A eleição interminável
Cláudio Couto - OESP
Fiel que sou à crença de que uma eleição
começa quando a outra termina, já olhava para a frente e me preparava
para tratar de 2018 nesta última coluna de minha contribuição para o
Estado durante as eleições de 2014. A meu ver, merecia atenção neste
momento a já iniciada disputa interna ao PSDB pela próxima candidatura
presidencial do partido.
Aécio Neves saiu do pleito como o mais bem sucedido candidato
presidencial tucano depois de FHC, perdendo para Dilma Rousseff por
margem apertada. Isto, em princípio, poderia torná-lo o postulante
natural em 2018 - beneficiado não só pelo bom desempenho em si, mas
também pelo recall. Contudo, tinha o calcanhar de Aquiles das três
derrotas em Minas Gerais - as duas suas, nos dois turnos, e a de seu
candidato a governador, definitiva já no primeiro escrutínio. Ademais,
sua melhor votação foi na terra de seus adversários internos - os
tucanos paulistas. Estes já se apresentavam como donos do caminhão de
votos despejados na candidatura de Aécio, podendo reivindicar a
paternidade do bom resultado do candidato e, consequentemente, a
postulação presidencial do partido em 2018. Esta é almejada
principalmente por Alckmin; claro, desde que o caminhão de votos não
vire um carro-pipa.
Tive, contudo, de rever os planos do artigo, surpreendido pela decisão
do PSDB de requerer (nos termos de nota do partido) uma "auditoria
especial" para fiscalizar os "sistemas de todo o processo eleitoral,
iniciando-se com a captação do sufrágio, até a final conclusão da
totalização dos votos". Ainda segundo essa nota, a motivação para o
questionamento seriam denúncias feitas por "todos os cantos deste país",
já durante a apuração "sobre fatos ocorridos durante a votação,
principalmente com relação à própria totalização dos votos". Ou seja, o
partido se deixou pautar pela boataria das redes sociais.
O fato é grave, sobretudo se considerarmos o naipe das teorias
conspiratórias que circulam pelas redes. Vale mencionar um exemplo
importante, da noite de sábado anterior ao 2.º turno. Virou febre entre
internautas apoiadores da candidatura tucana a difusão da "notícia" de
que o doleiro Alberto Youssef havia sido envenenado, com direito até
mesmo a reprodução de uma mensagem de texto de suposto médico
plantonista no hospital em que o delator foi internado. Como ficou
evidente pouco depois, isso não passava de boato irresponsável - tão
irresponsável que, receosos, alguns dos que o difundiram decidiram
apagar suas postagens.
Levar tais bochichos conspiratórios a sério, a ponto de suscitar um
questionamento da lisura do pleito, faz o PSDB enveredar por caminho
preocupante. Primeiramente, por alimentar apreensões sobre o
funcionamento de nossas instituições eleitorais, contribuindo para
fomentar o que uma colega cientista política definiu como um clima de
incerteza institucional. Em segundo lugar, por referendar as teorias
conspiratórias de internet. Ironicamente, nesta mesma semana, o senador
Aloysio Nunes, vice de Aécio, vituperava da tribuna do Senado contra o
que denominou "um esgoto" das redes sociais, operado por "canalhas".
Como agora, então, dar crédito aos delírios que se difundem por ali?
Houvesse fatos concretos que possibilitassem questionar de maneira séria
o processo de votação, o cômputo dos votos, a transmissão dos dados,
etc., seria até mesmo um dever do partido vencido requisitar uma
auditoria. Sem que haja isso, ao fazer tal questionamento com base em
teorias da conspiração, o PSDB lança dúvidas sérias apenas sobre si
mesmo, vestindo a carapuça do mau perdedor. É uma maneira ineficaz de
começar a preparação para 2018, tendo o condão apenas de tornar
interminável uma eleição em que, de qualquer forma, o partido já foi
derrotado.
Agradecimento. Encerro aqui minha contribuição para o Estado nestas
eleições. Agradeço ao jornal e aos leitores pela oportunidade do debate.
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