vez mais transfere aos
cidadãos a responsabilidade por sua própria defesa contra a violência.
Um exemplo disso é a lei municipal promulgada na semana passada que
permite a conjuntos residenciais restringir o acesso de carros e de
pedestres às ruas nas quais estão instalados.
A presença de cancelas e guaritas nas entradas de condomínios de prédios
ou de casas não é novidade. Nova é a permissão para proibir que
"veículos estranhos aos moradores" tenham acesso às vias públicas.
Pessoas também podem ser barradas entre 22h e 7h. Um bairro inteiro do
Rio -Vila Kosmos, na zona norte- já se transformou numa fortaleza.
Outra lei recente que tem espírito semelhante -"já que eu não consigo te
proteger, eis a autorização para você se virar"- é a que proíbe o uso
de radares de velocidade em "áreas de risco". Como os motoristas vinham
sendo assaltados quando desaceleravam perto dos "pardais", o governo
decidiu liberar a correria. É mesmo mais fácil do que policiar as ruas, e
danem-se os pedestres, ciclistas e o Código Nacional de Trânsito.
De modo inconsequente, mas coerente, a lei não define quais são as
"áreas de risco". Dado o estado atual das coisas, os motoristas podem
sentir-se plenamente autorizados a correr na cidade toda, a qualquer
hora.
Ambas as leis encontram apoio numa vasta parcela da população
amedrontada, que parece não perceber que está abrindo mão de receber a
segurança pública a que tem direito -assim como já desistiu da saúde e
da educação.
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