quarta-feira, 26 de julho de 2017

A Europa oriental escolhe a Civilização  ocidental  
 
O povo polonês recebeu Donald Trump de forma calorosa. 
Em um discurso histórico diante de uma exultante multidão polonesa, precedendo o início da reunião dos líderes da Cúpula do G20, o presidente dos EUA, Donald Trump descreveu a luta do Ocidente contra o “terrorismo islâmico radical” como forma de proteger “nossa civilização e nosso modo de vida”. Trump perguntou se o Ocidente tinha a determinação de sobreviver:
“Temos a necessária convicção de nossos valores a ponto de defendê-los a qualquer custo? Temos o devido respeito pelos nossos cidadãos a ponto de proteger nossas fronteiras? Temos o desejo e a coragem suficientes de defender a nossa civilização diante dos que querem subvertê-la e destruí-la?”
A pergunta de Trump poderá ressoar na Europa Oriental, lugar escolhido por ele para proferir seu eloquente discurso.
Depois que um homem-bomba assassinou 22 pessoas na saída de um show em Manchester, incluindo dois poloneses, a primeira-ministra da Polônia, Beata Szydło, destacou que a Polônia não seria “chantageada” a aceitar milhares de refugiados segundo as diretrizes do sistema de quotas da União Europeia. Ela urgiu os legisladores poloneses no sentido de protegerem o país e a Europa dos flagelos do terrorismo islâmico e do suicídio cultural:
“Europa, para onde você está indo? Levantem-se dos joelhos e da letargia ou vocês irão chorar todos os dias a morte de seus filhos.
Dias mais tarde, a União Europeia anunciou que começaria os procedimentos com o intuito de punir a Polônia, Hungria e República Checa por se recusarem a aceitar migrantes conforme a determinação de um programa criado pela Comissão Europeia em 2015.
Após o discurso de Szydło, Zoltan Balog, Ministro de Recursos Humanos da Hungria, declarou:
“O Islã é uma cultura e uma religião de grande importância, que devemos respeitar, mas a Europa tem uma identidade diferente e é indubitável que as duas culturas não têm condições de coexistir sem conflitos… A maior diferença é que na Europa, política e religião são separadas uma da outra, mas no caso do Islã é a religião que rege a política”.
É por esta razão que Viktor Orban foi tachado de “inimigo interno da Europa” — porque ele disse com todas as letras, para não deixar dúvidas, o que o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, jamais dirá: “devemos manter a Europa cristã“.
Os discursos proferidos pelas autoridades de Visegrad – grupo europeu formado pela República Tcheca, Polônia, Hungria e Eslováquia – são apenas dois exemplos das profundas divisões ideológicas entre os países da Europa Ocidental e os da Europa Central e Oriental.
Há uma acentuada propensão dos líderes de Visegrad em retratar o Islã como uma ameaça civilizacional à Europa cristã. Se de um lado a Europa Ocidental tem se distanciado drasticamente pela opinião pública e severamente restringida pelas leis da UE, na Europa Oriental as mais recentes pesquisas de opinião revelam que o cristianismo continua tão robusto e patriótico como sempre. É por isso que Trump chamou a Polônia de “nação devota“. É por isso que as revistas católicas dos EUA perguntam abertamente se há um “despertar cristão” na Europa Oriental. A Eslováquia aprovou uma lei para evitar que o Islã se torne uma religião estatal oficial.
Para começar, esses países da Europa Central e Europa Oriental estão cônscios que o multiculturalismo da Europa Ocidental tem sido a receita para os ataques terroristas. Conforme observa Ed West do The Spectator:
“Não são todos os países da Europa. A Europa Central, principalmente a Polônia, Hungria e a República Checa, permanecem em grande medida salvos da ameaça terrorista, apesar da Polônia, mais especificamente, ser um ator da OTAN no Oriente Médio. É precisamente pelo fato das razões para isso serem tão óbvias, é que não se pode mencioná-las. A percentagem muçulmana da Polônia representa 0,1% da população, cujo maioria pertence a uma comunidade tártara estabelecida há muito tempo, a da Grã-Bretanha é 5%, da França 9% e de Bruxelas 25%, sendo que essas cifras estão em franco crescimento”.
O que é, supostamente, “óbvio” é que a Polônia e a Hungria não são atingidas por ataques terroristas islâmicos porque estes países têm pouquíssimos muçulmanos, ao passo que na Bélgica e no Reino Unido acontece o inverso. Provavelmente a Europa estaria mais segura se tivesse seguido o exemplo da Europa Oriental.
A Europa Oriental mostra maior entendimento da cultura ocidental do que a própria Europa Ocidental. Esses países do leste também têm sido bem mais generosos à OTAN, baluarte de sua independência e segurança. A cultura e a segurança andam de mãos dadas: se você levar a sério a sua própria cultura e civilização, você estará disposto a defendê-las.
Um breve olhar para os dispêndios militares dos membros da OTAN em relação ao PIB mostra que a Polônia cumpre com sua obrigação de pagar 2% do Produto Interno Bruto, diferentemente de todos os países da Europa Ocidental. Apenas cinco dos 28 membros da OTAN – os EUA, Grécia, Polônia, Estônia e Reino Unido – contribuem com os 2%. E a França? E a Bélgica? E a Alemanha? E a Holanda?
“Ao contrário da maioria de seus pares da OTAN e da Europa”, Agnia Grigas, membro sênior do Atlantic Council, esclareceu: “a Polônia tem ao longo das duas últimas décadas visto a defesa como uma questão prioritária e, como resultado, emerge lenta e de forma contínua como bastião da segurança europeia”. A Polônia – diferentemente da Bélgica, Itália e outros países europeus – não é um “penetra” e sim um parceiro confiável, aliado dos EUA. A Polônia mostrou lealdade aos Estados Unidos, tanto no Afeganistão como no Iraque, onde suas tropas lutaram contra os talibãs, além de ajudarem a derrubar Saddam Hussein.
Não é por acaso que o presidente Trump escolheu a Polônia, um país que lutou contra o nazismo e o comunismo, para conclamar o Ocidente a mostrar um tantinho de disposição em sua luta existencial contra o novo totalitarismo: o Islã radical.
“O Ocidente continuará desfrutando da vantagem militar por um bom tempo ainda, mas possuir armas é uma coisa, estar disposto a usá-las é outra coisa totalmente diferente”, assinalou William Kilpatrick, professor do Boston College. “O Ocidente é forte militarmente, mas fraco ideologicamente. Falta-lhe confiança civilizacional”.
É por esta razão que é crucial que a Europa Oriental continue a ser uma voz forte de dissidência ao projeto da UE. Ela poderia prover a confiança cultural que falta, tão acentuadamente, aos burocratas europeus – falta esta cujo custo é a própria Europa.


Giulio Meotti, editor cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.
Publicado no site do Gatestone Institute – https://pt.gatestoneinstitute.org
Tradução: Joseph Skilnik

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